quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Coisas que você não aprendeu na escola

Que o Bocage foi o poeta mais expressivo do Arcadismo em Portugal a Da. Margarida certamente te ensinou.

Que existe o “Bocage lírico” e o “Bocage satírico” é bem provável que ela também tenha te dito.

Agora, sendo a escola por excelência uma instituição conservadora (e isso não é culpa da pobre Da. Margarida), du-vi-de-o-dó que ela tenha te contado o quão boca-suja era aquele gajo.

Os livros didáticos sempre dão um jeitinho de apresentar uma poesia satírica do Bocage que não faça corar a Da. Margarida. Mas acredite: perto dele, boquinha-da-garrafa é música de igreja. Taí o próprio, que não me deixa mentir, em suas lúdicas elucubrações sobre a prisão de ventre.


Soneto da dama cagando
Manual Maria Barbosa du Bocage

Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Porém o ver cagar a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura;
Uma carta d'amores de alimpadura
Serviu àquela parte malcheirosa:

Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito d'amor que lisonjeiro
Afetos move, corações incita:

Para o ir ver servir de reposteiro
À porta, onde o fedor, e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro!

8 comentários:

Amarilis disse...

Muito divertido! Estou rindo até agora... As mil e uma utilidades de uma carta de amor. Ainda bem que no nosso tempo papel higiênico é duplo, extra-suave. ahhhhh. rss.

Outro dia, me surpreendi com o poema, que transcrevo abaixo. Até parnasiano põe as manguinhas de fora! Beijão.

Delírio (Olavo Bilac)

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....

Renatinha disse...

Chocada...
rsrsrssrsr
beijo
Re

Unknown disse...

Já acompanho o blog há algum tempo, mas hoje resolvi postar, tamanha a coincidência.
Estava lendo Bocage nesta madrugada. Vi este poema, achei engraçado. Com o perdão da palavra, mas é incrível o dom dos poetas de florear e fazer odes até para a mais fedida das merdas da diarréia.

Postei agora pouco no meu blog, pois não tirei isso da cabeça. Atualmente, a vida é assim. Qualquer merda merece um ode.
(ok, este não é um comentário e nem um post feliz... Mas tudo bem ^^"")
Aí fui ler as atualizações dos blogs listados(e sim, o seu está na minha lista faz tempo) e vi isso. Achei a maior das coincidências. haha

Beijos

MH disse...

hehehe

poeta escatológico, este... realmente, não sabia!

:-)

Anônimo disse...

Cris,

o poema me lembrou um dos dizeres frequentes da minha mãe para aplacar minha idolatria cega por determinados artistas na adolescência:

"O Chico Buarque também caga!"

hahahaha Imaginar a cena realmente provoca uma certa mudança de perspectiva... Até hoje penso nisso!

Beijos

Mulher Solteira disse...

Oi 'Marilis! :)
Esse poema aí é do Bilaquinho mesmo? No duro??? Geeente!
Também acho que papel higiênico suave com folha dupla é uma bênção! Hahahahaha!
Beijoca, minha flor!

Rê,
mas num é??? Fiquei como você. Cada coisa que a gente descobre quando vira editora... :)

Lekkerding,
coincidência mesmo, não??? Eu tenho estudado o Arcadismo há cerca de dois meses, mas foi só essa semana que me deparei com essa pérola do cancioneiro intestinal... hahahahahah!

MH: tá vendo? Eles escondiam essas coisas da gente... :) Pega lá o seu livro de literatura do ensino médio e vê se tem algum poema do "Bocage satírico". Eles contam o nome do santo mas não mostram o milagre! Hihihi

Carol,
tive um namoradinho que me dizia a mesmíssima coisa... "já parou para pensar que fulana caga?" Deveras... taí uma verdade universal, inconteste: todo mundo caga. Hihihihihi

Anônimo disse...

Minha querida!

Sinto muitas saudades. Ando distante da internê devido a diversões artísticas (um painel que está me tomando um bom tempo, mas que eu estou adorndo fazer) Porém, é claro, não deixaria de comparecer ao blog amigo para minha leitura semanal. Achei interessantíssimo este seu post que relata uma análise qualitativa de um ato tão rotineiro e presente nas vidas dos que não tem prisão de ventre.

Para contribuir vai mais um poeminha nada romântico, talvez ao mais íntimos, mas que certamente exige um gosto refinado para as partes baixas:


No mármore de tua bunda

No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio.
Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence.
Tu a levaste contigo.

(Carlos Drummond de Andrade)


Ps. 01: Ahhh, relendo o tal poema... eu até achei romântico, hehe.

Ps. 02: As últimas pesquisas sobre fenômenos extra-naturais indicam que Chico Buarque não faz cocô. Esse fato extraordinário se dá porque tudo que ele vê, come, fuma e sente acaba saindo via oral em forma de letra e batida na sua caixinha de fósforo.

Um beijão minha amiga tão adorada! Cuide-se e boa semana para você.

Ps. 03: Estamos todos bem aqui (eu e o polvo).


Lee

Isabella Kantek disse...

Flax seed* nos livros didaticos!
;)

Saudades, mulher! Adorei a sua aparição no blog da Estela. Obrigada, hein!
Beijo carinhoso,