terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O(s) dia(s) em que a Terra parou

Parecia uma terça como outra qualquer. Saí esbaforida de casa, às 6h55, cinco minutos antes do início do rodízio. Estou a dez minutos de carro do trabalho e, com um pouco de sorte, até hoje nunca fui multada nos meus cinco minutos de atraso, apesar de passar bem em frente à CET na Marquês de São Vicente.
Chuvinha chata, tudo molhado, tempo feio. Na Pompeia, alguns semáforos desligados. Confusão de carros nos cruzamentos. “Onde estão os marronzinhos quando precisamos deles?”, pensei, concluindo que chegaria ao trabalho mais tarde do que nas outras terças-feiras.
Diante do Shopping Bourbon, a fila de carros já não andava. Até então, parecia tudo culpa dos semáforos. Na Marquês de São Vicente o trânsito definitivamente parou. “É hoje que não escapo do rodízio”, pensei. Paciência. Liguei o rádio. Nada de o carro andar. Nenhuma informação de trânsito na Alpha, nem na Nova Brasil. Resolvi sintonizar na Eldorado.
“Nesse momento há 65 pontos de alagamento em São Paulo. As duas marginais estão fechadas. Não há rotas alternativas. Se puder, não saia de casa. Chove há mais de doze horas e a cidade está em estado de atenção”.
Desligo a chave no contato. Estou ridiculamente perto do trabalho, mas a fila simplesmente não anda. Alguns carros começam a atravessar o canteiro e pegar a pista em direção oposta. Além de temer a infração (a poucos metros da CET...), penso que não faz sentido voltar para casa agora, que estou tão perto.
Dez minutos. Vinte. Trinta. Cinquenta. O locutor de rádio pede que os motoristas mandem SMS com informações de trânsito. Nunca participei de um programa ao vivo! Logo ouço o meu recado no ar: “Andei 20 metros nos últimos 50 minutos. E estou a 200 metros do trabalho! Estou na Ermano Marchetti, perto da TV Cultura. Cristina”. O locutor comenta: “realmente, esta parece ser uma das regiões mais problemáticas, Regina”. REGINA? Puxa, na minha primeira participação ao vivo o locutor errou meu nome. Falta de consideração...
Os motoristas continuam escapando pelo canteiro da esquerda. Troco SMS com meus colegas de trabalho: onde estão? Não venham para cá! A Lu me avisa que a empresa está às escuras, com apenas três funcionários, e que a região do entorno está alagada. Sugere que eu volte para casa.
Mando mais um SMS para a Eldorado: “Pô, Caio, você me chamou de Regina! Mandei SMS há 40 minutos, continuo no mesmo ponto da Ermano Marchetti, com o carro desligado. Cristina”. O locutor pede desculpas, repete meu nome três vezes, diz que eu entendi mal e que ele não me chamou de Regina. Meus cinco minutos de fama graças às chuvas de São Paulo.
Quando vejo que daquele mato não sai coelho, rendo-me à barbárie. Dou seta para a esquerda, atravesso o canteiro, pego a pista contrária e chego em casa em dez minutos, às 9h15, praticamente duas horas e meia depois de ter saído. Hoje não tem expediente...
Não foi a minha primeira experiência do tipo. Dez anos atrás, durante as férias da faculdade, fui passar uns dias em Lorena, na casa de uma amiga. Na hora de comprar a passagem de volta, apesar de ser em geral a última a deixar a festa, resolvi ser ajuizada. Tinha uma sessão de acupuntura marcada para de manhã cedo, resolvi voltar no fim da tarde da véspera. Mesmo sendo Lorena tão perto de São Paulo, se algum imprevisto acontecesse eu chegaria atrasada e perderia a sessão, nada barata, com a qual eu arcaria do meu próprio bolso.
No meio da Dutra, o ônibus para. E não anda mais. E continua sem andar durante mais de uma hora. Um mar de carros para frente e para trás, todos desligados. Era a greve dos caminhoneiros. Não havia o que fazer, para onde ir. Dormimos lá, dentro do ônibus, no meio da estrada. O pior foi eu achar que, pelo fato de não ser um ônibus leito, não havia banheiro disponível. Minha bexiga foi duramente testada naquela noite.
No dia seguinte, seguimos viagem. Cheguei em São Paulo na hora do almoço. Obviamente, perdi a sessão de acupuntura.

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