sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Os piores do mundo

Já que a vida anda prevalecendo sobre a escrita (como afinal, me parece, deve ser), aproveito para requentar mais um texto, escrito em outubro de 2006, quando o Mulher Solteira ainda era um espiritinho vagando pelas terras dos bebês não-concebidos. Originalmente chamado de "cantadas que não deram certo", ele é uma seleção de alguns momentos pouco memoráveis das minhas andanças pelo mundo dos solteiros.

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Os piores do mundo ou Cantadas que não deram certo

As cantadas a seguir mostram, na experiência desta humilde blogueira, que as duas áreas de conhecimento mais mobilizadas pelos homens sem noção ao arquitetar uma cantada são a genética e a geografia:


- Oi, posso te conhecer?
- Oi, pode...
- Como cê chama?
- Mulher Solteira.
- Prazer, Mulher, Luciano. (dois beijos na bochecha)
- Prazer, Luciano. [sujeito a confirmação]
- Você é daqui mesmo?
- Como assim, daqui de São Paulo?
- Ahan.
- Sou.
- Sééério??? (ar de incrédulo)
- Sério... por quê???
- Com esses olhos???
- É... (ar de incrédula)
- Jura???
- Por que, paulista não pode ter olho claro?
- Ah, é mais raro, né... geralmente é o pessoal do Sul que tem olho claro.


- Nossa, cê é alta, né?
- É, sou...
- Onde cê mora?
- Como assim, onde aqui em São Paulo?
- É...
- (Ai, Jesus) Moro no Bairro Tal.
- Ah, tá...
(Falta de assunto total e irrestrita. Desconfio que o rapaz tá esperando a mesma pergunta.)
- (Ai, Jesus em dobro) E você?
- Ah, eu moro aqui pertinho, no Butantã...
- Ah tá, legal...


- Oi, você é daqui mesmo?
- Sou...
- Sério? Pensei que você fosse de Campinas.
- ??? É? Por quê?
- Você não tem sotaque de paulista.
-...


- Seus olhos são maravilhosos.
- Obrigada.
- É raro encontrar olhos assim...
- Imagina, no Brasil tem de tudo.
- Não é assim não, olha o meu olho... é castanho. Não é tão fácil encontrar olhos claros, especialmente em mulheres.
- É??? Nossa... nunca reparei. (procurar cara de mulher burra nº 27)
- Mas você tem razão, no Brasil tem até negro de olhos verdes.
- É verdade.
- Sério, na Bahia eu já vi... é muito estranho, o cara negão com o olho super verde.
- Ahan.
- ... mas eu não sou racista, viu?

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Minha mãe é uma sereia

I

- Mãe, você não sabe qual é a última da Mimi... Deu para fuçar na minha gaveta de meia-calça!
- Que danada!
- E o pior: ela aprendeu a abrir a gaveta SOZINHA! Eu não posso me distrair um minuto que quando vou ver já tem meia-calça espalhada pela casa inteira...
- SOZINHA? Ela é muito esperta mesmo...
- Pois é...
- ... Ai, filha... vamos montar uma gaveta com meia-calça velha para ela brincar?

II

- Pois é, mãe, a veterinária recomendou homeopatia para tentar tratar o problema de coprofagia da Mimi...
- É mesmo? Bom, tomara que ajude...
- O duro vai ser fazer a danada da bicha tomar as bolinhas.
- ... Tive uma idéia: por que você não amassa as bolinhas no chão com uma colher e depois coloca um guardanapo por cima para ela ficar curiosa?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Breves

Segredinho I

Minha voz foi elogiada por um ex-Balão Mágico

Segredinho II

Descobri que meu amigo Gastón é um canarinho

Irvin Yalom

Será que descobri o que quero ser quando crescer?

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O Relatório ATT

Este texto foi escrito em abril de 2007 e os clarins já anunciavam o término da minha fase “gandaia”. Sei que não se deve começar o jantar pela sobremesa, mas como não tive vontade de terminar o texto após os últimos acontecimentos da história, vale dizer que o homem em questão estranhamente (ou sabiamente) recusou o pacote perfeito que ofereci a ele – sexo com amizade e sem compromisso – e com isso deixei de querer os caras errados e voltei a procurar o cara certo.

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A Lua, o conhaque e o diabo
Nossa história começou de um jeito improvável. Porque você era definitivamente o cara errado e eu sempre tive um fraco pelos homens que pareciam certos – mesmo quando eles eram claramente errados.

Não bastasse o fato de ser o cara errado, era o cara errado da minha melhor amiga. Aquela cujos namorados, rolos e ex-rolos sempre serão samambaias para mim, até que ela diga o contrário.

A minha melhor amiga entrou numa fase generosa. Começou a dividir os ex-rolos com as amigas. Mas quando eu te vi pela primeira vez você ainda fazia o coração dela doer, e eu só conseguia olhar para você e pensar “que raios ela vê nele”, porque ela é foda, e não era para sofrer tanto por um cara todo errado como você. E daí quando a gente se viu de novo, a minha melhor amiga, que é foda, já tinha te adotado como amigo.

Poucas pessoas seriam generosas a esse ponto, mas ela foi e ninguém que a conhece se espantou com isso. E te adotando como amigo ela passou a tolerar todos os seus defeitos, acolher a sua dor e delícia, te pôr no colo e te ninar. E quando eu te vi de novo, vi o menino assustado, desprotegido, sozinho que ela estava vendo também. E eu fiz questão de te acolher também, porque eu sempre tive um fraco pelos seres desprotegidos (velhinhos, empregadas domésticas, cachorros sem dono, crianças abandonadas). E quis ser simpática e quis me interessar por você e quis mostrar que eu também vivia a minha pequena solidão, embora ela já não me assustasse tanto.

Mais tarde a noite nos abraçou e eu fui dançar sem quase lembrar que você estava lá. Mas a amiga, meio-bêbada-meio-sóbria, veio contar no meu ouvido que você tinha gostado de mim. E eu meio que desacreditei daquilo. A amiga gosta de formar casais. Os caras errados não se interessam por mim, porque eu sou definitivamente a mulher certa. Mas até isso eu estou aprendendo a desaprender, aprendendo a ser errada também e me divertindo com os meus erros e os dos outros.

Então eu resolvi te olhar de novo e melhor. E vi o seu interesse. Você é mais baixo do que eu, mas me pôs sentada e mais tarde me disse que não se incomoda com essas bobagens e só nessa frase você quase já me ganhou. Falamos da vida, da minha e da sua, e eu gostei de quem eu era perto de você. Falei com naturalidade das minhas descobertas recentes e vi que você me admirou, e isso me fez bem. A amiga me contou que você fala quatro línguas, você fez literatura em Londres, você é culto e inteligente, mas como sempre não foi isso que me pegou. O que me pegou foi a sua sensibilidade, levemente cafajeste, levemente disfarçada de humor barato, mas uma sólida e palpável sensibilidade. Eu ainda me lembrei que você era errado e, além de errado, era o menino desprotegido, e achei que talvez fosse uma péssima idéia abrir espaço para a minha curiosidade. Mas a própria amiga incentivou e você garantiu que daquele mato não saía mais coelho. Tive medo de te afastar da minha amiga, pelo seu possível futuro medo de mim. Mas o beijo que você me deu no rosto me desmontou. E eu te beijei e gostei.

E beijei mais. E te levei pra casa. E passei a noite com você. E gostei. E no dia seguinte descobri que você tinha gostado também. E me senti ótima. Mesmo você não tendo pedido o meu telefone, me senti ótima e achei que a nossa história ainda estava só começando. Você pediu o meu telefone para a minha amiga, mas não me ligou. E quando você ligou, eu não atendi porque estava ocupada e o telefone estava desligado. E até imaginei que pudesse ser você, número novo, celular, quinta-feira, pensei em perguntar para a amiga mas preferi esperar e viver a espera em silêncio.

Pouco tempo depois você ligou de novo, e dessa vez eu não ouvi a campainha mas ouvi o recado caindo na caixa postal, e quando liguei para o centro de mensagens eu já sabia que ia ouvir a sua voz. E você me deixou um recado banal, vago. E eu não te liguei de volta. Porque eu sabia que você era errado. Porque eu achei que era assim que se agia com homens errados, porque eles gostam de ser temidos e respeitados e eu quis respeitar as regras sobre homens errados. Também porque eu tive dúvidas sobre o meu interesse por você. Afinal, eu não sou de gostar de homens errados. Os homens errados me deixam entediada com os seus medos. Eu gosto de intensidade, de profundidade, de ir até o fundo das coisas e só depois tentar descobrir se dá pé. E não dá pra fazer isso com um homem assumidamente errado, auto-declaradamente errado. Então eu não te liguei. Mas achei que eu podia te ligar depois, porque eu queria. Não sabia muito bem ainda o que eu queria, mas eu queria alguma coisa.

Só que o meu silêncio mexeu com os seus brios. E quando eu te liguei depois de levar um puxão de orelha da minha amiga, você resolveu me tratar mal. Não um tratar mal escancarado; aquele tratar mal velado, que parece que tem boas intenções mas se aproveita disso para passar o recibo de cafajeste na primeira oportunidade e causar ainda mais efeito. Eu achei que você queria se vingar de mim. Você alegou cansaço. Eu não acreditei e te apaguei. Apaguei confiando que eu não devia deixar perto de mim nenhuma armadilha que me levasse de novo para perto de você. Um tempo depois você quis me procurar. Ou me fez acreditar que queria. Você demorou para aparecer e só alimentou a minha certeza de que você era errado, errado, errado. Mas aí você apareceu. Apareceu errado, cara-de-pau, cafajeste... mas alguma coisa acendeu dentro de mim. Eu quis pagar pra ver.

Fui te ver. E vi um terceiro, que não era o errado, nem o desprotegido. Você deixou escapar que tinha pensado em mim naquele dia. Não com essas palavras, não explicitamente. Mas inequivocamente você quis me dizer que pensou em mim. E eu me senti lisonjeada, e espantada ao mesmo tempo. E gostei. E te beijei de novo. E me deixei levar de novo e foi bom, muito bom. Fiquei dolorida até, mas a dor me lembrava do prazer e me fazia sentir de novo aquela pessoa que eu sinto prazer em ser quando estou com você. Porque você me chama de mocinha racional e fica espantado com o meu beijo de mulher passional. Duas-em-uma.

Você viajou e eu fiquei e fui construindo você dentro de mim. E cada janela que subia no msn fazia o meu coração bater mais forte. Mas quando você entrou e me chamou para conversar, nada do que eu havia imaginado foi dito. Você veio dizer que achava que a gente devia ser amigos. E eu aceitei, mas alguma coisa esfriou e depois secou dentro de mim. Logo em seguida percebi que você só estava com medo. E esse medo me intriga, me fascina, me puxa para perto de você. E me faz me lançar cada vez mais, pois quanto mais medo você tem, mais eu fico corajosa. Querendo brincar com fogo. Você quis me fazer acreditar que só queria ser meu amigo, mas o seu desejo te traiu.

Então eu tive que esperar para saber o que eu era sua. E tive que te encontrar no meio de muitas tentações. E te perguntei se você estava com medo, mas vi que não. E isso me deixou excitada. E você brincou com a minha saia. E trançou a sua perna na minha. E eu te chamei para vir mais perto e você veio e me beijou perto da orelha, daquele jeito. E eu quis sentir o seu cheiro e o seu gosto de perto antes de beijar a sua boca, e o cheiro do cigarro e da cerveja mal disfarçado pelo seu chiclete me inebriou, mesmo eu não gostando de cigarro e nem de cerveja.

E você me levou de novo. E de novo foi bom, mas dessa vez melhor, ainda melhor que da primeira, que da segunda. O seu cheiro, o seu gosto, a sua pele macia, os seus braços, todo o resto. Meus sentidos todos alertas. As luzes acesas, diferente do que eu estou acostumada. Você me olhando e eu te olhando, e te achando lindo e te desejando. E me achando linda e desejável. E você tendo prazer e eu adorando te dar prazer.

Depois de tudo você ronca alto e eu não consigo dormir. Então você não precisa ter medo de que eu vá passar a noite na sua casa, porque eu não consigo dormir com você roncando e me levanto e me visto, e vou para casa, mas antes eu te conto que você ronca muito alto e você ri com cara de menino.

E no dia seguinte eu te procuro e quase me mostro nua e você responde lacônico que a gente precisa tomar jeito. E agora nesse pé eu tento entender quem você é, quem eu sou com e sem você, quem nós poderemos ser. Tento entender o seu medo e o meu medo. Penso que eu quero me jogar, porque eu estou aqui para isso. Eu sei que eu posso porque aprendi a ser leve, mas não deixei de ser intensa. Leveza com profundidade é tudo, é o meu mote, o meu mantra. E a sua intensidade me fascina, mas a nossa leveza também me seduz. E o cheiro da cerveja e do cigarro ainda parecem estar nas minhas narinas, enquanto penso em você e escrevo, insone, às quatro e oito da manhã.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cuma?

Surdo em bingo é apelido. Deve ser isso o que se chama de o tal "maravilhoso mistério da vida" (ou é "milagre da vida"? Pesquei).

domingo, 19 de agosto de 2007

Mensagens ao mar



Oi!
Superei. Como vai você?

*****

Oi!
Não superei, mas vou indo!

*****

Oi!
Como vão as coisas aí na China?

*****

Oi!
Você é mesmo quem eu pensei que fosse?

*****

Oi!
Que bom que te reencontrei! Obrigada por tudo o que você foi pra mim.

*****

Oi!
Ainda tenho algum motivo para acreditar que as coisas não são o que parecem?

*****

Oi!
Que bom que você chegou. Você faz idéia de que estou te esperando há uma vida?

sábado, 18 de agosto de 2007

Pequeno dicionário amoroso

Eu fiquei devendo aos navegantes alguns esclarecimentos a respeito de novas modalidades de relacionamento da mulher pós-moderna e bem resolvida, entre elas o PA e o ATT. (Lembrem-se: esse texto foi escrito ANTES da minha ida ao Jô Soares!)

Pois bem. A primeira vez que ouvi falar em PA foi da boca de uma amiga decididamente bem-resolvida, que viveu intensamente as suas andanças de mulher solteira e uns anos atrás resolveu amarrar o seu burrinho à sombra de uma árvore frondosa (em outras palavras: casou).

Foi dessa figura que ouvi também, pela primeira vez, a respeito da “pica mágica”. Mas essa eu vou deixar para outro post (Xerazade, Xerazade...).

O fato é que PA nada mais é do que a abreviação de “Pinto Amigo” (já vi em outro blog o correlato “Pau Amigo” e também soube do “Fucking Friend”, mas já falei aqui sobre os meus pudores em nomear as partes íntimas e “pinto” me parece mais, digamos, amigável). Trata-se daquele sujeito com quem a mulher tem um relacionamento cordial e que se propõe a atendê-la em momentos de seca.

Imagino eu que os homens já estejam carecas de usufruir dessa modalidade de relacionamento (o Cafajeste certa vez se referiu à versão feminina do PA como “Mulher Remédio”). A novidade aqui é que também a mulher assume que se trata de um relacionamento fundamentalmente baseado em sexo, sem compromisso, sem cobranças e sem expectativas com relação ao futuro.

Acho interessante que à palavra “Pinto” seja acrescido o adjetivo “Amigo”, porque isso mostra que, além da presteza do dono do próprio em atender aos chamados em momentos de necessidade, também pode (e, para mim, deve) haver carinho e companheirismo nesse tipo de relação. A questão é que de fato não se tem substrato suficiente para uma verdadeira amizade, nem para um “algo mais” (ou até se tem, mas por algum motivo não há interesse em deixar que se desenvolva).

Algum tempo depois, conversando com outra amiga e narrando algumas aventuras com um PA que eu havia descolado, fui apresentada a uma outra denominação para o fenômeno: ATT. Falamos aqui da modalidade de relacionamento “Amigos Também Transam”. Imagino que possa se aplicar aos casos de pessoas que mantém uma relação de amizade e, eventualmente, conseguem transar sem que isso afete o relacionamento e nem este se torne alguma outra coisa. Imagino que nem todo mundo consiga administrar uma relação assim. Eu, como tenho pouca experiência em ter amigos homens justamente pela dificuldade em separar amizade genuína de tesão ou interesse, nunca vivi essa experiência.

Mas quando arranjei o meu segundo PA e, lá pelas tantas, ele ficou com medo que eu estivesse me envolvendo e veio com aquele papo de que queria ser meu amigo, eu, para não perder a boquinha, abri o jogo e disse a ele que eu estava totalmente a fim de um relacionamento casual. E embora para mim ele fosse um PA, resolvi me referir à nossa “condição” como ATT porque isso me pareceu mais digno. De fato, tínhamos uma amiga em comum e por isso a situação exigia um pouco mais de cerimônia do que a minha situação com o outro PA, com quem tive o relacionamento mais livre de toda a minha vida.

O meu primeiro PA realmente rompeu paradigmas – sem piadinhas de duplo sentido, por favor. O primeiro PA a gente nunca esquece. Eu estava no ápice da minha fase “gandaia”, soltinha, curtindo sair para ir a lugares em que conhecia pouca gente e fazer novas amizades, se é que vocês me entendem. Também havia tomado há pouco tempo a minha decisão de ano-novo de beber um pouquinho de vez em quando (deixo essa para outro post também). Assim, quando me vi na festa de 30 anos open-bar do namorado de uma amiga, praticamente sem conhecer ninguém, começou a tocar uma música boa na pista e pensei: “é pra lá que eu vou!”. Lá pelas tantas fiz um pit-stop no bar e pedi uma caipirinha de vodka. Tomei relativamente rápido e não senti efeito nenhum, então resolvi repetir a dose. Do meio pro fim da segunda caipirinha já fiquei le-gal... e saquei que tinha um cara me olhando na pista. E continuei dançado com cara de “Serena & Natural” com o meu melhor sorriso (bêbado). Lá pelas tantas o cara chegou junto e, depois de três frases trocadas, começaram a cantar “Parabéns a Você” para o aniversariante em plena pista. Nem vi o bolo. Em dois minutos estávamos nos beijando e virando polvo (dessa vez não posso reclamar, minha mão também ficou boba, boba).

O detalhe pitoresco dessa ficada é que nessa festa praticamente todo mundo se conhecia e todos os casais formados namoravam há anos. Ou seja, a cena picante na pista de dança atraiu a atenção dos convidados e algum engraçadinho teve a brilhante idéia de imortalizá-la. A foto está aqui, guardadinha no meu laptop (depois de meses de insistência até a amiga liberá-la – menos por pudor ou provocação e mais por falta de tempo para baixar as fotos da festa no computador). Não deixa de ser uma boa recordação daqueles tempos...

Bom, quando o rapaz perguntou se eu queria ir com ele ao banheiro me dei conta de que a coisa já estava bem para lá de Marraquesh. Mas, devido ao meu teor etílico (finalmente entendi por que as pessoas bebem) e considerando que aquela era uma festa fechada e o rapaz tinha alguma procedência (há!), me baixou um pensamento “whattahell” e um espírito “born to be wild”. Com a sanidade que ainda me restava, perguntei se ele estava “prevenido” e acabamos indo para o carro e de lá (mãe, por favor, se você estiver lendo este blog vá buscar um copo d’água) para um motel. Daí pra frente as lembranças são uma seqüência de flashes pra lá de cinematográficos. Como eu disse um pouco antes, mas não com todas as palavras, foi o sexo mais livre que já fiz na vida.

No dia seguinte, descobrimos que o meu carro havia ficado preso no estacionamento da balada e o mocinho gentilmente me levou para casa (detalhe: eu ia receber 30 pessoas em casa naquela noite para comemorar meu aniversário, e ainda não havia comprado absolutamente nada. Agradeço à querida Lilão que me emprestou o seu possante para fazer as compras, evitando que aquele evento fosse um absoluto fiasco).

Foi só nessa viagem que conseguimos efetivamente conversar sobre alguma coisa, e o papo foi bem bacana. Na porta do prédio ele pediu meu telefone e eu dei por desencargo de consciência – que homem, em sã consciência, ia querer ligar depois de uma noite dessas?

Ligou. Sugeriu de a gente se ver, mas não quis marcar nada concreto, então duvidei que ele voltasse a ligar. Mas ligou de novo, e dessa vez me convidou para tomar uma “cerveja” (“cerveja” e “café”, nas minhas conversas, são metáforas para uma boa conversa com um(a) amigo(a) ou pretê), convite ao qual aceitei prontamente.

O gatinho fez bonito: se ofereceu para me buscar em casa, abriu a porta do carro, pagou a conta. Não faço questão dessas coisas, mas naquele contexto, depois do jeito selvagem que as coisas tinham começado, um pouco de delicadeza não faria mal a ninguém.

Conversamos mais um tanto, bebi mais um pouquinho. Achei tudo muito divertido. Falamos abertamente sobre o que havia acontecido, sobre o nosso passado amoroso, nos beijamos e a coisa começou a esquentar outra vez. O resto já se pode deduzir.

Num outro fim de semana, tomei a iniciativa e mandei um torpedo convidando-o para fazer alguma coisa. Ele respondeu prontamente, dizendo que me ligava mais tarde. Acabamos combinando de nos ver no domingo. Ele ligou no exato horário combinado. Disse que estava com um DVD emprestado, perguntou se eu tinha o aparelho na minha casa e sugeriu de vir me encontrar. É claro que saquei o golpe, mas não havia por que ter pudores àquela altura do campeonato. Topei, ele veio e tudo foi muito bom, mais uma vez.

Mais alguns dias se passaram e o PA ligou de novo. Comecei a acreditar em Papai Noel e em Coelhinho da Páscoa. Estava tão orgulhosa de mim mesma por estar sustentando uma relação casual por mais de um encontro! Na hora não pude atender, então retornei à noite, conversamos e combinamos de nos ver no fim de semana. Ele já havia dito que não poderia na sexta (estávamos em uma quinta), mas achou que no sábado ou no domingo ia rolar.

No sábado, então, já que eu não tinha nada a perder e queria saber o que fazer da vida, liguei e deixei um recado pedindo pra ele me ligar de volta, para saber se íamos mesmo nos encontrar ou não.

O retorno do rapaz só veio por torpedo na segunda-feira. “Esse fim de semana não deu. Mas posso passar na sua casa amanhã à noite. Que tal?”.

Foi aí que a minha pós-modernidade começou a ruir. Pera lá, amigo... a gente é adulto, maior de idade, vacinado, eu sei o que você quer, você sabe o que eu quero... pero sín perder la ternura, jamás! Sexo-delivery não é comigo. Não é porque não estou a fim de compromisso ou não tenho expectativas em relação a um PA que vou deixar de me interessar, preocupar, respeitar e ter carinho pelo rapaz (especialmente depois de algum tempo). E nem que vou deixar de querer ir ao cinema, bater-papo, sair, ouvir música etc. Então não é assim que se faz... tem que levar pra passear, fazer carinho, seduzir...

Só de briozinho não respondi ao tal torpedo e confesso, fiquei ainda mais orgulhosa de mim mesma. Eu digo que o primeiro PA rompeu paradigmas! Pela primeira vez o meu amor próprio foi maior do que a minha curiosidade ou vontade de alimentar uma historinha, só para ter uma vida menos ordinária. É claro que, dias depois, mandei um torpedo ou um e-mail como se nada tivesse acontecido... e o rapaz acabou ligando de novo, batemos mais um papo e combinamos outra tentativa de encontro pro final de semana.

No fatídico domingo ele me liga (estava saindo do plantão no trabalho) dizendo que está meio cansado e sugerindo de “passar na minha casa”. Ah, não... digo que eu estou a fim de sair, ele titubeia, diz que vai me ligar de novo. Liga, avisa que vai para casa tomar um banho e dar uma descansada para ver se agüenta sair. E nunca mais liga de novo.

E eu? Fiquei na minha. Foi a primeira vez que senti que alguns tipos de relação têm prazo de validade. Tudo o que aconteceu foi ótimo, mas nenhum de nós estava disposto a fazer mais nenhum esforço para que esse caso tivesse uma continuidade. Ele estava com uma viagem marcada para a Ilha de Malta (seja lá o que for que as pessoas vão fazer na Ilha de Malta). Eu, confesso, já estava mais interessada no meu segundo PA / ATT...

Mas essa, meus amigos, é uma outra história, para um outro pôr-do-sol.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Poliana sou eu

Nesses dias de grandes pequenos acontecimentos que me fazem saborear a vida com avidez, contando a uma amiga que o rapaz – aquele – de quem eu estava gostando disse que podíamos ser amigos, mas que não achei isso necessariamente ruim (pois para alguns isso pode ser um ponto de partida, e não de chegada), ela logo soltou: “Poliana!”

Contei para minha prima que tinha acertado a minha mudança para outro apartamento aqui no prédio e, quando ela comentou sobre a trabalheira e respondi que eu estava animada com a perspectiva de pintar uma parede da sala e pendurar vários quadrinhos, ela lembrou: “que bom que você é Poliana (versão brasileira) que nem eu!”

Nunca me vi como uma pessoa essencialmente otimista. Na verdade, sempre me achei bastante realista (pessimista certamente não sou). Mas de fato sou alguém que tem fé e esperança nas pessoas, no amor, na felicidade, enfim, no humano.

Poliana foi um ícone da literatura juvenil dos tempos da minha mãe e tias que respingou até a minha infância e adolescência e até hoje é uma referência para as mulheres de vinte a noventa anos. Li não só o livro “Poliana” como também o “Poliana Moça” (várias vezes, como de praxe), uma continuação do primeiro, coisas de um tempo em que as trilogias ainda não tinham virado moda.

Se a memória não me falha (é raro, mas acontece), Poliana era uma menina pobre, talvez órfã de mãe (depois, para a tragédia tomar proporções bíblicas, também fica órfã de pai e vai viver com algum parente diabólico – enredo certeiro de boa parte dos livros que li na infância), criada pelo pai com altas e maciças doses de otimismo. O pai ensina a Poliana o “Jogo do Contente” (seria a pré-História do limão e da limonada?), segundo o qual, para cada coisa ruim que nos acontece, há pelo menos uma coisa boa que a neutraliza ou mesmo supera.

Pois bem. Hoje era o deadline para devolver minhas muletas. Uma das minhas sacrossantas amigas (alô, Carol!) as havia alugado para mim dois dias depois do meu pequeno acidente doméstico. E foi um tal de “quebrou o pé”, “não quebrou o pé”, “ande mais”, “ande menos”, “pode ser A, B, C, todas as acima ou nenhuma das anteriores” até finalmente chegar ao diagnóstico final – uma simples mas importante fissura no osso calcanho do pé, cuja consolidação leva de seis a oito semanas e, enquanto isso, andar pouco, subir e descer pouca escada e dirigir à vontade, mas com cautela – que as muletas acabaram ficando apoiadas na parede do quarto, just in case, até eu ter certeza de que não precisaria mais delas.

E, mesmo se não tivesse sido assim, provavelmente eu teria deixado para devolver as muletas no último dia possível. Procrastinar – procristinar – é um dos primeiros verbetes do meu dicionário (por que fazer hoje algo se você pode deixar para amanhã?). No entanto, neste caso, era imprescindível respeitar o prazo, já que as conseqüências inevitáveis se voltariam contra a caução do cartão de crédito da minha sacrossanta amiga, que nada tem a ver com a maneira como lido com o tempo ou as obrigações.

Como Deus é clown (copyright by Marcio Ballas, 2007) ou Murphy impera (a depender da convicção religiosa de cada um), de última hora apareceu um compromisso irrecusável que acabou espremendo meu dia no trabalho entre a devolução das muletas e o curso noturno in company bissexto das quartas-feiras, que quando está quase morrendo ressuscita e calhou de reiniciar justo hoje. Além de procrastinar (e a procrastinação contribui pra isso), sempre faço questão de preencher o dia com mais compromissos do que eu deveria poder dar conta – mas dou conta de todos, com alguns efeitos colaterais. Por isso aceitei o convite para almoçar com a minha queridíssima comadre (alô, Helô!) e o meu lindo-amado-idolatrado-salve-salve afilhado Gabo (alô, Gabo!) no nosso Di Nóca. Mas, pra variar, dormi tarde, não acordei tão cedo quanto deveria, atrasei 15 minutos pra sair de casa e desconsiderei os 15 minutos de praxe para imprevistos, trânsitos infernais e afins.

A comadre já estava a postos, com um par de bochechas cercado de bebê por todos os lados me esperando para pôr os assuntos em dia, e eu lá, presa no engarrafamento da Oscar Freire. Olhei para as muletas e pensei: “ninguém merece! Onde já se viu perder tanto tempo na vida para devolver muletas...”. Mas logo em seguida me censurei pensando na sorte de ter sacrossantas amigas que me alugam muletas (alô, Carol!), fazem supermercado (alô, Sá!), acompanham até o hospital (alô, Má!), levam pra fazer exame (alô, Carol!), compram bota ortopédica (alô, Má!), compram almoço (alô, Carol e Sá!), dão carona (alô Carol, Sá, Lé, Má, Rafa, Fê, outra Fê!), emprestam dinheiro (et alli)... e, sobretudo, na sorte de não ter tido de usar muletas por mais do que cinco dias. Francamente! Muletas só são divertidas quando não precisamos delas.

Foi então que o céu se abriu, os anjos cantaram e um facho luminoso se estendeu desde o infinito até o topo da minha cabeça e percebi: Eu sou a Poliana!

Logo no início do livro, Poliana e seu pai encomendam uma boneca através de um serviço de compras pelo correio (devia ser o Submarino daquela época) e, depois de meses de espera e ansiedade, quando a caixa chega, Poliana descobre, desapontada, que o pessoal da logística (só podia ser) se enganou e enviou no lugar da boneca um par de muletas. É nesta ocasião que o sábio pai de Poliana forja a filosofia do “Jogo do Contente”, lembrando à menina que ela deve se rejubilar (santa ética protestante) pelo fato de não necessitar das muletas...

É, meus amigos. É como se diz por aí: A vida imita a arte, a arte imita a vida...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

I could definitely live with that!

Conversando com uma amiga ao telefone, me dei conta de algo que vinha percebendo há alguns dias, mas a que ainda não havia conseguido dar forma.

Enquanto me contava como tem sido difícil chegar a um diagnóstico a respeito de um problema de saúde com o qual convive há anos, minha amiga comentou o quanto tem sentido que as coisas e as pessoas são previsíveis. Não apenas os médicos ou terapeutas – cujas falas monótonas ela quase consegue antecipar – mas até mesmo filmes, amigos, livros.

Então contei a ela que comigo tem acontecido exatamente o contrário. Seja por um motivo ou por outro, ou por uma conjunção de fatores, não me lembro de haver me sentido tão surpreendida e deslumbrada com a vida e as pessoas como agora.

Odeio drogas sobre todas as coisas, nunca pus um cigarro na boca e conto nos dedos das duas mãos as vezes em que bebi na vida (ainda estou devendo um post sobre minha relação com o álcool). Mas se tivesse o mau-gosto de querer relacionar o meu temperamento ao efeito de uma droga, diria que ele está muito mais próximo à viagem da maconha. Sempre fui tranqüila, calma, paciente, levemente melancólica e um pouco pendente para um comportamento depressivo. Sempre brinquei que, de todas as perebas psiquiátricas que eu poderia vir a ter, jamais me enquadraria num quadro de TOC e provavelmente de nenhum outro transtorno de ansiedade.

Ultimamente, no entanto, me sinto num momento “with or without you” (com a diferença de que, nesse caso, eu definitivamente poderia viver com isso para sempre). Isso, é claro, eu só diria se tivesse o mau-gosto de usar os efeitos das drogas como metáfora para alguma coisa. (O melhor de tudo é pensar que isso está acontecendo sob o mais genuíno efeito da caretice.) Fato é que o mundo nunca me pareceu tão colorido, sonoro, vibrante, excitante.

As pessoas, particularmente, me parecem fascinantes. Desejo conhecer a história de vida de cada uma delas. A cada dia me surpreendo encontrando afinidades com alguém, fazendo um novo amigo, redescobrindo um antigo. É uma incrível sensação de conexão com as pessoas.

Meus problemas com o trabalho – e até mesmo com a minha profissão – me parecem perfeitamente administráveis. Não tenho medo do futuro, nem me sinto ansiosa para que ele chegue rapidamente. Simplesmente vivo um dia de cada vez extraindo deles todas as pequenas alegrias que podem me proporcionar, e também as grandes lições.

Essa percepção é tão exacerbada que ouço minha mãe contando algo sobre o seu projeto de pesquisa e penso: “que mulher brilhante!”. Assisto à nona temporada de Friends e a cada risada penso: “que cena genial! Como alguém é capaz de escrever algo tão espirituoso?”. Minha analista me analisa como faz há anos e eu me pego matutando: “Bingo! Como é que ela consegue?” Minha cachorra aciona acidentalmente o alarme do meu carro para rastreamento via satélite e eu simplesmente penso: “Que danada! Ela é mesmo incrível...”.

Contando à minha analista sobre o meu episódio de insônia de sexta para sábado – e como isso reverteu em uma inacreditavelmente egotrípica entrevista ao Jô Soares –, tentei enumerar rapidamente alguns motivos que poderiam estar contribuindo para esse momento de euforia: criei um blog, fechei um novo apartamento para morar, estou gostando de um mocinho (platonicamente, e mesmo assim me sinto feliz)...

Realmente todas essas coisas têm me tirado o sono e demandado algumas horas diárias (e noturnas) de elucubração. Mas tendo a achar (e desejo acreditar) que é mais do que isso – embora nada disso seja pouco.

Quando fui terminada do meu último namoro, depois de algumas semanas mandei um e-mail a um amigo pedindo que me jogasse um botinho salva-vidas. Ele havia passado havia cerca de um ano por uma situação muito parecida (talvez um pouco pior), se separando de uma namorada com quem estivera junto por cinco anos e inclusive morado junto. Perguntei a ele, do fundo das minhas cobertas: “existe vida após o fim do namoro?”

A resposta me pareceu alentadora na época, mas só alguns meses depois fui realmente entender o significado daquelas palavras. Mais de uma vez tive de escrever a ele para dizer: “você não faz idéia de como tudo aquilo que me disse faz sentido... é EXATAMENTE isto”.

Seguem aqui os melhores momentos daquelas inspiradas mensagens:

“Existe sim, e como, e é uma vida melhor, sem dúvida.
O luto vai durar meses, infelizmente.
A tristeza e a saudade se diluem mas não vão embora.
Desculpe falar assim tão cruamente.Parece loucura o que vou dizer mas você ganhou uma oportunidade de se transformar.O momento que você está vivendo exije isso de você e você escolhe qual vai ser a transformação.
Eu senti muita raiva da pessoa que me disse isso na época e ri da cara dela.
Pode ficar com raiva mas a primeira frase do email é fato: existe vida e é muito melhor. A sua vida nova vai ser mais verdadeira, mais sua e mais próxima do que você sonha pra você.
Sem dúvida as minhas palavras soam abstratas e sem dúvida a sensação é de que as coisas fogem do controle. Senti muito isso.É muito difícil explicar por que a vida vai ser melhor mas você vai vivenciar isso, eu aposto.
É um tipo de experiência que forja o caráter, sabe?
Sabe aço temperado? Quando ele está incandescente o ferreiro põe na água gelada e ele fica mais resistente (que não significa duro).Acho importante você olhar muito pra você e para o que você quer pra você. Momento só ‘eu’.
Quando você se permitir sentir muita raiva (não sei se já é o caso) você vai ter um combustível precioso para realizar o que estiver desejando.”

Ao amigo, peço desculpas pela reprodução das suas palavras sem a prévia e devida autorização. Mas agradeço, mais uma vez, profundamente, pela sabedoria.

Felizmente ou não, nunca passei efetivamente pela parte de sentir “muita raiva”. Talvez eu simplesmente não tenha vindo ao mundo equipada para isso. Mas todo o resto está acontecendo e o que posso dizer é que é muito, muito bom.

Vejam como a vida é incrível. Eu gostei de levar um fora? Não. Superei totalmente o ex? Não. Deixei de sentir falta? Não. Deixei de amá-lo? Tendo a achar que não (e digo isso confessionalmente apenas para vocês – não contem a mim mesma). E, ainda assim...

Ah... A vida é bela!

Pequena epifania em uma segunda-feira qualquer

Basta de comer no escritório. Falta luz do dia, sol, pessoas, movimento. Faltam folhas, suco de laranja, comidinha do Di Nóca. Caminho devagar, não tenho pressa, há tempo para tudo. Não há de ser nada, o pé agüenta (já agüentou até agora).

Na volta do almoço, meus olhos dobram a esquina e se encontram com os de um moço, já a uns três metros de distância (de proximidade). São três segundos de olhar sustentado com coragem, não sei se ele é bonito ou feio, sei que os olhos grudam em mim e também não consigo desgrudar deles, até não ter como continuar olhando sem virar o pescoço e então sigo andando e mirando logo adiante na calçada.

Que coisa. Dei pra fazer isso de vez em quando, olhar profundamente, insistentemente, até o rosto corar e as orelhas esquentarem e a vergonha ser mais forte do que a curiosidade e o frisson.

E muitos olham de volta (outros desviam no ato). E sempre fico me perguntando até onde agüentaria sustentar o olhar e se alguma história poderia nascer disso (oi! Não pude deixar de reparar nos seus olhos...).

Venci já uns bons metros e quase um minuto se passou. Me pergunto: será que ele virou para trás para me olhar novamente? Me sentindo a uma distância segura, ainda caminhando, viro o pescoço para trás, apenas o tempo suficiente para perceber que o moço está novamente a três metros de distância, caminhando logo atrás de mim.

Volto o rosto para a frente com o coração aos pulos. Ele voltou! Está me seguindo! Será que vai ter coragem de falar comigo? Pensei que essas coisas só acontecessem em novelas...

Ando mais alguns passos com a respiração ofegante. Talvez ele simplesmente me siga mais um pouco para tentar descobrir onde vou, quem sou, se trabalho aqui perto.

No farol, aproveito a deixa para olhar para trás, casualmente.

Ele sumiu.

Talvez tenha simplesmente se dado conta de que esqueceu alguma coisa, resolveu fazer um caminho diferente ou mudou de idéia quanto ao que estava para fazer.

Eu e você jamais saberemos, porém.

sábado, 11 de agosto de 2007

Programa do Jô – delírios egotrípicos numa madrugada insone

(Amiga, esse vai pra você. Olha a birutéia que a nossa troca de e-mails de hoje fez brotar na minha cachola)
******************************
Jô: Eu vou conversar com a Mulher Solteira, que tá lançando pela Editora Planeta o livro “Mulher Solteira: manual da proprietária”. Vem pra cá, Mulher...

[APLAUSOS]

Jô: Como é que surgiu a idéia de escrever o livro?

Mulher: Então, Jô, na verdade o livro nasceu de um blog que eu criei na Internet no ano passado, que se chamava Mulher Solteira...

Jô: ... chamava? Não existe mais?

Mulher: É, por questões contratuais encerrei esse blog depois da publicação do livro, mas já estou bolando alguma coisa nova para os próximos meses. Não dá, agora não consigo mais ficar sem escrever...

Jô: E quanto tempo levou para escrever o “Mulher Solteira: manual da proprietária”?

Mulher: Ah, eu já tinha muitos textos prontos quando a editora me convidou para lançar o livro... na verdade foi mais uma questão de escolher os melhores, de tentar fechar um conjunto relativamente coeso, que “ornasse”...

Jô: E a proposta do livro é realmente ser um manual, tem dicas, instruções?

Mulher: Não, Jô, na verdade esse título é só uma brincadeira... o livro é bem auto-biográfico, são relatos pessoais escritos em forma de crônicas, todas de alguma forma relacionadas à condição da mulher solteira... na verdade, à minha condição de mulher solteira na época em que criei o blog...

Jô: Conta um pouco pra gente como foi que nasceu o blog.

Mulher: Então, Jô, eu na verdade vivi uma situação bastante comum, ordinária até... eu tive um namoro longo...

Jô: ... de quanto tempo?

Mulher: ... quatro anos... aproximadamente quatro anos.

Jô: Sei.

Mulher: Então, e quando eu achei que estava tudo nos conformes, que a gente ia juntar as escovas de dente e tal, levei um pé na bunda sem aviso prévio e sem precedentes na história da civilização ocidental...

[RISOS]

Jô: ... como assim?

Mulher: Não, eu tô exagerando, não foi nada grave... eu digo isso brincando porque realmente não tive nenhuma percepção de que o relacionamento fosse terminar, foi meio chocante mesmo... passei uns meses catatônica antes da ficha cair de vez.

Jô: Mas você comenta, em alguma passagem do livro, que o seu ex já havia terminado outras vezes com você, não é? Como que de repente esse término te pegou tão desprevenida?

Mulher: Ah, Jô, na verdade esse era um relacionamento fadado ao fracasso desde o início. Quer dizer, era claramente uma roubada: saca homem com medo crônico de compromisso? Com síndrome de filho único?

Jô: Não... eu sou filho único e não faço a menor idéia do que você está falando... Explica...

[RISOS]

Mulher: Ah, filho único não sabe dividir, acha que o outro tem sempre que se amoldar ao seu desejo, acha que fazer alguma coisa para agradar o parceiro é se agredir, passar por cima de si mesmo... minha experiência me diz que é muito mais difícil estabelecer parcerias amorosas duradouras com filhos únicos. Não é que seja impossível, mas olha... dá trabalho, viu?

Jô: Mas e aí, então quer dizer que o namoro já ia terminar de qualquer jeito... ainda não entendi a sua surpresa.

Mulher: Então, eu vou explicar. Acontece que o namoro começou fadado ao fracasso, tanto que rolaram vários términos... e não vou dizer que tenha sido tudo culpa do ex, eu também tinha milhares de problemas, evidentemente... quem é normal que atire a primeira pedra, né?

Jô: Tem uma senhora ali no canto se preparando pra atirar, cuidado...

[RISOS]

Jô (para a senhora da platéia): Como é o seu nome?

Senhora: Sônia...

Jô: Sônia, você acha que você é normal? Gente, nesses casos é melhor não contrariar...

[RISOS]

Jô: Brincadeira, viu, Sônia? A gente sabe que você é normalíssima, como todos nós, não é Mulher?

Mulher: Com certeza...

[RISOS]

Jô: Bom, mas continuando...

Mulher: Então, o que eu ia dizer é que lá pelas tantas, depois de a gente bater muita cabeça, se descabelar, chorar, se desesperar, a partir de um certo momento as coisas pareciam ter entrado num prumo... cê vê, Jô, a gente já estava namorando com relativa estabilidade há dois anos e meio quando ele resolveu terminar.

Jô: Sei... mas então conta pra gente do blog.

Mulher: pois é, tudo isso pra chegar no blog... o fato é que eu fiquei meio catatônica com esse término e tive uma certa dificuldade pra me reinserir no mercado amoroso, até porque não imaginei que um dia precisasse voltar a navegar pela Selva dos Solteiros... e foi a partir disso, das minhas dificuldades, das descobertas, que eu comecei a pensar na idéia de escrever esse blog. Na verdade eu sempre gostei de escrever, mas nunca tinha tido uma motivação forte pra criar um projeto de um livro ou coisa do tipo. O blog é bacana por isso, é mais descompromissado, mas também é bem interativo, as pessoas entram, comentam, se identificam...

Jô: É verdade que o seu blog já chegou a ter mais de 500 acessos diários?

Mulher: É sim, na época em que a editora se interessou em publicar o livro o blog estava bombando, e muita gente entrava pra ler por meio de outros blogs, ou mesmo de alguma busca no google ou outros sites de busca, e acabava se identificando, gostando, dando risada... e aí muita gente dizia “Mulher, isso devia virar um livro”... mas até então eu não achei que estivesse fazendo alguma coisa realmente original, tem muita gente boa na blogosfera e escrevendo com um “estilo” muito parecido com o meu...

Jô: E aí pintou o convite da editora...

Mulher: Pois é, pintou e eu resolvi arriscar... é uma coisa engraçada porque os textos acabam tratando de coisas muito, muito íntimas... mas eu sempre vivi um pouco esse paradoxo, eu sou do tipo que precisa falar à exaustão sobre um problema ou uma mágoa para conseguir superar, sabe? E a coisa mais fácil pra mim é falar sobre as minhas entranhas com um perfeito desconhecido. Só que do blog pro livro parece que a coisa fica mais séria, você sabe que o seu pai vai ler, a sua mãe... até o ex, a namorada do ex, né? É pesado!

Jô: E o ex leu?

Mulher: Imagino que sim, mas hoje em dia não tenho contato com ele.

Jô: E seus pais?

Mulher: Leram e deram a maior força, mas não tive coragem de entrar em muitos detalhes com eles...

Jô: É mesmo? Eles descobriram que você não é mais virgem, é isso? Ih! Falei!

[RISOS]

Jô: Como é o nome da sua mãe?

Mulher: Mulher Casada.

Jô (olhando pra câmera): Dona Mulher Casada, não é nada disso que a senhora tá pensando... a sua filha é uma moça pura, direita... é tudo calúnia, não acredita no que disserem pra senhora, viu?

[RISOS]

Mulher: Não Jô, acho que essa parte eles já superaram, viu? Eu me lembro que na época em que comecei a namorar, meu namorado morava no Rio e na primeira vez que eu viajei pra lá pra encontrar com ele o meu pai veio se despedir de mim e falou, bem sério: “Minha filha... não faça nada que você não esteja preparada pra fazer ou de que vá se arrepender depois...” e eu só consegui pensar “ih, pai, agora é tarde...”.

[RISOS]

Jô: Que maravilha...

Mulher: Jô, mas sabe que uma vez um amigo fez um comentário interessante sobre o blog, ele disse que gostou do jeito que eu abordava a questão do sexo, porque não deixava um leitor mais acanhado se sentir constrangido, acuado... e eu achei super bacana esse comentário porque realmente não sou das pessoas mais desbocadas, embora seja super sincera, e brinquei com ele que se um dia meu pai ou minha mãe descobrissem o blog eu não queria ter que cavar um buraco no chão de vergonha...

Jô: Conta pra gente como é a história do PA e do ATT.

Mulher: Ai, Jô... agora você vai me deixar com vergonha...

Jô: ...

Mulher: Vamos deixar a platéia matar a curiosidade lendo o livro, não é?

(Jô olhando atônito para a câmera)

Platéia: NÃÃÃÃÃÃO!!!

Jô (com ar de piada): Bom, eu conversei aqui com a Mulher Solteira...

Mulher: Tá bom, Jô, eu conto. Na verdade PA e ATT são duas modalidades de relacionamento típicas da pós-modernidade entre pessoas solteiras, mas do ponto de vista das mulheres. O PA... pode falar?

Jô: Claro, aqui pode tudo!

Mulher: Então, o PA é a abreviação de Pinto Amigo...

Jô (olhando para a câmera): Dona Mulher Casada, a senhora não quer ir buscar um copo d’água na cozinha?

[RISOS]

Jô: Tô brincando... continua...

Mulher: Então, o PA é aquele cara que a mulher conhece, rola uma química, eles dormem juntos e depois mantém uma relação casual para satisfazer as suas necessidades, vamos dizer, biológicas, né? Mas de um jeito bacana, o PA é justamente um Pinto Amigo porque rola um carinho, uma amizade...

Jô: Sei. E o ATT...

Mulher: Teoricamente o ATT também pode significar a mesma coisa, mas eu acabei dando uma conotação um pouco diferente. ATT é a abreviação de “Amigos Também Transam”...

Jô: Amigos Também Transam... que maravilha isso.

Mulher: Pois é, mas o ATT em geral começa quando duas pessoas já são amigas e acaba rolando uma energia gracinha e a amizade fica mais colorida... Só que eu, na verdade, nunca tive um ATT. É que dependendo do cara eu usava a teoria do ATT pra ele ficar mais confortável, pra não se sentir usado, um objeto sexual, né? Achei que ATT era mais digno do que PA...

[RISOS]

Jô: E me diz uma coisa (com ar de galã)... você continua solteira?

Mulher: Não, graças a Deus... encontrei um homem pra chamar de meu (risos)...

Jô: E ele tá aqui hoje?

Mulher: Sim, tá ali na platéia, é aquele homem moreno maravilhoso, charmoso, gostoso...

Jô: Boa noite, tudo bem?

Homem: Tudo bem, Jô...

Jô: Quer dizer que ela te fisgou?

Homem: Me enquadrou total! Não teve como dizer não.

Mulher: Mentira, Jô... ele me deu um trabalho danado... eu cheguei cheia de amor pra dar e ele disse que a gente podia ser amigos... foram meses de luta!

Jô: Mas valeram a pena... parabéns, viu? Vocês formam um lindo casal.

Mulher: Obrigada...

Jô: Agora, mata aqui a minha curiosidade... e o ex?

Mulher: Ah, acho que ele tá lá com a namorada dele... nunca se sabe, esses homens instáveis sempre acabam surpreendendo a gente.

Jô: É verdade que ele era músico e fez várias músicas pra você?

Mulher: É verdade... ter ex namorado músico é fogo, viu... imagina um dia você abrir o You Tube e dar de cara com uma gravação do ex cantando a música que fez pra você. É de cortar os pulsos...

Jô: E parece que você canta também, né?

Mulher: Ai, Jô, eu sabia que você ia fazer isso comigo... eu sou super tímida...

Jô: É nada, sua danadinha... eu sei que você está louca pra cantar alguma coisa!

Mulher: Ai, mas o meu pai deve tar assistindo e eu tenho certeza que vou desafinar!

Jô: Canta só um trechinho de uma música que o ex fez pra você.

Mulher: Ai meu Deus... tá bom, vai... olha, vocês vão ver como não foi por falta de aviso do ex... mas eu me encantei com o refrão e acabei não prestando atenção na primeira estrofe. O sexteto pode acompanhar?

Jô: Claro... Maestro Osmar, por favor…

Mulher:

“E o que vai ser de nós amanhã, meu amor
Eu não sei, eu não posso saber
Ah, só me resta viver esta chama
Desistir de tentar entender

Porque esse amor é coisa lá do céu
Luz de uma estrela que varre o universo
E me aquece inteiro

Então já posso abraçar o céu
Porque a saudade é vida latejando
É o meu coração esperando
O porto azul dos olhos teus...” E por aí vai...

[APLAUSOS EMOCIONADOS]

Jô: Wow! Olha, gente, eu conversei aqui com essa gracinha da Mulher Solteira... que além de ser inteligente e carismática, também é uma simpatia... Mulher, muito obrigada pela sua presença, e daqui a pouco a gente volta.

Mulher: Obrigada, Jô...

[VINHETA DE INTERVALO]

Curtas

I

Orgulho de mamã

Acabo de ir e voltar da Praça Roosevelt de carro. Sozinha. Quem falou, falou certo: é ridículo.

II

Mulherzinha


Compra-se espírito prático de segunda mão. Pagamento à vista e em espécie.

III

Dois exercícios de paciência


Um pé e um coração.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Devaneio

Eu havia me esquecido o quanto uma soneca em uma viagem de ônibus pode clarear os pensamentos. Há que se observar a duração certa da viagem, é claro. Nos meus tempos de namoro à distância, quando voltava destruída para São Paulo sem saber quando encontraria meu namorado novamente, as seis horas que separam o Rio de São Paulo quase me aniquilavam. É verdade que o choro ia amansando, as lágrimas secas iam endurecendo as bochecas e aos poucos o sono amortecia um pouco a percepção das distâncias. Mas a cada despertar, a consciência de estar a meio caminho entre ele e a minha vida era igualmente dolorosa.

De São Paulo a Campinas se vai em uma hora e meia de ônibus. Sai um carro da rodoviária a cada vinte minutos; não há ansiedade na compra da passagem. Pegando o ônibus das 11h35, aproveito o interminável sono da manhã para chegar mais rápido. Nem abro a revista. É um sono pesado, de vez em quando perturbado pelo incômodo no pescoço que não se ajeita no encosto da poltrona, mas de cochilo em cochilo se vai ao longe. E o despertar após a primeira perda de consciência já me traz a cabeça clareada, as idéias renovadas.

Porque afinal não cheguei a te conhecer. Então me despeço não de você, mas de uma idéia de você. Essa dor que eu sinto não é por alguém real, por alguém que verdadeiramente me conheceu, me amou e não me quis mais. Eu já vivi essa dor e essa, sim, pode destruir uma pessoa. Mas não a dor de perder a idéia de alguém. Essa é dor passageira, incômoda, mas inofensiva. É uma decepção pela perda de um ideal, mas não de alguém de carne e osso.

E porque, afinal, você também não chegou a me conhecer. O que você recusa é uma idéia de mim, mas não eu. E se você não quis me conhecer, paciência. Sei que vai haver alguém que queira. Em algum lugar, em algum dia, mais cedo ou mais tarde.

E assim tudo fica mais fácil. Porque não dói tanto deixar partir a idéia de alguém, e nem dói tanto que alguém rejeite uma idéia sobre mim (mas não a minha essência).

Entre uma viagem e outra, um dia e uma noite na companhia da família. Tempo para conversas, boa comida, reencontros, carinha doce da Yasmin, filme gostoso com a prima, descanso. E na volta, outro sono restaurador, que me traz de volta para São Paulo mais perto do meu centro a duras penas conquistado.

O metrô de São Paulo não tem o mesmo glamour em uma segunda-feira de manhã. As pessoas parecem mais cansadas, resignadas. Mais sofridas, mal-ajambradas. Ainda assim, a vida continua, porque tem que continuar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Desenterrando pré-posts

Agora que já delineei um pouco as “quatro estações” do meu último ano amoroso, vai ficar mais fácil localizar no tempo alguns textos que escrevi antes do Mulher Solteira nascer. Eu queria fazer isso para que os leitores não se sentissem muito compadecidos da minha pessoa, querendo me consolar ou se preocupando com a minha falta de rumo no retorno à solteirice. Gente, águas passadas! Tô muito mais safa. Mas o texto abaixo, originalmente escrito em outubro de 2006 e um dos precursores desse blog, dá um pouco uma idéia de como andava a minha cabeça nos tempos da “reambientação”.
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Reaprendendo a jogar
Depois de levar um pé na bunda sem aviso prévio do meu namorado de quatro anos apenas um mês e meio depois de termos comprado um cachorro juntos, uma semana depois de termos concordado que dali a algum tempo iríamos morar juntos e dois meses depois de ele dizer que se sentia cada vez mais feliz com o nosso namoro, eu definitivamente concluí que a minha vasta compreensão a respeito da maneira como ele pensava ou sentia era pouco mais extensa do que uma folha de alface.

Convenhamos que, para além da dificuldade de compreensão natural entre duas pessoas que se relacionam, é um fato que compreender a cabeça dos homens é um dos grandes mistérios que rondam a existência feminina, assim como os homens se debatem tentando compreender o que pensam as mulheres. Marte X Vênus talvez seja uma das grandes questões estruturais, atávicas, arquetípicas que sustentam a existência humana.

Já que a vida, contra a minha vontade, me empurrou de volta ao mundo dos sem-parceiro, decidi, apenas por hobby, voltar a praticar esse esporte radical que é tentar compreender a cabeça dos homens solteiros.

A primeira e grande pergunta que não quer calar e acomete dez entre dez solteiras, no estágio 1 de busca pela metade-da-laranja, é a clássica “por que ele pede o meu telefone e não me liga depois do primeiro encontro?”. Que fique claro que eu não fui pra balada achando que encontraria a minha metade-da-laranja e nem tive essa ilusão depois de ter ficado com os mocinhos que fiquei. Mas nesse momento de retorno à Selva dos Solteiros, conseguir ter contato físico de qualidade com parceiros relativamente passáveis não me parecia uma má idéia e, se a noite foi boa, não consigo imaginar por que não repetir a dose. Como diria uma certa amiga, um PA (Pinto Amigo) não faz mal a ninguém.

Eu confesso que não achei que fosse ser tão difícil conseguir olhar para o mesmo sujeito duas vezes (e não porque eles fossem feios). Pelo menos nas minhas já desbotadas lembranças de solteira dos idos dos anos 90, para cada homem que não ligava nos dias subseqüentes à ficada havia pelo menos um que queria te encontrar de novo.

Aqui pelas minhas estatísticas, 66,6% dos meus “ficantes” desse retorno à vida de solteiro não se deram ao trabalho de me ligar depois da nossa primeira “ficada”. Antes que vocês se sintam otimistas a respeito dos 33,3% restantes, devo informar que o único sujeito que ligou é um homem comprometido que não demonstrou absolutamente nenhum pudor em botar chifres na provavelmente bem pesada cabeça da namorada de nove (NOVE! NO-VE!!!) anos.

Que conste nas atas que eu obviamente não sabia disso quando fiquei com ele (e que ele, com a dissimulação cafajeste de que só alguns homens são capazes, jogou na minha cara que eu não tinha por que me sentir tão espantada, já que não perguntei a ele o seu estado civil antes que ele tomasse a iniciativa de ficar comigo).

Depois que a vida, contra a minha vontade, me empurrou de volta ao mundo dos sem-parceiro (e me perdoem as repetições, mas o momento exige bastante em termos de assimilação e acomodação), logo de cara fiquei impressionada de perceber quanta coisa mudou nesses quatro anos em que estive fora do mercado. Para começar, aquelas avançadinhas de sinal que aconteciam de vez em quando lá pelos idos dos meus 20 anos, reservada apenas aos homens mais ousados, às mulheres mais liberadas e às pistas de dança mais escuras, viraram a regra nas ficadas de hoje em dia. Eu, pelo menos, já constatei que três em três caras já quiseram passar a mão em tudo logo de cara.

Com o primeiro eu assustei mas pensei: “puxa, devo estar desatualizada...”. Quase pedi desculpas pela minha antigüidade. Cheguei mesmo a verbalizar, entre constrangida e tímida: “posso te falar uma coisa? Sabe o que é, eu fico meio constrangida de você tentar passar a mão na minha bunda assim, na frente de todo mundo...”

O cara me olhou com um sorriso de orelha a orelha, pediu desculpas e acrescentou: “Nossa, adorei que você disse isso, sabia?”

Eu, do alto da minha ingenuidade, pensei com os meus botões: “então é verdade o que se diz: homem gosta de mulher recatada, que põe limites. Legal, o cara valorizou.”. Na seqüência o garanhão emendou: “A maioria das mulheres simplesmente tira a nossa mão. Eu acho isso muito chato!!!”

Peraí... o cara simplesmente pega na bunda da menina dez minutos depois de conhecê-la e se ofende quando ela tira a mão dele de lá???

Esse rapaz é um forte candidato às cabeças no campeonato de falta de noção dos homens que eu conheci até agora.

Com o segundo, que por sinal era um antigo coleguinha de escola de apenas 24 aninhos, eu, me sentindo a “tia véia” diante das investidas do ninfeto, tentei pela via do afeto: “olha, posso de falar uma coisa? Você não tem nada a ver com isso, mas eu terminei há quatro meses um namoro de quatro anos... tô meio enferrujada...”.

E o rapazola responde: “desculpa, tia... é que eu sou meio taradinho”.

Ah, desculpa, ele não disse “tia” não! Foi o meu cérebro que acrescentou.

Precisei passar por isso duas vezes para conseguir perceber que o problema não era comigo. Gente, será que os caras realmente acham que a gente vai gostar de ser bolinada na frente de 200 pessoas por um sujeito que acabou de aprender o nosso nome (SE e QUANDO aprendeu)??? Juro que o próximo cara que ficar comigo e se mostrar um perfeito cavalheiro com as mãos vai subir vários pontos no meu conceito.

Pelo menos com o último consegui estabelecer alguns limites – diga-se de passagem, a duras penas. Como é que você consegue dizer isso de um jeito educado, fazer o cara entender e não achar que você está simplesmente jogando um charme pra cima dele?

O mancebo tentava colocar as duas mãozorras por dentro da minha blusa e eu sutilmente puxava as mãos de volta para o lado onde deveriam estar, até que lá pelas tantas resolvi emitir um comando vocal-verbal (aê, Manélson!): “me deixa vestida, por favor”. O rapaz responde com meio-sorriso e cara de vilão-da-novela-das-oito: “deixo... aqui eu deixo”.

Essas questões relacionadas ao público e ao privado ainda não ficaram muito claras nessa minha reestréia. Acho que ainda preciso de algum tempo para me readequar a esses novos costumes. É o sinal dos tempos...