Daquele dia pouco ou nada me restou na lembrança, a não ser suas palavras exatas e certa inflexão de voz, acompanhada de uma expressão que me era tão familiar. Um leve erguer de sobrancelhas, um sorriso maroto e silencioso, um olhar cúmplice e provocador.
Por uma ou outra razão, Vovó quis falar sobre meus pés. E, mistério profundo, referiu-se a eles como “pés de anjo”.
Por uma ou outra razão, Vovó quis falar sobre meus pés. E, mistério profundo, referiu-se a eles como “pés de anjo”.
Reagi imediatamente, com espanto e desconforto, rejeitando o que temia pressentir em sua voz como uma condescendência excessiva, vergonhosa, eu já tão apercebida de mim mesma:
- “Pés de anjo”, Vó? Um pezão desse tamanho?
Das palavras exatas me lembro, acompanhadas da tal inflexão de voz e da expressão tão familiar:
- E quem foi que te disse que anjo tem pé pequeno?
O resto se perdeu no tempo. O que realmente importava, no entanto, permaneceu comigo.
2 comentários:
Oi amiga,
Ter uma vó observadora, uma rede com vista pras araucárias (são araucárias não são?), reter o que realmente importa e ser uma escritora. Bom demais! Pra que mais? :-) Beijo.
que delícia de avó...
beijos
Re
Postar um comentário