domingo, 16 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

Então eles se casaram e viveram felizes para sempre.
Ou quase.

Vinte anos aparentemente felizes, dois filhos criados, uma casa comprada, um negócio prosperando e muitos planos conjuntos concretizados depois, um dia ela nota algo de diferente.

- Você está bem, amor?
- Não.
- O que foi?
- Acho que não te escolhi. A vida escolheu por mim, não fui eu que te escolhi.
- ...
- Não sei se te amo. Não sei se quero continuar com você.
- ...

Ainda levaram dois anos – longos e sofridos – para se separar efetivamente.
Hoje ele caminha em busca de algo que não sabe bem o que é. Espera poder dizer um dia que algo em sua vida foi fruto de uma escolha sua. Ela, na outra direção, caminha em busca de aprender a desejar novamente, depois de quase uma vida inteira de certeza sobre o acerto da sua escolha.

Como pode ser acertada uma escolha para dois que só foi feita por um?
Como é possível viver durante vinte anos com aparente felicidade uma vida que não foi escolhida?

A cada instante, a vida vai se revelando menos exata do que nos ensinaram. Ou talvez ninguém tenha ensinado, talvez tenha sido tudo fruto da nossa própria imaginação. Talvez seja apenas um arranjo psíquico necessário para suportar a angústia de saber que não há uma única pessoa no mundo que seja sempre igual a si mesma (nem nós mesmos), que amar alguém pode ser o caminho mais curto para causar sofrimento a ele ou ela, que nem sempre as pessoas precisam de um bom motivo para deixar de se amar.
Amar. Amor. É o tipo de conceito sobre o qual não se pode ter nada além de um juízo empírico, absolutamente singular, parcial e intransferível.

Que ninguém tenha a pretensão autoritária de julgar o amor de outrem menor, menos belo, menos válido. Que ninguém se arrependa de ter vivido um amor sem higiene, independente de quais tenham sido as suas circunstâncias e o seu fim.

A vida não é exata. O amor não é exato. É algo tão complexo que acaba ficando simples.

Woody Allen que o diga.

7 comentários:

Ex-finge disse...

adorei a frase: "Que ninguém se arrependa de ter vivido um amor sem higiene"

Cláudia disse...

Não concordo que a escolha não tenha sido dele. Foi dele, ele fez a escolha - no mínimo - quando se omitiu perante a escolha que a vida fez pra ele.
Pode ter se arrependido da escolha que fez; ou a vida mudou e a escolha revelou-se não mais adequada. Mas a desculpa de que "escolheram por mim" é covarde.
bj

Letícia disse...

Concordo com a Cláudia. Até ficar em cima do muro é uma escolha...

Bjos

Mulher Solteira disse...

Eu também concordo com a Cláudia. A pergunta "Como é possível viver durante vinte anos com aparente felicidade uma vida que não foi escolhida?" é puramente retórica.
Beijos.

Renatinha disse...

Vou ler só na quarta pois amanhã vou ver este filme, pode ser? Estou curiosa....
beijo
Re

Rebeca Bondioli disse...

tudo que precisava ler nesse dia que tive:
A vida não é exata.

Beijo prima.

Renatinha disse...

Vi o filme e vi que ele mexeu com vc...
Somos todas Vickys e Cristinas se equilibrando se revezando e somos Maria Elena sempre que a paixão surge... Enfim... nada tão simples, nada tão higienico...rs
Mas tudo muito complexo.
beijo
Re