Depois de trabalhar durante quatro anos no subsolo, em salas sem janela ou com janelas que davam para o mais puro ar do estacionamento, olhando para paredes com mofo ou para trilhas de formiga, mudei de emprego e literalmente subi na vida: fui para o terceiro andar, sento de frente para a janela, meu lixo é limpo três vezes por dia, trabalho com um computador novíssimo, em uma cadeira para lá de confortável.
Mas o melhor de tudo é o banheiro. Banheiros individuais são um luxo! Especialmente para pessoas que, como eu, sofrem de prisão de ventre. Quer coisa mais constrangedora do que se haver com as suas dificuldades de evacuação ouvindo conversas alheias? (E, o pior de tudo, sendo ouvida?) Isso quando a chefe não resolvia despachar lá mesmo, no banheiro. Sorte que a surdez sempre foi desculpa convincente (e real) para não prolongar muito os assuntos separados por paredes.
Além disso, o banheiro coletivo do trabalho anterior não primava pela limpeza e não era raro encontrar um “presentinho” da usuária anterior, ou mesmo experimentar na pele os problemas de relacionamento com a descarga e depender da boa vontade de uma vizinha de boxe para conseguir um balde com água e apagar as provas do crime. Felizmente, são águas passadas...
Na nova sala, além dos banheiros claramente sinalizados e próximos das estações de trabalho, há um outro, de canto, escondido, que só fui descobrir depois de alguns dias. Levei algum tempo para entender por que algumas pessoas caminhavam resolutas naquela direção e só retornavam após alguns minutos. A desvantagem é que o espelho e a pia ficam em área externa – fora do campo de visão dos colegas de sala, é verdade, mas de frente para uma das janelas que dão para a rua principal –, inibindo aquela checagem obrigatória do perfil, dentes, cabelo, olhos e sobrancelhas. Por outro lado, uma vez que você passe por aquela porta, pode se ausentar durante um tempo significativo sem que os seus colegas de trabalho desconfiem dos momentos difíceis pelos quais você pode estar passando.
Dias atrás, o banheiro feminino principal estava ocupado e me dirigi ao “privê”. Antes de desabar sobre o vaso, no entanto, notei que ele estava sem água. Ufa! Ainda bem que percebi a tempo! Imaginem que mico usar o banheiro quebrado logo nas primeiras semanas do novo emprego. Discretamente me recompus, abri a porta e me encaminhei à segurança do banheiro nosso de cada dia.
Um ou dois dias depois, a cena se repetiu. Mais familiarizada com os altos padrões de qualidade da empresa – que se refletem, inclusive, na manutenção dos banheiros –, desconfiei da minha percepção inicial sobre o vaso quebrado. Afinal, a troco do quê deixariam um banheiro descontinuado sem nenhuma sinalização, permitindo que os funcionários passassem pelo constrangimento de utilizá-lo sem condições mínimas de higiene? Ou melhor, por que esperariam mais de dois dias para mandar consertá-lo? Por via das dúvidas, antes de qualquer coisa resolvi acionar a descarga. Bingo! A água jorrou na horizontal, de um lado para o outro da cavidade sanitária, com vazão suficiente para eliminar qualquer vestígio dos aliviamentos. Satisfeita, atendi ao chamado da natureza e voltei tranqüilamente aos meus afazeres.
Na terceira tentativa de usar o banheiro, resolvi arriscar: sem testar a descarga, entreguei minha contribuição ao vaso e torci para que o princípio da uniformidade da natureza humiano não me deixasse na mão. Foi nesse ato de coragem que entendi o fascínio que o tal banheiro exerce sobre as pessoas: já imaginou ter a oportunidade diária de examinar a sua produção “in natura”?
Mas o melhor de tudo é o banheiro. Banheiros individuais são um luxo! Especialmente para pessoas que, como eu, sofrem de prisão de ventre. Quer coisa mais constrangedora do que se haver com as suas dificuldades de evacuação ouvindo conversas alheias? (E, o pior de tudo, sendo ouvida?) Isso quando a chefe não resolvia despachar lá mesmo, no banheiro. Sorte que a surdez sempre foi desculpa convincente (e real) para não prolongar muito os assuntos separados por paredes.
Além disso, o banheiro coletivo do trabalho anterior não primava pela limpeza e não era raro encontrar um “presentinho” da usuária anterior, ou mesmo experimentar na pele os problemas de relacionamento com a descarga e depender da boa vontade de uma vizinha de boxe para conseguir um balde com água e apagar as provas do crime. Felizmente, são águas passadas...
Na nova sala, além dos banheiros claramente sinalizados e próximos das estações de trabalho, há um outro, de canto, escondido, que só fui descobrir depois de alguns dias. Levei algum tempo para entender por que algumas pessoas caminhavam resolutas naquela direção e só retornavam após alguns minutos. A desvantagem é que o espelho e a pia ficam em área externa – fora do campo de visão dos colegas de sala, é verdade, mas de frente para uma das janelas que dão para a rua principal –, inibindo aquela checagem obrigatória do perfil, dentes, cabelo, olhos e sobrancelhas. Por outro lado, uma vez que você passe por aquela porta, pode se ausentar durante um tempo significativo sem que os seus colegas de trabalho desconfiem dos momentos difíceis pelos quais você pode estar passando.
Dias atrás, o banheiro feminino principal estava ocupado e me dirigi ao “privê”. Antes de desabar sobre o vaso, no entanto, notei que ele estava sem água. Ufa! Ainda bem que percebi a tempo! Imaginem que mico usar o banheiro quebrado logo nas primeiras semanas do novo emprego. Discretamente me recompus, abri a porta e me encaminhei à segurança do banheiro nosso de cada dia.
Um ou dois dias depois, a cena se repetiu. Mais familiarizada com os altos padrões de qualidade da empresa – que se refletem, inclusive, na manutenção dos banheiros –, desconfiei da minha percepção inicial sobre o vaso quebrado. Afinal, a troco do quê deixariam um banheiro descontinuado sem nenhuma sinalização, permitindo que os funcionários passassem pelo constrangimento de utilizá-lo sem condições mínimas de higiene? Ou melhor, por que esperariam mais de dois dias para mandar consertá-lo? Por via das dúvidas, antes de qualquer coisa resolvi acionar a descarga. Bingo! A água jorrou na horizontal, de um lado para o outro da cavidade sanitária, com vazão suficiente para eliminar qualquer vestígio dos aliviamentos. Satisfeita, atendi ao chamado da natureza e voltei tranqüilamente aos meus afazeres.
Na terceira tentativa de usar o banheiro, resolvi arriscar: sem testar a descarga, entreguei minha contribuição ao vaso e torci para que o princípio da uniformidade da natureza humiano não me deixasse na mão. Foi nesse ato de coragem que entendi o fascínio que o tal banheiro exerce sobre as pessoas: já imaginou ter a oportunidade diária de examinar a sua produção “in natura”?
11 comentários:
Olá..adorei seu blog..
Lindo..redação impecável.
Poxa que evolução...sair do terreo e ir para o terceiro andar com esse luxo todo..
Parabéns.
Abraços
Nao tenho blog..sou apenas leitora.
Núbia rj
nubiarj_56@hotmail.com
hehehe
eu sofro desse mal. basta mudar alguma coisa na minha dieta, ou mesmo nos meus horários, e trava tudo! mas nunca consigo resolver o problema fora de casa, em locais públicos... quem sabe com um banheiro "private"!
só uma perguntinha... quem é vc mesmo? eu te conheço? rsrsrs
a gente é péssima, só sabe falar de combinar algo...
beijo!
Olha Cris,
Nunca tive este privilégio de banheiros privativos em empresa. Mas já trabalhei em uma que eram 7 homens e só eu de mulher na criação, o que com o tempo fez com que os banheiros fossem transformados por eles em unisex e acabou com a minha vida.
Mas, boa sorte no novo banheiro, ops novo emprego!
beijos
Re
Dizem que o banheiro diz tudo sobre um lugar! MB o post, vou analisar quando estiver numa hora difícil.
P.s: O banheiro do meu trabalho NÃO é privativo. Rs, é duro ter que segurar o insegurável!
Produção?! HAHAHAH.
Isso me lembrou de um tio que chama o ato de "obrar". Não me agrada nada produzir ou deixar a minha obra em qualquer lugar... kkk.
1 anoooo! eeee!
bolinho pra nós!
beijo.
Oi, cheguei aqui pela Neli, tudo bem? Eu também já tive esse sofrimento banheirístico. Trabalhava num banco, onde as senhoras da limpeza passavam a manhã inteira conversando no enorme banheiro, então eu simplesmente não conseguia resolver minha vidinha. Legal você falar desse assunto com tanta naturalidade.
Ah, Cris! O que seria da Rádio Peão do nosso ex-trabalho se não fosse aquele banheiro??? E ele se prestava ainda a consultório sentimental e, como você bem colocou, sala de reunião com a chefe! Era quase melhor que a sala triângulo... rsrsrs
No banheiro do meu novo emprego tem até armário para guardar necessaire! Falta só sabonete da Natura... A gente tá é muito chic!
Beijos!
Gostei daqui.
Fiquei curiosa sobre o emprego anterior. Era chefe de estacionamentos??
Beijo, VS.
Para os problemas de privada, detergente! (dica valiosa, resta saber o quão potente são os detergentes brasileiros)
Beijos.
Que bom que você subiu na vida!!!Ah! Ah! Ah!
E com direito a banheiro "especial" e tudo o mais...
Eu mudei de andar, do térreo para o primeiro andar... mas o banheiro!!!
Piorou, e como... rsrsrs
Amei a sua crônica.
Bjs
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