quarta-feira, 8 de abril de 2009

Corpo

- Não me lembro de você, anunciou altiva, espremendo das palavras o seu salvoconduto.

- Eu lembro de você. E os olhos confirmaram.

Tarde demais. Já era duas.

De fora, a bala na boca pateticamente escancarada, a recusar pipocas. Céus, precisava ter aberto o bocão? Sentiu que desfaleceria se a linguagem verbal não viesse silenciar o corpo.

Mas ser corpo é o princípio primeiro que a todo custo se tenta ocultar. As mãos se guiaram sozinhas noite adentro.

3 comentários:

Meme disse...

Namoro... Esse blog é lindinho!!!

Anônimo disse...

Manérsa Lispector :-)
Beijo, Manelson

Anônimo disse...

Relendo as boas coisas que escreve, tive uma nova dimensão do que seja 'escrever'. Entrei em meu profile do orkut, no qual postei um fragmento de algo que vc escreveu, com os devidos créditos dados à sua autoria, e vi um recente visitante do meu perfil. Para minha surpresa quando fui ao perfil dele, ver de quem se tratava, vi que a única descrição que existia era uma 'coisa' minha, que eu escrevi no meu perfil... de minha autoria. E, ele sequer colocou umas simples aspas... À princípio, por ser a primeira vez que isso me ocorre, senti-me lisongeada, mas, passado alguns segundos, e dada a total apropriação dele a algo que é uma extensão da minha personalidade, de um modo imoral, sinto-me profundamente lesada, e percebo agora o quanto estamos ligados ao que escrevemos... As 'coisas' que escrevemos, 'parimos' na verdade, e não sei se rompemos o cordão umbilical... não sei se somos capazes de nos auto-expropriar de um fragmento da nossa própria personalidade... Não sei o que sentir ou fazer... Aliás, não sei o que se faz numa situação dessas... Nem levava tão à sério o que, eventualmente, escrevo... Mas, ainda assim É MEU... MEU... Não tal qual o objeto que furtivamente conquisto e do qual me aposso... Mas, meu... meu como aquilo que na perspectiva do outro está ali para ser apossado, tal qual sentimo-nos diante das coisas que não são 'de nós', e às quais necessitamos 'coisificar' para nos apossarmos! Nenhum outro universo intangível é admissível de ser admirado com senso de alteridade? Admirar sem reter ...