sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Meditação

Nos meses de dor a amiga dizia: “é como ver uma cidade pela janela de um carro. Agora você acabou de sair dela, mas aos poucos vai começar a vê-la cada vez mais longe... daqui a um tempo você vai vê-la longe, longe... até ela ser só um borrão, uma mancha colorida no horizonte”.

A analista dizia: “tem pelo menos um ano para começar a doer menos. Você vai ter que atravessar todos os aniversários – o seu, o dele, o de vocês –, o Natal, o Ano Novo... não se assuste se você ficar um pouco regredida nessas datas.”

Eu dizia: “é como um espiral. A minha recuperação vai fazendo voltas, passando por momentos de dor e momentos de tranqüilidade. Não é uma linha reta, é circular, mas cada volta para a dor é menos doída do que a anterior.”

Todas tínhamos razão. Já faz quase um ano e meio. Cada vez fica mais longe. Os primeiros aniversários ainda doeram. A cada etapa da recuperação, uma pequena recaída, mas levantando cada vez mais rápido.

E o seu aniversário veio de novo. E sabe do que mais? Eu só lembrei dele quase no fim da tarde, fazendo um ofício apressado. Ainda me bateu uma dúvida: 18 de outubro? Era 18 de outubro? Ah, é, era no mesmo dia que o meu, só que em outubro...

Eu passei a madrugada da véspera quase sem dormir, com uma enxaqueca horrível. Mas não me lembrei do seu aniversário. Ele chegou, passou e a vida continuou.

Tento me projetar para o futuro como uma pessoa evoluída, que vai conseguir te encontrar de novo e sorrir, perguntar sobre as suas coisas, contar das minhas sem ficar amarga, sem parecer irônica e nem sentir as pernas bambearem. Será que um dia vai dar pé?

Eu não sei. Faço esse exercício mental quase diário de te ver de longe, como a cidadezinha da janela do carro. Às vezes consigo, às vezes não. Hoje, por exemplo, me peguei entrando no seu site e clicando no botão para a minha música.

As suas músicas são quase como filhas para mim. Filhas postiças, que vieram junto com você e, depois da separação, eu deixei de visitar porque não são minhas, só posso vê-las de longe, do outro lado da rua. Mas vira e mexe me pego distraída, cantarolando uma delas. E a música que você fez pra mim é como a filha que um dia a gente quis ter juntos, aquela com quem você sonhava e que agora vai ser de outra mulher.

A minha música faz o meu coração dar nó. Vem uma saudade que quase não cabe dentro da minha casa. Como o amor que você um dia teve por mim, aquele que não cabia dentro de você.

E por que eu continuo fazendo isso, mesmo com você lá longe, mesmo doendo cada vez menos, mesmo tendo aprendido a viver sem você?

Talvez para confirmar para mim mesma, como numa oração: eu vivi. Eu amei. Minha vida não passou em branco.

11 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa sua meditação! ;)
Sabe, que me sinto bem assim, depois que meus grilhões se soltaram, também tenho a esperança de poder encontrá-lo,sorrir e tudo mais. Porque muito do que aconteceu entre a gente (esse meu ex)me transformou na pessoa que sou hoje...
Mas há um problema: acabou numa inimizade forte e hoje, já não penso ser tão possível olhá-lo e sorrir...

Fernanda disse...

eu sei o que é isso... meu último relacionamento não teve um fim... simplesmente acabou e ficou em aberto. mesmo depois de 3 anos ficou difícil até hoje me relacionar com alguém.

espero um dia conseguir olhar pra trás e vê-lo ficando pequeno nas minhas lembranças. no aniversário dele também esqueci... só lembrei no dia seguinte, mas fica ainda um vazio do lugar dele na minha vida.

Anônimo disse...

Que texto lindo! Tão lindo que dói. E você ainda tem coragem de dizer que falta inspiração?
Vou voltar para o meu silêncio.

Beijo.

Anônimo disse...

UAUUUUUUUUUUU...
Que inspiração mulher!!!
E swe valeu para tudo isso, tenha certeza... valeu! Certamente vc cresceu, mudou e mto...
Hj vai rolar HH por volta das 19hs... bora?
Call me...
Bjinhos

30 anos 200 palavras por minuto disse...

Como alguém disse ainda pouco: texto lindo; tão lindo que dói.
Afe!

Anônimo disse...

ai, ai... Maninha, Maninha...

beijos da janela do carro, do teu lado :-)

Manelson

Logan Araujo disse...

É como dizem tudo passa.
Tem um meme pra você lá no blog ok!
Beijos

Anônimo disse...

Oi Erica,

minha última conversa também não foi muito amigável, mas acho que na época precisávamos viver essa ruptura. Quem sabe um dia seja possível ficar só com a parte boa de tudo o que aconteceu...

Fernanda,

é difícil encarar o vazio, né? Mas fundamental... boa sorte pra nós duas.

Amiga,
quando falta inspiração a gente cavuca umas feridas antigas e ela volta, né? Espero que saia do silêncio mais vezes.

Ei, bjinhos! Não rolou HH sexta, nem baladinha no sábado, nem kebab no domingo... mas a esperança é a última que morre!

Afe, amiga fanta! A beleza dói às vezes, né? Adorei te ver ontem.

Maninha, não entendi se o seu comentário foi em tom de reprovação, de solidariedade ou mezzo mezzo... Mas tá tudo bem por aqui, viu? Que bom que quando o carro foi embora vc ficou do lado de dentro da janela ;)

Wolverine,
obrigada pela lembrança! Sabe que abri uns três livros e não apareceu nenhuma frase minimamente interessante? Desanimei...

Anônimo disse...

Putz... mais desencontros que isso, só se a gente marcar de desencontrar! hehehe
Perdeu, pq a mulherada tava animada... Tô cansada do fds... vai ser dureza a semana! Sorte que é curta!
APARECEEEEEEEEE
Bjinhos

Anônimo disse...

Manelson,
ai ai de suspiro mesmo! rsrs
foi soliedariedade.. :-)

beijos!!!

Renatinha disse...

Texto lindo..... espero que a dor passe e que os dias voltem a fazer sentido.... bjs