quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O belo Garrel

Mon dieu, que homem é esse???

Enquanto Rê vive sua história de amor com Gael, não posso me furtar a prestar um tributo – um tanto quanto tardio, admito – ao belíssimo Louis Garrel. Fui arrebatada por sua beleza andrógena e sua presença estonteantemente masculina em A bela Junie. Não fosse pelo título em português, ficaria evidente que La belle personne se aplica tanto à lindíssima Léa Seydoux quanto a ele.

Minha cinéfila e exigente amiga Marina tenta me convencer de que o filme é fraquinho – insiste que eu devo assistir aos outros de Honoré para confirmar essa verdade incontestável. Enquanto busco justificativas racionais para a minha aparentemente irracional “facilidade” com relação a livros e filmes (leia-se: “sou facinha”), me rendo à óbvia constatação de que a beleza, pura e simples, pode ser apaixonante. Certamente não foi esse o único motivo pelo qual Honoré me ganhou – cheguei a confessar, e não foi apelação, que ainda me identifico com alguma coisa do desespero adolescente –, mas ao acender das luzes do cinema a sensação física do arrebatamento por Léa e Garrel ainda permanecia.

Curiosamente, contrariando minha própria tese de que se trata de uma beleza involuntária, natural e imanente, descubro que já havia trombado com Garrel em outras telas, sem que ele houvesse sequer alterado meus batimentos cardíacos. Também foi assim com Jude Law. Para dizer a verdade, só prestei a devida atenção nele em Closer à segunda vista, depois de tê-lo descoberto, estonteantemente belo, em O amor não tira férias (momento TSC: vi o filme duas vezes no cinema em uma mesma semana, só para prolongar a “sensação física do arrebatamento por Jude”). Devo supor, então, que algo do ar perdido e obstinado de Nermous e do olhar frágil e doce de Graham capturou minhas retinas. E mais não suponho, porque a beleza é para ser admirada e reverenciada, e não dissecada ou entendida.

Garrel, minha nova paixão, meu novo muso: a você, minhas sinceras e despudoradas homenagens.

***

Além das homenagens aos musos, eu e Rê temos agora mais alguma coisa em comum: passei dos trinta... Bem, falemos de Garrel?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pontes

Há coisa de um ou dois anos, uma amiga passou a me emprestar livros. Graças a ela conheci Somerset Maugham, desvendei a história de amor de Sartre e Beauvoir, descobri como ser legal com Nick Hornby, me esbaldei com mais um best-seller de Marian Keyes, entre outros.

Na sétima série a emprestadora de livros foi a minha melhor amiga, mas hoje nos vemos de forma bastante esporádica – a cada dois ou três meses, se muito. Já chegamos a ficar mais de quatro anos sem nos falar. Mas, desde que retomamos o contato, a cada vez que marcamos um novo encontro, ela invariavelmente anuncia: estou com um livro para te emprestar.

Sinto uma coceira boa quando ela me diz isso. Além do prazer certo da leitura, há algo de lisonjeiro em saber que alguém pensou em você ao ler um livro. Não?

Enquanto me entrego à viagem da leitura propriamente dita, um pensamento me acompanha ao longo das páginas e capítulos: qual terá sido o momento exato em que ela pensou “tenho certeza de que a Cris vai adorar ler isso!”? No fundo, como os meus pré-requisitos de leitura são mínimos e o meu gosto é muito eclético, pode ser que ela não tenha pensado em absolutamente nada, a não ser na grande probabilidade de uma apreciadora de livros se interessar por um livro que ela considerou bom. Mas prefiro namorar a outra hipótese. A de que há algo de muito particular, de muito especial em cada livro que faz com que ela pense em mim, e só em mim, e que isso torne o momento de empréstimo do livro algo também único e especial.

Mais inspiradora do que a minha fantasia sobre a decisão dela de partilhar a leitura comigo, no entanto, são as minhas elucubrações a respeito das páginas que ela deixa marcadas em cada livro. Quando li o primeiro, Servidão humana, de Somerset Maugham, demorei algumas páginas para perceber que as pontinhas não estavam dobradas ao acaso. Ao comentar sobre isso com minha amiga, tive de confessar também que desavisadamente eu desmarcara quase todas... Mas me comprometi a recuperá-las, uma a uma.

E foi assim, buscando restos de vincos em pontas de páginas de um livro, que descobri esse novo prazer. O prazer de, ao deparar com uma página marcada, garimpar o trecho – parágrafo, frase, palavra exata – que a houvesse inspirado. É um prazer um tanto vouyerístico. Chega a ser quase pornográfico penetrar assim na intimidade de alguém – embora, se ela não desmarcou as pontinhas antes de me emprestar o livro, tecnicamente eu não esteja fazendo nada de errado. Posso até pensar que seja um jogo que ela me propõe: deixa pistas para que eu descubra o que a toca, move, inspira, choca, seduz, liberta. E, eventualmente, sinta o mesmo.

Em meio às páginas dobradas de Nick Hornby, gasto alguns minutos relendo várias vezes um mesmo parágrafo. É um desses momentos soco-no-estômago, que revelam com crueza uma faceta nada glamourosa da vida, mas nem por isso menos merecedora de uma homenagem literária.

“Subitamente, sinto-me sem esperanças, como sempre nos sentimos quando escolhemos uma entre duas alternativas. Tenho vontade de voltar àquele outro momento, dez segundos atrás, em que eu não sabia o que fazer. Pois o negócio é o seguinte: para uma pessoa metida numa encrenca como a minha, o casamento vira uma faca cravada na barriga, e a pessoa sabe que a encrenca será grande seja qual for a decisão. Ninguém pergunta a uma pessoa com uma faca cravada na barriga o que a deixaria feliz; sua felicidade não está mais em questão. É sua sobrevivência que interessa: a pessoa arranca a faca e sangra até morrer, ou deixa-a cravada na esperança de dar sorte e a faca estar na verdade estancando o sangramento?”

Fecho o livro por alguns minutos, meditando com reverência sobre essas palavras. Algo me diz que acabo de fazer uma descoberta importante. E de fato fiz.

Descobri que pouco importa, na verdade, se localizei ou não o trecho certo. Importa a ponte que uma pontinha dobrada na página de um livro construiu entre ela e mim. Importa a ponte que eu construí para dentro de mim mesma. Sem pontes como essas, no fim das contas, só o que se faz é sobreviver estancando o sangramento com uma faca cravada na barriga.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Vertigem

De um lado, mulheres descabeladas insistem em dizer que não entendem, não entendem a mente masculina. De outro, homens resignados apenas se calam; jamais tiveram a pretensão de compreender os intricados mecanismos que regem a mente feminina.

Sabedores do seu compromisso para com a Ciência e da necessidade de perseguir a verdade dos fatos de forma imparcial e rigorosa, no afã de melhor compreender mais esta faceta da insolúvel querela entre os de Marte e as de Vênus, o Instituto Mulher Solteira de Pesquisas Avançadas em Sobrevivência na Selva dos Solteiros e o Centro de Estudos Anexos dos Esportes Radicais de Compreensão da Mente Masculina decidiram empreender um novo experimento científico: monitorar a cabeça de uma mulher solteira, linda, jovem, inteligente, independente, bem resolvida, serena, segura e natural durante o desenrolar de uma paquera na balada, assim como as quarenta e oito horas subsequentes. Os dados obtidos por nossos cientistas, submetidos a técnicas avançadas de análise qualitativa, levam a resultados surpreendentes. Ou nem tanto. Confira-os a seguir.

00h23
Hum, até que tem uns gatinhos por aqui...
00h40
Pãããããtz, acho que aqueles dois baixinhos tão vindo puxar papo comigo...
00h41
Pelamor, será possível que esses tampinhas insistem sempre na mesma abordagem? Assim que der, vou vazar daqui!
00h42
Tá, consertou... Mas pelamor!
00h45
Vá lá, não custa nada ser simpática... Vou dar uma colher de chá. Eles têm cinco minutos.
00h54
Sou mesmo muito benevolente... Só eu para dar mole para esse baixinho!
01h12
Até que o cara tem bom papo... Mas não vou beijar, não.
01h53
É... Até que ele é gatinho... Apesar de ser mais novo, mais baixo e mais saradão do que eu gostaria.
01h54
... Será que eu beijo?
01h57
Pããããtz, podia ter passado sem esse comentário... Mas vá lá, vamos abstrair.
01h55
Ah, agora ele falou direitinho...
01h57
Tá bom, vai... Vamos ver qualé a desse beijo...
02h02
Hum... Beijo bom...
02h03
Nossa, ele é bem gatinho, hein... E gostoso!
02h45
Hum, será que ele vai pedir o meu telefone?
02h54
Com certeza ele vai pedir meu telefone! Será que eu dou?
03h23
Meu! Ele não vai pedir o meu telefone???
03h41
Será que eu vou querer sair com ele de novo?
03h59
Lógico que eu vou querer sair com ele de novo! Ele é uma gracinha!!!
5h58
Ai, ai... Vou dormir pensando nele hoje...
12h27
É, até que o gatinho era bacana... Ia ser legal encontrar com ele de novo.
14h23
Será que ele vai me ligar?
14h24
Será que ele vai me ligar?
14h25
Será que ele vai me ligar?
16h34
Será que ele vai me ligar?
18h42
Não vou contar pra ninguém essa história. Não quero criar nenhuma expectativa...
19h02
Não vejo a hora de contar pras meninas amanhã!
19h27
Meu! Será que ele não vai me ligar???
23h25
Lógico que ele não vai ligar hoje. Vai ligar amanhã.
00h45
Meu! Não acredito que ele não vai me ligar!!!
11h33
Caramba... Se ele não me ligar hoje, vou ligar pra ele.
14h29
E esse telefone que não toca...
15h32
Será que o telefone desligou sozinho?
16h14
Meu... E se ele for o homem da minha vida?
17h23
Ele era tão lindo... Nunca mais vou conhecer um homem tão especial como ele...