domingo, 25 de janeiro de 2009

Entre nós

Noite dessas, rolando na cama sem conseguir dormir (foram algumas assim, essa semana), me peguei pensando em você. E uma dúvida me passou pela cabeça: será que é comum você despertar nas pessoas essa sensação que desperta em mim? Uma hora me sinto próxima, muito próxima de você. No momento seguinte, você me parece um estranho.

Aí me peguei pensando o que é que você faz de vez em quando que me dá essa sensação de tanta proximidade. Talvez seja a sua sinceridade extrema – com contornos diferentes do meu Transtorno de Sinceridade Compulsiva – que, se às vezes chega ser desconfortável, em outros momentos deixa transparecer um afeto e até uma doçura que me surpreendem.

Por outro lado, os nossos tempos são absolutamente diferentes. Se eu passo dois meses sem falar com você, quando te encontro você diz: “estava quase te mandando um e-mail”... Se marcamos de nos encontrar e não dá certo, a sua próxima visita só vai acontecer muito tempo depois, por acaso, quando eu já não estiver mais esperando. Então, talvez seja esse seu timing, tão estranho para mim, que me faça sentir a anos-luz de você em outros momentos.

Uma vez te acusei de não ser transparente e você se chateou. Acho que você tinha razão. Não é que você se esconda; simplesmente é da sua natureza ser opaco. Ou, ainda, o meu olhar, “nítido como um girassol”, não é capaz de perceber e distinguir seus matizes. E, embora eu me ressinta do meu excesso de obviedade, não posso deixar de admitir como é boa a sensação de ter sempre ainda algo a descobrir a seu respeito.

Eu confesso, às vezes também me chateio. Você sabe disso. (E pede desculpas, me desconcertando mais uma vez.) Mas faço o possível para não te julgar. Quem disse que você tem que ser igual a mim? Quem disse que ser diferente de mim é sinal de indiferença? Você sabe, continuo praticando a tolerância às diferenças. Ainda acho que ela gasta mais calorias do que uma aula de hip hop e faz bem ao coração (será que ajuda a diminuir os efeitos do prolapso na válvula mitral?).

Eu poderia mandar essa mensagem diretamente a você. Mas, sendo este um desses momentos em que me sinto distante, preferi colocá-la em uma garrafa e soltá-la no mar, esperando que ela encontre o seu destino. Afinal, não foi assim que aconteceu da primeira vez?

É isso aí. Sinto sua falta.

6 comentários:

MH disse...

lindo texto, querida! Adorei!

Renatinha disse...

Soco no estômago... lindo texto e mexeu comigo, já vivi algo parecido, a sensção destas relações que vão da intimidade total ao descaso doentio nos faz ficar meio à deriva da vida, né?
beijo
Re

Sarah disse...

lindo o texto, ja escrevi mto sobre isso tb, ja q vivo num relacionamento q foi mto conturbado ate se tornar um de fato. Esse papo de querer que o outro seja igual, é batata, nos angustia q não reajam como nós. Força e boa sorte!

Anônimo disse...

Pra constar que a garrafa sempre chega rapidinho depois de aprendido o caminho das correntes.

neli araujo disse...

Cris, adoro o que você escreve, linda! :)
beijocas
tia bó

Isadora Canto disse...

Genial...