quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sexo seguro, questão de vida ou morte

Meu blog não aspira a qualquer finalidade pragmática. Escrevo quando quero, sobre o que quero, falando daquilo que me toca, choca ou move sob uma ótica absolutamente pessoal. Fico feliz quando as pessoas gostam do que leem aqui, mas não levanto bandeiras, nem espero que concordem com o que eu digo.
Por outro lado, inegavelmente atinjo com meus posts um número de pessoas considerável. Alguns me conhecem e leem sempre, outros caem de paraquedas e acabam ficando, outros ainda dão uma bisbilhotada ocasional e depois seguem seu caminho. Pois hoje resolvi tirar partido dessa visibilidade para falar sobre algo que tem me preocupado muito, mesmo correndo o risco de me expor mais do que eu gostaria. Desculpem se minhas palavras incomodarem ou ofenderem alguns, mas há verdades que precisam ser ditas sem rodeios.
Estou muito, muito impressionada com a quantidade de homens que, em encontros casuais, já tentaram me convencer a transar sem camisinha. Estar desprevenido é chato, mas acontece nas melhores famílias; daí a achar que a falta de camisinha pode ser ignorada “só dessa vez” é uma burrice atroz. Essa proposta literalmente indecente costuma vir seguida de perguntas e afirmações tão absurdas quanto ela: “mas você não toma pílula?”; “confia em mim”; “eu tiro antes”; e mais uma infinidade de comentários que me fazem lamentar não ter um sistema de ejeção para expulsar o infeliz da minha casa antes que ele tenha tempo de abrir a boca novamente.
Acho inconcebível que em pleno século XXI, convivendo há décadas com a existência da AIDS, pessoas instruídas, bem nutridas e bem informadas ainda consigam se expor e expor os outros a esse tipo de risco, sem preocupação nem peso na consciência. Hoje, felizmente, a AIDS não é mais a sentença de morte que já foi antigamente; nem por isso se tornou menos grave e diminuiu a necessidade de se fazer sexo seguro.
Não estou tentando convencer ninguém a achar que camisinha é uma delícia, ou que dá na mesma transar com ou sem. No entanto, diante da evidência de que a via sexual é privilegiada na transmissão de doenças graves, só posso responder ao argumento duvidoso de que “a camisinha tira o prazer da transa” com outra evidência: não é uma questão de escolha. Não existem duas alternativas. Se o homem não consegue manter a ereção com camisinha, que não faça sexo com penetração. Você chuparia uma bala com veneno?
Outra coisa que não entra na minha cabeça é o discurso da “confiança”. Hoje já chegamos a um ponto da disseminação do HIV em que, se não conhecemos de perto alguém que já foi infectado, no mínimo conhecemos alguém que conhece alguém. E são pessoas exatamente iguais a nós, com o mesmo estilo de vida, com os mesmos anseios, medos e preocupações. Não dá pra saber olhando na cara de alguém se é soropositivo ou não (ainda bem!), por isso alguém que transa sem camisinha com frequência está sujeito a se tornar soropositivo sem sequer se dar conta disso. Quando um menino me diz “confia em mim”, penso: “e por que ele acha que pode confiar em mim?” Realmente, é muita ingenuidade, ou muita ignorância, achar que é possível saber “só de olhar” se alguém pode ou não estar infectado.
Toda essa situação, que já me deixa bastante chocada, tem me causado ainda mais preocupação porque, em mais ocasiões do que eu gostaria, ouvi amigas minhas contarem que também transaram sem camisinha. “A vontade falou mais alto, não deu para segurar”; “ele insistiu e acabei cedendo”; “eu sabia que estava fazendo merda, mas não consegui parar”. Sei que elas me contam isso esperando ter o meu apoio, ouvir algo como “não se preocupe, tenho certeza de que está tudo bem com você”, “todo mundo faz isso” ou “não se culpe, essas coisas acontecem”. Não consigo. Meu único jeito de ser amiga nessas horas é ser honesta: “faça o exame, e nunca mais faça isso, pois você se expôs a um risco muito grande”. É muito ruim falar assim com alguém que quer ser consolado por você. Mas como tapar o sol com a peneira?
Infelizmente, acho que tudo isso que estou escrevendo vai ter pouco efeito ou nenhum efeito para quem adota o sexo sem camisinha como prática (frequente ou ocasional). Duvido que alguma dessas pessoas não esteja suficientemente informada dos riscos que está correndo, dos meios de transmissão das DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis (cujo nome é autoexplicativo) –, das formas de prevenção. Dar uma bobeira dessas só pode ser sinal de onipotência ou de autodestrutividade. De qualquer forma, não custa repetir mais uma vez: no que diz respeito à AIDS, ou a outras dezenas de doenças – Hepatite, HPV, Sífilis, Clamídia, Gonorreia, só para citar algumas –, não faz diferença que seja “só um pouquinho”, “só dessa vez” ou “rapidinho”. Uma única exposição a um parceiro contaminado já é suficiente para a transmissão. E a maior parte dessas doenças é incurável, ainda que tratável.
Há muitas ocasiões na vida em que corremos riscos calculados, sabendo que estamos nos expondo, mas julgando que o risco vale a pena porque pode nos trazer uma grande recompensa no final. Transar sem camisinha definitivamente não é um desses casos. Tenha amor próprio. Use camisinha SEMPRE.

5 comentários:

Mulher Casada disse...

Não mudaria uma única palavra desse discurso. Estou contigo e não abro!!! Beijocas.

Teka disse...

Oi tudo bem?
Achei seu blog por um acaso e gostei dele :D
Vou linkar no meu, pq se não eu esqueço de acompanhar rs rs
Se tiver algum problema, me avise, que eu tiro, ok?
Bjsss

Giovani Iemini disse...

mesmo em sexo virtual?
heheheh.

Anônimo disse...

Concordo plenamente! Diga mesmo, e doa a quem doer! beijos, Fla

Isabella Kantek disse...

Assino embaixo!