quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

And the Oscar goes to...

Eu sou um bicho teimoso, ou melhor, preguiçoso, ou melhor, randomicamente avoado. O vizinho cansou de buzinar no meu ouvido: Mulher, você tá marcando touca nessa 2001! A locadora da esquina de casa é muito mais barata...

E eu, afundando em dívidas e afundando a minha solidão nos filmes, levei quase um ano para finalmente me lembrar de colocar um simples comprovante de residência da bolsa para fazer o meu cadastro na locadora.

Confesso que logo de cara não notei uma diferença significativa nos preços. Pra falar a verdade, a minha ridiculamente obsessiva memória para eventos dramáticos e cultura inútil não é lá um grande prodígio na arte da comparação dos preços. Deve ser por isso que eu, afundando em dívidas e afundando a minha solidão em potes de requeijão, continuo fazendo compras no Pão de Açúcar. Ah, é. Também gosto de fazer supermercado de madrugada. Coisas de solteiros solitários.

Mas de volta aos fatos: comecei a freqüentar a locadora ocasionalmente, sem sentir, de imediato, nenhum grande alívio no bolso. Foi aí que o universo conspirou para que a minha gula de ficção atacasse em plena quarta-feira. Entrei, vasculhei as prateleiras (é verdade que a oferta não é tão variada, mas sempre há algo interessante se a gente procurar com afinco), escolhi uma fita (pra usar uma gíria em desuso e provocar raivinhas em amigas ruivas) e, ao passar pelo balcão, recebi a senha para a felicidade: não quer aproveitar e pegar mais um? Hoje é dia de promoção, cada locação por 3,50. Voltei para casa feliz da vida, com dois DVDs debaixo do braço e quarenta e oito horas para desfrutá-los, tudo pela bagatela de 7 reais.

Semana seguinte, a cena se repete. Mas dessa vez, com programação noturna na quinta-feira e intensa programação diurna no feriado de sexta, só consegui assistir a um dos filmes. Ainda assim, desfrutei do privilégio de ligar para a locadora vir buscá-lo na minha casa, sem taxa de “entrega”, e deixei para acertar tudo no dia seguinte quando fosse devolver o segundo.

Na hora de pagar, a surpresa: Deu 9,50. Como? 9,50. Sabe o que é, você está um dia atrasada... Pois é, sei disso, respondi surpresa. É que pensei que fosse ficar mais caro. Não, a diária em atraso custa 2,50. Ah... Desse jeito até vale a pena atrasar, não? Levemente constrangida, a atendente não teve como não concordar.

Hoje foi dia de cinema em casa de novo. E como a primeira sessão acabou cedo, estou me preparando para a segunda. Acontece que li em um cartaz em cima do balcão que os filmes locados na promoção de quarta, se devolvidos na quinta, saem por 2,50. Imaginem o cenário: na quarta-feira alugo quatro filmes. Com uma sessão dupla na quarta e outra na quinta-feira (uma meta conservadora para alguém que não vai para a cama antes das duas da manhã), terei assistido a quatro filmes por reles 12 reais. E o preço vale tanto para catálogo quanto lançamento!

Na pior das hipóteses, vendo um filme por dia de quarta a sábado, arremato a semana com quatro novas aquisições para o meu repertório filmográfico por apenas 4,50 cada. Calculem comigo: devolvo (ou melhor, mando buscar) o primeiro filme na quinta por 2,50; o segundo na sexta por 3,50 (não dá pra assistir e devolver um na própria sexta porque a locadora fecha às 23h); o terceiro e o quarto no sábado por 6,0 cada. Tã-dã! Conta final: 18 reais.

A quarta-feira, que costumava ser o limbo insosso entre o longínquo sábado que passou e o que ainda está por vir, acaba de receber o Mulher Solteira Award de noite mais divertida da semana.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Feira livre

Amiga 1 – Mulher, dei seu msn para um cara com quem eu estava me correspondendo no Par Perfeito! Agora que eu estou com o Sicrano, como achei que ele podia ser interessante, falei de você pra ele e ele ficou a fim de te conhecer. Ele já olhou o seu Orkut e te achou bem interessante. Ah, falando em Orkut, antes que eu me esqueça: também dei o seu Orkut para um amigo do Sicrano. Nossa, se você gostar dele vai ser ótimo, porque ele é mooooito legal!!!

Amiga 2 – Mulher! Olha só: uma amiga minha lá de Ribeirão se separou do marido há pouco tempo, não tem volta, eles ficaram amigos, tudo super bem resolvido. E o Beltrano é um partidão! Tô aqui pensando em um jeito de te apresentar para ele... Ribeirão nem é tão longe, vai!

Amiga 3 – Mulher, outro dia eu estava pensando e concluí que o professor de violino da minha afilhada é A SUA ALMA GÊMEA! Ele é interessante e bonito, tem estatura mediana, é hiper sensível, não é nada gay, me parece que não é casado nem tem namorada, é super culto, é simpático, aberto, comunicativo, e é MÚSICOOOO!!! Você acha que com o nome dele e a indicação de onde ele trabalha tem como chegar no e-mail dele???

Amiga 4 – Mulher, vem cá, quero te apresentar para o meu amigo Homem, Homem, Mulher, Mulher, Homem, pronto, estão apresentados! É que eu tava comentando com o meu irmão, vocês têm tudo a ver! Mulher, o Homem também é da USP, super inteligente, é físico, então é isso, vocês podem decidir agora se querem conversar ou não, que nem a Daniela Cicarelli, hahahahaha!!! Sabe, no Beija Sapo? Então é isso, ai gente, até eu fiquei com vergonha agora, então abafa o caso, vamos dar uma circulada e se for o caso depois vocês conversam...

Amiga 5 – Mulher, atenção! Acabaram de chegar dois amigos solteiros e super interessantes! (Algumas horas depois...) Ah, eu vou te contar! As mulheres solteiras dessa mesa não estão com nada!!! Eu trago três solteiros lindos, inteligentes, interessantes para essa balada e eles vão embora porque acharam o lugar meio parado? Vocês não estão com nada!!!

Amiga 6 – Mulher, o que você acha do meu amigo Fulano, rola??? Não??? Ah, que pena, porque eu já perguntei pra ele e ele disse que pra ele rola...

Mãe da Amiga 6 – Aê, Mulher! Vamos agitar o Fulano pra você, hein???

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Segredos de liquidificador

- Então, quebrou um ovo podre no meu carro, acredita? Agora está um cheiro péssimo...
- Hum, não faço idéia de como seja cheiro de ovo podre.
- Parece cheiro de pum.
- Ah, é? Mas cheiro de pum ruim, né? Ou cheiro de pum bom, tipo ovo frito? Não, deve ser cheiro de pum ruim, se o ovo estava podre.
- ... Cheiro de ovo frito???
- Você não acha que ovo frito tem um pouco de cheiro de pum? Mas não é ruim, é cheiroso... Cheiro de pum bom. Tem cheiro de pum ruim e cheiro de pum bom.
- ... [cara de monstra]
- ... Não tem?
- ... Sei lá!
- Quando você solta um pum, não fica com vontade de continuar sentindo o cheiro?
- ... Será???
- Ué, todo mundo gosta do cheiro do próprio pum!
- Nossa, nunca reparei! Será que o pressuposto é o mesmo que leva as pessoas a olhar para o próprio cocô?
- Ah, pode ser... Porque a gente gosta de olhar o próprio cocô, mas o cocô dos outros não, né? E com pum também é assim, o pum dos outros é sempre fedido, mas do nosso pum a gente gosta.
- Se bem que quando a gente olha o cocô é por uma certa curiosidade de saber o resultado da ingestão de certos alimentos. É, acho que quando o pum está com um cheiro diferente a gente também se sente estimulado a investigar...
- Pois é. Mas de qualquer jeito a gente gosta do cheiro do nosso pum, independente do que a gente comeu.
- ... Gente... eu nunca tinha pensado nisso!
- Nossa...
- Bom, vou começar a reparar então.
- Tá, depois você me conta.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sobre a espera

Certa vez uma prima disse que eu não deveria esperar. Esperar pelo quê? Perguntei. ‘Esperar por tudo, oras.’

Pequena Gafanhota,

Eu sei que dói, e como sei, e como dói. Dói dormir, acordar, comer, trabalhar, falar, respirar, viver. Quanta coragem é necessária para arrastar esse desarticulado conjunto de órgãos, membros, ossos e carnes para as mais banais e fundamentais atividades do cotidiano. A mais fugidia sensação de paz de espírito, experimentada em um ou outro momento de entrega a algum pensamento ou tarefa desvinculada do seu objeto de amor, parece durar poucos segundos ante toda a eternidade ainda por se viver sem a presença do ser amado. Impossível não se sentir errada, pequena, insignificante, desprovida de algum encanto fundamental que deveria ser original de fábrica e não se consegue em uma revendedora qualquer.

Mas tenha calma, cara amiga. Calma e fé. Siga a estratégia dos dependentes químicos e viva um dia de cada vez, estabeleça uma meta exeqüível de se manter a salvo pelo menos por hoje. Coloque o seu sofrimento em uma perspectiva cósmica. Pense em quantas pessoas no mundo, nesse exato momento, estão passando por essa mesma, exata e insuportável dor que parece ter sido forjada aí mesmo no seu peito. Em quantas outras já passaram por essa mesma sensação de aniquilamento e hoje podem contar que a história teve um final feliz, ainda que o roteiro original tenha sofrido significativas adaptações por força das circunstâncias. Em quantas, ainda, que nesse instante vivenciam aquela mesma intensa percepção de felicidade a dois que lhe parece ter sido roubada sem possibilidade de resgate, mas em horas, dias, semanas, meses ou anos também serão obrigadas a enfrentar a solidão em um rinque de sumô.

Aplique, ainda, a perspectiva cósmica à sua própria linha do tempo. Pense no que significa essa porção de dor no universo que representa a sua vida como um todo, visualize a sua diluição no caudaloso passar das horas, dias, meses e anos que você já viveu e ainda há de viver. Use os seus olhos, ouvidos e coração para perceber que o amor acaba a todo instante, mas também renasce a todo instante e se é assim com todos, não será diferente com você.

Não tenha a ilusão, no entanto, de que qualquer um desses pensamentos afrouxará sequer um milímetro do aperto que toma conta da sua caixa torácica. Não será nesse momento, justo agora, que você encontrará forças para fazer prevalecer a razão sobre a emoção. Eles servirão apenas para que você reúna as mínimas forças necessárias para seguir vivendo e esperando, esperando, esperando.

Sim, você precisa continuar esperando. Ainda que a idéia de tomar uma pílula mágica que te fizesse dormir durante três meses pareça agora a maior das possíveis invenções da humanidade, saiba que tal engenho seria inteiramente inútil. Você dormiria e acordaria exatamente da mesma maneira, e esse lapso de tempo nada teria feito por você. É preciso dormir e acordar em cada um dos dias desses três meses, seguir vivendo apesar de tudo, obrigar-se a executar as mais ínfimas tarefas necessárias a garantir a manutenção da sua vida, e depois fazer isso por mais três meses, e mais três, e mais três, e quantos mais sejam precisos até que finalmente o tempo tenha realizado a sua ação curativa (que só acontece na sua espera ativa, como tento agora te mostrar).

Então talvez você chegue ao ponto de poder não esperar nada. Talvez se desfaça, uma a uma, de todas as suas ilusões, submeta toda a sua existência ao crivo da sua filosofia pessoal e conclua que nada nem ninguém pode ser tomado como garantido. E, diante disso, decida viver de maneira errante e errada, tomando cada um dos seus dias como a oportunidade de se surpreender com o novo e o desconhecido sem jamais se aferrar a eles e simplesmente pulando de uma experiência a outra com a única certeza de permanente admiração em relação à vida.

Pode ser que nesse tempo você também dessacralize o seu corpo e o entregue ao bel-prazer do fluxo dessas experiências. Você vai se desapropriar de si mesma e doar-se à ciência da experimentação. Vai provar um pouco de cada coisa, abrir mão do seu gosto clássico e simplesmente colocar-se à disposição de cada um dos encontros, por mais descartáveis que eles sejam, que a vida possa te proporcionar. Em cada um deles você vai sugar até a última gota das sensações, percepções, reflexões, conclusões e também o avesso de todas elas. E a pequena dor que esses encontros poderão te infligir será apenas a taxa mínima cobrada pela vida a qualquer um dos seus usuários, simples tarifa de manutenção, franquia que cobre desde os gastos com um conserto de radiador até o desgaste do relacionamento com um chefe que muda de opinião a cada 15 minutos.

Como, até então, você talvez não tenha estado aberta a vivê-los, esses encontros trarão consigo a dose de praxe de deslumbramento. A quem nada espera, a vida presenteia com surpresas permanentes, pensará você. E se entregará cada vez mais ao exercício de não fazer planos, de não buscar encontros, de não procurar amores, de não alimentar ilusões e simplesmente apanhar nas mãos essas pequenas doses diárias de descoberta. Perceberá, com espanto, que as pessoas não entram em sua vida para garantir a sua felicidade ou apaziguar a sua dor. O que há vez ou outra é a mera coincidência entre esses estados de feliz ou infelicidade e a presença ou ausência de alguém, mas a sua dor e a sua felicidade, sabe, essas ficam por sua conta.

E aí chegará o dia em que você vai enfrentar o vazio. Porque a vida paradoxalmente é muito curta e também muito longa, e despida dos seus planos, sonhos e ilusões e disposta a se entregar também a essa vivência, as horas, dias, semanas e meses se escoarão lentamente, sem que nada se possa fazer a respeito a não ser entender mais esse momento como uma nova e importante aquisição para o seu repertório. Não há nada de mal em tomar o cinema, a música ou a literatura como companhias eventuais na vivência desse vazio. Você já tem nas mãos os seus pincéis e tintas; procure pensar como seria a representação no papel desse vazio lúcido. Alimente-se das histórias alheias, mate a sua fome de vida com a ficção. E, mais uma vez, aprenda a esperar.

Exercite a sua paciência. Ouça o ronco surdo que vem de dentro do seu coração vazio, do seu estômago vazio, da sua mente vazia. Observe. Veja que, afinal, nem mesmo o vazio é capaz de anular a sua existência. Lembra-se da História sem Fim? “O nada é o vazio que resta”. Aqui, do lado de cá, o vazio é só o vazio, o nada é só o nada. Convide-os para um bom cálice de vinho, se te apetecer, ou para aquele cafezinho de que você tanto gosta.

E depois de tudo isso, Pequena Gafanhota, o que eu mais espero é que você continue esperando, e não desista nunca de esperar. Esperar nos ponteiros do relógio que o universo conspire e esperar nos ponteiros do seu coração que os seus sonhos e desejos tão preciosos encontrem outros sonhos e desejos com os quais possam seguir viagem. Afinal, o que seria de mim, de você, dele, sem os nossos sonhos e desejos? O que é o homem sem o seu projeto? Então, espere sim. Oxalá eu possa continuar sendo sua amiga para ainda te ver roendo todas as unhas dos dedos esperando, sabe lá, por um telefonema, ou de coração acelerado esperando por um beijo, ou de boca seca esperando por uma boa notícia, ou de pés inchados esperando pela chegada de um filho.

Essa sua anatomia errada, esse seu todo-coração, é o bem mais precioso que você possui. Se você já sabe o quanto pode sofrer com a perda, tem que saber também que a única coisa que não pode perder nunca é a capacidade de amar, pois o seu amor não está nele nem em nenhum outro, mas em você. Essa capacidade é o único pré-requisito para a sua felicidade nessa vida.

Bons encontros com a sua dor e delícia. Estarei aqui.

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* Esta não é uma obra de ficção. Qualquer semelhança entre pessoas, lugares e acontecimentos terá sido fruto de uma dolorosa mas frutífera vivência pessoal e intransferível.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Olhos de cortar cebola

E ainda tem gente que duvida da tenacidade das cebolas.

Vejam, contrariando todas as expectativas, na casa da mulher menos habilidosa com os vegetais, ainda durante o período de luto de uma violetinha que desistiu de lutar pelos direitos das mulheres, fazendo inveja aos ovos da prateleira de cima, uma cebola teimou em germinar em plena geladeira, pôr os tentáculos pra fora e pedir passagem.

A mulher não ousou contrariar a força da natureza. Pediu licença à alma da finada violetinha e transplantou a cebola para o seu vaso. Mas muito mais não fez. Aguou quando lembrou de aguar, deixou o vaso mais perto da janela e ao sabor do vento, vez ou outra lembrava de conferir o resultado do experimento. Foi viajar por ocasião do ano-novo e a deixou entregue à própria sorte.

Dias, semanas se passaram e a cebola continuava exatamente do mesmo jeito. Os tais tentáculos pouco cresceram, não pareciam fazer muita questão de ganhar mundo para fora do vaso ou da janela.

Ocorreu à mulher que, tendo plantado a cebola inteira, talvez faltasse espaço para que ela se desenvolvesse em sua plenitude naquele vaso acanhado. Ainda temendo que o choque do segundo transplante fosse demais para a cebola, como outrora acontecera com o seu feijão de batata que não vingou na terra, a mulher arriscou a mudança para um pote de sorvete, duplex, arejado, 3 suítes, andar alto, cozinha e banheiros azulejados.

Foi tirar a cebola da terra e descobrir um viçoso maço de folhas compridas e espevitadas, que se ajeitavam como podiam no subsolo. Contavam causos de vidas passadas em peles de tomates, joaninhas e sabiás enquanto esperavam o bom-senso da mulher prevalecer e ela finalmente perceber: plantara a cebola de cabeça pra baixo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Édipo

No ano passado, em uma das inúmeras despedidas de solteira às quais fui convocada a comparecer (evento que se torna relativamente corriqueiro quando nos aproximamos dos 30), uma das amigas da “noiva” levou, para tornar a noite mais divertida, um texto escrito por Gisela Rao (escritora inspirada de dilemas femininos, feministas e afins) sobre “Coisas que você deve fazer antes de casar”.

Entre idéias cômicas e/ou inviáveis como “coma uma pizza de alho inteira”, “passe um mês sem fazer depilação” e “pose para a Playboy ou participe de um concurso de Miss”, uma delas me pareceu um tiro certeiro e fez soar o bom e velho sininho interno: “resolva sua relação com o seu pai”.

Eu não sei se ter problemas de relacionamento com o pai é um universal das mulheres, mas certamente foi algo que marcou a minha trajetória de forma importante. Meu pai é um sujeito brilhante, inteligentíssimo, extremamente musical, bem-informado, culto, ponderado, articulado, provocador. Junto com o pacote vieram um senso crítico bastante exacerbado, uma grande rigidez, uma enorme dificuldade de falar sobre sentimentos e uma carga de expectativa em relação às pessoas sempre um pouco além daquilo que elas são capazes de oferecer.

Uma amiga querida sempre se admirou da formalidade das nossas brigas e dizia que na minha casa todos discutiam “em cima do púlpito”. Ninguém era capaz de sacar um “não enche o saco!” ou “fico triste quando você me trata assim”; pelo contrário, todo e qualquer ponto de discordância era pretexto para um longo debate solidamente sustentado por argumentos, fatos, ilustrações e refutações.

Mas aquilo que realmente ia na alma de cada um, as tristezas, as frustrações e o desapontamentos nunca conseguiam ser claramente expressos e acolhidos pelo outro. Ficávamos rancorosos, cada um de um lado, sofrendo com o seu próprio sentimento de incompreensão.

A santa análise nos ajudou a aceitar um ao outro e a nós mesmos. No fundo somos muito parecidos. E o que ele viveu e sofreu serviu de modelo para que eu evitasse alguns equívocos importantes. Mas, curiosamente, o momento de maior abertura e transcendência (expressão emprestada do amigo blogueiro Gustavo Gitti) que vivemos em nossa relação aconteceu exatamente depois e em função do fim do meu namoro.

Quando disse que queria se separar, meu ex-namorado não expôs claramente os seus motivos. Acabou se apoiando em algumas frases-padrão do tipo “não está legal para mim” e “preciso viver outras coisas”. Eu, que sequer percebera que estávamos em crise, continuei alimentando durante algum tempo a esperança de que fosse apenas uma fase, um questionamento típico de alguém que vive um relacionamento longo que começa a se encaminhar para uma vida a dois.

Então, três meses depois, quando a minha melhor amiga veio à minha casa para contar que o ex estava namorando com uma de suas amigas, que ele havia conhecido graças a mim, o choque foi bem grande. Depois da nossa “conversa de despedida”, que já relatei em algum outro post deste blog, voltei para casa incapaz de comer, dormir, ver TV, ler ou fazer qualquer outra coisa que exigisse mais do que simplesmente respirar. Passei algumas horas catatônica na minha cama, esperando um horário minimamente decente para travar contato com qualquer ser humano da face da Terra.

(Foi nessa madrugada que percebi que uma das minhas cachorras estava com o rabo sujo e a coloquei em cima da máquina de lavar roupa para lavá-lo no tanque. Me virei para buscar o sabonete e no próximo segundo ouvi um baque surdo e encontrei a pobre criatura estatelada no chão, de barriga para cima, olhos esbugalhados e língua para fora. O desespero foi tão grande que, em câmera lenta, fiz tudo ao contrário do que manda o figurino dos primeiros-socorros: levantei-a do chão, sacudi, berrei “NÃÃÃÃÃO!!! MIIIMIIIIII!!!!”, balancei, virei de um lado, do outro, levei-a para a sala... Depois de alguns segundo andando em círculos como uma barata tonta, encontrei a caderneta telefônica com o celular da veterinária... O tempo que levei para conseguir encontrar os oito dígitos no aparelho de telefone foi o tempo que a Mimi precisava para começar a se recuperar do estado de choque, abrir os olhos e levantar a cabeça, ainda meio tonta. Depois de seguir as orientações da minha vet, seguir os procedimentos de praxe e constatar que não havia ocorrido nenhum grande dano, desabei a chorar e desabafei em plena madrugada com a Santa Cíntia: “Aa-aaaaaai, Ciiiiiiiii, tô pé-éééssima, bu-áááá!!!!!!!!! Acabei de descobrir que o R. tá namora-aaaando, UÁ-ÁÁÁÁÁ!!! Com uma amiga da minha melhor ami-ii-iiiiga, BU-UUUÁÁ-ÁÁ!!!”. Quem precisar de indicação de uma veterinária que não só zela pela saúde dos seus cães às 4h30 da manhã como ainda tem a humanidade de ouvir o seu desabafo histérico no meio da madrugada, pode mandar um e-mail para
blogmulhersolteira@gmail.com.)

Às 6h30 achei que já era possível encontrar alguns espíritos práticos com bons ouvidos de pé e comecei a telefonar. A primeira pessoa que procurei foi Manélson, mas ela ainda estava com o celular desligado. A segunda cotovia da minha lista era a minha mãe. O telefone tocou quatro vezes e quem acabou me atendendo, contrariando todas as expectativas do universo, foi meu pai. “Oi, filhinha... Tudo bem?” “Ai, pai, mais ou menos... posso falar com a mamãe?” “Claro... Mas será que eu posso te ajudar em alguma coisa, filhinha?”.

Eu já estava tão vazia, dilacerada e anestesiada pela dor que deixei de lado todos os pudores que fizeram com que, durante toda a minha vida, a minha mãe tenha sido a eterna intermediária nas minhas conversas sentimentais com o meu pai. Abri meu coração, expus minhas entranhas, proclamei o fim da minha crença nos homens, no Amor, na Felicidade.

Meu pai me ouviu pacientemente, amorosamente, com um cuidado, um carinho e uma cumplicidade que nunca antes haviam tido espaço para se manifestar entre nós. Disse, com todo o respeito, que sempre aceitara as minhas escolhas amorosas, mas se aborrecia com algumas coisas que minha mãe contava a ele a respeito do meu relacionamento com o R. Sentia-se chateado com atitudes que não lhe pareciam suficientemente amorosas, companheiras, cúmplices.

Quando eu disse ao meu pai que não acreditava que um amor pudesse durar para toda a vida e talvez as pessoas apenas se acostumassem umas às outras, ele iniciou a sua cura socrática: “Você acredita no amor da sua irmã e do seu cunhado? Acredita no amor do seu tio e da sua tia? Acredita no amor que existe entre mim e sua mãe?” Respondi com uma cortante sinceridade, contaminada pelo desolamento que eu sentia naquele momento, que às vezes me perguntava se o que havia entre eles não era o simples resultado do hábito de uma vida partilhada durante mais de três décadas.

Então meu pai me deu a mais bonita lição de vida: “Sabe, Filhinha, existe uma faceta da intimidade de um casal que nem sempre é visível para quem está fora da relação. Talvez por isso você não consiga perceber o quanto eu e sua mãe nos amamos”.

E acrescentou, colocando bálsamos nas minhas feridas: “Sua mãe é a pessoa mais altruísta e generosa que eu conheço. O cuidado e a atenção que ela tem com os seus avós, as suas tias, seus primos, comigo, com vocês, com a minha família, é algo ímpar. Eu sei que não fui um bom pai em boa parte do tempo, mas tenho certeza de que a sua mãe foi a melhor mãe do mundo para vocês. O que nós temos hoje é o resultado de um projeto de vida que nós criamos juntos e você e a sua irmã sem dúvida são a parte mais importante desse projeto. E acho que fomos muito bem-sucedidos”.

É difícil explicar o movimento de ordenação, ajustamento, encaixe, alinhamento que essas palavras provocaram em mim. Se eu algum dia tive alguma dúvida sobre a existência do amor, ela persistiu durante aquelas poucas (mas infinitas) horas entre a minha “descoberta” e a conversa com o meu pai.

A dor ainda durou muitos meses e foi preciso passar por muitos estados de ânimo antes de reencontrar o meu centro, minha identidade, meus desejos, sentimentos e sonhos individuais e a construção de sentido que hoje me acompanha e me faz uma pessoa feliz. Mas aquela conversa com o meu pai não apenas me reconciliou com a minha capacidade de amar como permitiu, finalmente, que eu e meu pai déssemos as mãos e nos tornássemos, para o resto da vida, companheiros de caminhada.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Luto e superação

Inspirada pela mensagem de uma leitora, pela leitura de O Passado e uma esbarrada em antigos e-mails na minha caixa postal, voltei para casa mais uma vez pensando no fim do amor, enquanto dirigia no silêncio da madrugada.

Aconteceu de mais de uma amiga que não me via há algum tempo perguntar, recentemente: e então, você superou o R.?

Que pergunta complexa. Que palavra abrangente, “superar”. Durante as férias, enquanto caminhava sozinha pela praia, ou nos longos banhos de mar durante o pôr-do-sol, invadida por um bem-estar e uma sensação de semi-plenitude, senti que finalmente estava pronta para deixar o passado para trás. Se até algum tempo me perguntassem o mais íntimo dos meus desejos, confessaria que era voltar a viver aquele amor. Agora, porém, consigo desejar viver outros amores, experimentar, renovar, acreditar que há ainda muito amor dentro e fora de mim que precisa circular, acontecer.

Mas superar no sentido de esquecer, de apagar, de deixar de sentir falta, doer? Hum, difícil. E era sobre isso que eu pensava, lembrando das palavras da minha interlocutora enquanto narrava o seu lento processo de recuperação pós-separação.

Confessar a impossibilidade de superação completa de um término, quase um ano e meio depois que ele aconteceu, não me parece algo patológico, problemático ou passível de pena. No fundo, a equação é simples. Não acredito que seja exagero nenhum afirmar que o fim de um amor equivale a uma morte. Especialmente quando unilateral, mas mesmo quando se acaba lentamente, aparentemente sem causar maiores danos, como era o caso de Sofia e Rimini.

Uma separação amigável, bem-resolvida, consensual. Mas ainda assim uma morte, com a qual cada um tentava lidar à sua maneira. Rimini estacionou na fase da negação. Pensava no passado como um bloco, assim era mais fácil simplesmente deixá-lo para trás. Separar as fotos do casal, dividir aquela história ao meio, desmembrar as duas vidas lhe era impossível. Sofia, por sua vez, não podia abrir mão de continuar fazendo parte da vida de Rimini, de lhe ser especial, de ter privilégios, de continuar usufruindo da intimidade e do prestígio que o amor lhe conferira. Como diz a contracapa do livro, ela é a enterrada viva na cova desse amor. Não é à toa que o editor da Trip recomendava fugir das leitoras de O Passado. Ele dói do começo ao fim, é a anatomia da incompetência humana em lidar com o luto do amor.

Voltando, portanto, à questão da superação. Se a separação equivale a uma morte, será que a palavra “superar” dá conta de exprimir a real possibilidade de deixar o passado repousar e prosseguir com a vida, apesar da perda? Alguém “supera” a morte de um pai, de uma mãe, de um filho?

Esbarrar em uma mensagem escrita cerca de um mês antes do fim: “Doce, como você está, meu amor? Está melhor? Te amo. Beijos, R.”. Como duvidar da presença, da realidade, da corporeidade, da legitimidade desse amor? Como “superar” essa perda?

A única diferença a nos redimir no luto amoroso é que, diferentemente de um pai, uma mãe, um irmão ou um filho, que são únicos e insubstituíveis, aos humanos foi concedida a inestimável capacidade de amar mais de um parceiro amoroso durante a vida. A quem se apropria verdadeiramente da sua capacidade de amor, muitas são as chances, as oportunidades e os encontros que a vida proporciona.

Donde se conclui, então, que se nos é impossível verdadeiramente nos desapegarmos do que vivemos e de quem amamos de maneira espontânea, a possibilidade de redenção perante a morte não reside em outra coisa senão em amar, seguir amando, mergulhar sem reservas no fluxo do amor até que o passado possa dar lugar ao novo, ao vibrante, ao possível, ao inesperado, enfim, à vida.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lado B

Manélson se convida para vir à minha casa comer uma pizza e assistir ao primeiro dia do Big Brother Brasil 8, no seu clássico estilo “que bom que eu liguei”.

O namô de Manélson não entende a graça do programa e ela explica, didaticamente: “vamos passar um tempo juntas, comer pizza e falar mal das pessoas, ora!”.

Amem ou odeiem, eis aqui um farto material para a análise do comportamento humano. “É divertido, ué!”, arremata Manélson, definitiva. E conclui [depois de comer quatro pedaços de pizza]: “acho que não vou comer chocolate de sobremesa... é que eu tô de regime, sabe?”

Pérolas da noite:

“Já sei, vamos esperar todo mundo entrar na casa e aí a gente faz um bolão de quem vai ficar com quem?”

“Putz, essa é mala!”

“Olha, a mala também é ruiva!”

“Será que ela é ruiva natural?”

“Meu, todo mundo vai me encher o saco se essa ruiva começar a causar confusão...”

“Você acha a ruiva bonita?”

“Olha, essa é humilde, vai durar.”

“Nossa, deve ser um saco namorar esse psiquiatra... fica analisando tudo!”

“Eu tô renegando tudo que é meu: os ruivos e os psis”

“Ah, essa é descolada, gostei dela... mas podia ter retocado as luzes antes de entrar na casa!”

“Análise do discurso: se ela disse ‘além do meu corpinho, quero mostrar também o que penso’, leia-se ‘quero mostrar o meu corpinho’.”

“Meu, o Pedro Bial é muito carismático!”

“Nossa, achei esse fio-dental totalmente dispensável...”

“Vou mandar um sms pra Moderninha ficar numa boa!”

“Essa aí deve ser a ‘Chatália!’”

E quem não tem um lado B(BB) que atire a primeira pedra.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Minha vida sem mim

As viagens de férias sempre exerceram esse estranho efeito sobre mim. Nos primeiros dias ainda muito conectada àquilo que havia acabado de deixar para trás, fazendo planos e saboreando a expectativa do que estava por vir. Aos poucos, lentamente, ia me desligando do meu cotidiano, da minha casa, das minhas coisas, como se minha vida nunca houvesse sido outra que não aquela que eu vivia naquele momento, naquele lugar e com aquelas pessoas.

Não era à toa que eu tentava adiar a volta para a casa até o último minuto. Era assim nos acampamentos (eu sempre tentava ficar uma segunda temporada, mas minha mãe só deixou uma vez), foi assim quando fui ao Peru, era assim sempre que ia passar o ano novo em São Gonçalo, com meu primeiro namorado, em Brasília ou Minas com o último. A estratégia da procrastinação, minha velha conhecida, não só se mostrava inócua diante do propósito de afastar tanto quanto possível o retorno como o fazia ainda mais sofrido. Chegando na segunda de manhã e indo direto para o trabalho ou a faculdade, o choque de civilização causava um bode tremendo. Tudo parecia sem sentido, minhas escolhas não pareciam minhas, me sentia sem lugar.

O tempo passou, as férias diminuíram, os bodes também ficaram mais administráveis. Já não é preciso viver tudo até a última gota porque a Era dos Extremos ficou para trás. Volto a São Paulo em plena noite de quarta-feira, ainda com quatro dias de férias pela frente. Apesar do tempo para tomar pé, aquele leve e paradoxalmente familiar estranhamento me toma assim que chego à casa de minha mãe.

Lá faço uma parada de dois dias enquanto espero o mecânico concluir a revisão do meu carro, parado em uma oficina do bairro (curiosamente mais barata do que a do meu bairro). Aproveito para testemunhar o absoluto à vontade das minhas periquitas na “Colônia de Férias da Vovó”. Elas dominaram a casa, estão mimadas, mal-acostumadas, com todas as suas vontades caninas satisfeitas.

Me entupo de TV a cabo nas duas noites em que passo lá. Agora é oficial, definitivo: PRECISO de TV a cabo. Também aproveito para ler a biografia do Tim Maia (biografias casam perfeitamente com férias de janeiro) e tirar longos cochilos no sofá da sala.

Na sexta à noite, possante nos trinques, coloco a turminha no carro e nossa modesta bagagem de cinco malas, me despeço da mama (“ela vai sentir falta das cachorras”, profetiza meu pai) e rumo para o meu apê.

É como se essa breve passagem pela casa da minha mãe, que deixei para trás há quase três anos, me preparasse para o retorno à minha própria casa. Essa casa que só faz sentido pra quem acredita que se bastar – em todos os sentidos – faz parte do caminho natural do ser humano. Uma casa que um dia já foi encarada também como ponto de passagem – e no fundo todas são – e acabou se tornando paragem definitiva. Casa, diga-se de passagem, entendida como entidade metafísica, já que fisicamente ela mudou de lugar há quatro meses.

Chego carregada de malas, lembrando da bagunça que deixei para trás na pressa de viajar. Uma chuva fininha molha o estacionamento descoberto. Carrego as periquitas no colo, menos para evitar que se molhem e mais para tê-las perto de mim no momento da chegada.

Ocupamos o espaço aos poucos, caminhas voltam para os seus lugares, tigelinhas de comida, de água, jornal. Elas logo estão dormindo, capotadas da farra que aprontaram no último dia de férias. Zapeio a TV, tomo um banho e vou para o sofá ler mais um pouco do Tim. Não fosse por esses dois pequenos corpinhos peludos respirando perto de mim, eu estaria me sentindo quase como quando passei minha primeira noite nesse prédio, em janeiro de 2004. O apartamento anterior era branquinho e a rua tão silenciosa que eu me sentia na Lua, distante de tudo e de todos. Uma solidão levemente aterrorizante.

Aqui já é e não é a minha casa. O chão é diferente, a paisagem mudou, os vizinhos de porta também, mas os móveis e os hábitos são os mesmos. O chuveiro mudou para melhor. A disposição para cozinhar, que viveu seus dias de glória durante o namoro, tirou um ano sabático em 2007.

Vou dormir tarde, acordo tarde, ouço o recado de uma amiga no celular. Penso na outra amiga que havia sugerido um cinema e jantar na noite anterior. Penso em levar as dogs para um banho no pet shop. Penso em comprar um presente de aniversário para o meu pai. Mas a inércia me puxa para o sofá e de lá não saio a não ser quase cinco horas depois, com a biografia do “rei do soul” devidamente terminada. Só então tenho disposição para procurar as amigas, mas todas já estão programadas ou fora da área de serviço.

Passo o primeiro sábado do ano como muitos que eu vivi em 2007: em casa e sozinha. Na época em que eu namorava, quando o ex, envolto em crises existenciais, me informava às seis da tarde que queria passar a noite em casa e sozinho, a perspectiva de um sábado como esse me parecia sombria. A maior parte das amigas se solidarizava, mas uma delas, mais velha e mais sábia do que as outras, me deu o chacoalhão: “desde quando o coração sabe o dia da semana?”.

Hoje os meus sábados solitários já não assustam nem doem. Aos poucos a minha vida vai se tornando minha, escolhida, apropriada, assumida, vestida, agarrada. Faço compras sem pressa no mercadinho do bairro. Passo na locadora e alugo três filmes, para me dar a liberdade de escolher entre o existencial, o de humor fino ou o sentimentalóide. Já em casa, cozinho amorosamente uma refeição para mim mesma. Nada de mais: arroz, bife e salada. Mas como com gosto, feliz enquanto vejo a novela das oito.

Antes de me preparar para a sessão de cinema, escrevo o primeiro post de 2008 com uma periquita dormindo refestelada na caminha que ganhou da vovó e outra pertinho dos meus pés, e penso: esse vai ser um ano danado de bom.