Uma das coisas que a minha vida de solteira me mostrou é que eu sou macha pra caramba. Mesmo com o coração em frangalhos, consegui sustentar a minha independência financeira e emocional e administrar uma casa, um trabalho, um carro, uma faxineira, três estagiários, duas cachorras e, principalmente, a mim mesma.
Em um determinado momento do ano passado a minha mãe me jogou um canto de sereia (afinal, ela é uma sereia, não?) para que eu voltasse a morar na casa dela, mesmo que temporariamente. O convite não fez sentido para mim. Embora eu me sentisse um pouco sem chão e tudo aquilo que eu havia sonhado e desejado para o meu futuro tivesse deixado de existir de uma hora para a outra, assumi as minhas escolhas como sendo minhas e decidi que o caminho da independência era um caminho sem volta.
O mais importante, porém, é que para além de sobreviver e conseguir administrar as coisas, em pouco tempo eu consegui resgatar a minha alegria. Reencontrei o prazer de pensar e conversar sobre a vida e os relacionamentos; de escrever sobre isso; de ler um livro até de madrugada, sem vontade de parar; de ver um filme que me deixa leve, leve ou me conduz para os meus recantos mais sombrios; de sentir o meu corpo através da yôga, das caminhadas pelo bairro com as cachorras, da dança; de ouvir música, de cantar, de conversar sobre a música; de ajudar, prestigiar ou simplesmente estar na companhia dos amigos; de rir até a barriga doer e as lágrimas escorrerem; de me emocionar com a beleza que existe em cada pessoa. De estar viva, enfim.
E quanto mais eu resgatava essas alegrias, mais forte me sentia. Foi-se o tempo da melancolia, da fragilidade, da instabilidade. Veio o tempo do equilíbrio, da sabedoria, da maturidade. E então eu me deparei com esse grande paradoxo: o amor, o estar com o outro, o relacionamento amoroso, que me parece um dos encontros mais sublimes e necessários da vida, sempre despertou em mim o meu lado mais primitivo, regredido, infantil.
Pensando sobre isso, me dei conta de que um dos maiores aprendizados da minha vida até hoje foi esse aqui: as pessoas não existem para promover o nosso prazer ou aliviar o nosso sofrimento. Elas existem, simplesmente. E espera-se que possam, na maior parte do tempo, compartilhar conosco os nossos momentos de dor e alegria. Mas ser o responsável pela felicidade ou infelicidade de alguém é um fardo demasiado pesado para se carregar.
Eu sempre me perguntava, com curiosidade: como será que essa minha fase “mulher solteira” vai afetar os meus próximos relacionamentos?
Então alguém se aproximou. E gostou de mim. E quis saber mais e mais sobre a minha dor e a minha delícia. E me deixou entrar na sua vida. E por mais que tudo isso viesse acompanhado de uma grande dose de medo, dúvida e angústia, o meu coração começou a bater acelerado outra vez.
Infelizmente, junto com o frio na barriga e o suor nas mãos vieram, com toda a força, a fragilidade, a melancolia, a instabilidade. E a pergunta: Por que essa necessidade, ou, mais ainda, essa vontade de mostrar tudo isso para o outro? É quase como uma forma de dizer: “Olha, eu sou isso aqui. O pacote é esse. Vai encarar? Não é bolinho não, pensa bem...”. Aos olhos do outro aparece uma pessoa desmantelada, desmilingüida, esfacelada. E por mais que esse outro tenha continência, afeto, disponibilidade e queira encarar a empreitada, às vezes fica tudo muito, muito indigesto.
Conversando sobre isso com uma amiga (o que seria de nós sem os amigos?) veio a luz: “Mulher, você não precisa repetir esse padrão de fragilidade em todos os seus relacionamentos. Você é forte, não precisa disso”. É verdade, não preciso mesmo. E o mais estranho de tudo é pensar no quanto, no momento em que tudo aconteceu, isso era algo muito consciente para mim. Ainda assim, não consegui fazer diferente. (Auto-sabotagem?)
Eu tinha muita curiosidade em relação ao meu futuro e ele chegou. E eu rateei. Mas já estou aqui apertando uns parafusinhos de novo. Se a gente não aprender com a experiência, não sai do lugar.
Eu sinto que perdi uma coisa muito preciosa e me sinto triste por isso. Não sei o quanto eu fui responsável pelo que aconteceu, porque, afinal, para além das nossas ações, desejos e buscas, há o eterno parecer do imponderável – aquele deus que decide, aleatoriamente, lá de cima, a quem ele vai conceder o privilégio do encontro. Mas não posso me eximir da minha responsabilidade – para comigo mesma. Não posso me deixar desmantelar – por mim mesma. Ficou a lição. Na hora em que tudo começar a derreter como uma geléia e der aquela vontade de sentar no pudim, tem que vir de dentro o comando: “Mulher! Put yourself together!”.
Já dizia o meu amigo Riobaldo: “viver é muito perigoso”. Mas também é danado de bom, não é? Então vamos em frente que atrás vem gente. E sem perder a ternura jamais...
Em um determinado momento do ano passado a minha mãe me jogou um canto de sereia (afinal, ela é uma sereia, não?) para que eu voltasse a morar na casa dela, mesmo que temporariamente. O convite não fez sentido para mim. Embora eu me sentisse um pouco sem chão e tudo aquilo que eu havia sonhado e desejado para o meu futuro tivesse deixado de existir de uma hora para a outra, assumi as minhas escolhas como sendo minhas e decidi que o caminho da independência era um caminho sem volta.
O mais importante, porém, é que para além de sobreviver e conseguir administrar as coisas, em pouco tempo eu consegui resgatar a minha alegria. Reencontrei o prazer de pensar e conversar sobre a vida e os relacionamentos; de escrever sobre isso; de ler um livro até de madrugada, sem vontade de parar; de ver um filme que me deixa leve, leve ou me conduz para os meus recantos mais sombrios; de sentir o meu corpo através da yôga, das caminhadas pelo bairro com as cachorras, da dança; de ouvir música, de cantar, de conversar sobre a música; de ajudar, prestigiar ou simplesmente estar na companhia dos amigos; de rir até a barriga doer e as lágrimas escorrerem; de me emocionar com a beleza que existe em cada pessoa. De estar viva, enfim.
E quanto mais eu resgatava essas alegrias, mais forte me sentia. Foi-se o tempo da melancolia, da fragilidade, da instabilidade. Veio o tempo do equilíbrio, da sabedoria, da maturidade. E então eu me deparei com esse grande paradoxo: o amor, o estar com o outro, o relacionamento amoroso, que me parece um dos encontros mais sublimes e necessários da vida, sempre despertou em mim o meu lado mais primitivo, regredido, infantil.
Pensando sobre isso, me dei conta de que um dos maiores aprendizados da minha vida até hoje foi esse aqui: as pessoas não existem para promover o nosso prazer ou aliviar o nosso sofrimento. Elas existem, simplesmente. E espera-se que possam, na maior parte do tempo, compartilhar conosco os nossos momentos de dor e alegria. Mas ser o responsável pela felicidade ou infelicidade de alguém é um fardo demasiado pesado para se carregar.
Eu sempre me perguntava, com curiosidade: como será que essa minha fase “mulher solteira” vai afetar os meus próximos relacionamentos?
Então alguém se aproximou. E gostou de mim. E quis saber mais e mais sobre a minha dor e a minha delícia. E me deixou entrar na sua vida. E por mais que tudo isso viesse acompanhado de uma grande dose de medo, dúvida e angústia, o meu coração começou a bater acelerado outra vez.
Infelizmente, junto com o frio na barriga e o suor nas mãos vieram, com toda a força, a fragilidade, a melancolia, a instabilidade. E a pergunta: Por que essa necessidade, ou, mais ainda, essa vontade de mostrar tudo isso para o outro? É quase como uma forma de dizer: “Olha, eu sou isso aqui. O pacote é esse. Vai encarar? Não é bolinho não, pensa bem...”. Aos olhos do outro aparece uma pessoa desmantelada, desmilingüida, esfacelada. E por mais que esse outro tenha continência, afeto, disponibilidade e queira encarar a empreitada, às vezes fica tudo muito, muito indigesto.
Conversando sobre isso com uma amiga (o que seria de nós sem os amigos?) veio a luz: “Mulher, você não precisa repetir esse padrão de fragilidade em todos os seus relacionamentos. Você é forte, não precisa disso”. É verdade, não preciso mesmo. E o mais estranho de tudo é pensar no quanto, no momento em que tudo aconteceu, isso era algo muito consciente para mim. Ainda assim, não consegui fazer diferente. (Auto-sabotagem?)
Eu tinha muita curiosidade em relação ao meu futuro e ele chegou. E eu rateei. Mas já estou aqui apertando uns parafusinhos de novo. Se a gente não aprender com a experiência, não sai do lugar.
Eu sinto que perdi uma coisa muito preciosa e me sinto triste por isso. Não sei o quanto eu fui responsável pelo que aconteceu, porque, afinal, para além das nossas ações, desejos e buscas, há o eterno parecer do imponderável – aquele deus que decide, aleatoriamente, lá de cima, a quem ele vai conceder o privilégio do encontro. Mas não posso me eximir da minha responsabilidade – para comigo mesma. Não posso me deixar desmantelar – por mim mesma. Ficou a lição. Na hora em que tudo começar a derreter como uma geléia e der aquela vontade de sentar no pudim, tem que vir de dentro o comando: “Mulher! Put yourself together!”.
Já dizia o meu amigo Riobaldo: “viver é muito perigoso”. Mas também é danado de bom, não é? Então vamos em frente que atrás vem gente. E sem perder a ternura jamais...
9 comentários:
Querida: amei! MTO MTO MTO...
Lindas as palavras! E certamente é lindo tb vc perceber, sentir que pode sim, que vale a pena, aconteça o que acontecer...
A gente não tem bola de cristal p/ ver nosso futuro, mas tem a possibilidade de crescer e amadurecer p/ que este futuro possa ser ainda melhor.
E enquanto não temos 1 companhia p/ dividirmos os bons e maus momentos, que sejamos a melhor das companhias... p/ nós mesmas!
Bjinhos e vamo que vamo que mtaaaaaaaa coisa boa está reservada p/ a gente! CERTEZAAAA...
Essa frase da Clarice diz tudo: "Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.Sem nenhum medo. Não mata."
É verdade, não mata, a gente tem que por isso na cabeça quando a fragilidade bate, quando o medo vem e nos imobiliza.
Muito bom esse seu texto! Adorei!
É um ótimo sinal quando passamos a perceber nossos comportamentos-padrão, que nem sempre fazem bem, porque aí começamos a aprender como deixá-los pra traz... Portanto, se não foi dessa vez, pelo menos vc com certeza já deu um passo pra se libertar!
beijo
onde eu assino?
então
às vezes a gente quer ser bem mulherzinha pra ver o homenzinho talvez bancando o homão.
Mas não.
E aí nhéum nhéum nhéum nhééééum (com aquela cara de 'xi! faiô!")
Beijunda, Manelson.
Aninha,
é isso mesmo! É bom também para entender que não deu certo nem errado: foi o que dava para ser. E com certeza valeu!
Érica,
que bom que você gostou! E nada como a Clarice para confirmar as nossas suspeitas... :)
MH,
mais vale o caminho do que a chegada. Mas que o caminho seja cada vez mais agradável, né? ;)
Fabiana,
você pode estar pegando as três vias da requisição, estar preenchendo todas elas e estar colhendo o carimbo no guichê 27. Hahahahahahaha!
Manérsa: podicrê! É "nhéum nhéum nhéum nhééééum" na cabeça!!! :)
Que lindo...
a vida é assim mesmo, estou nesta fase tb de me ver sozinha de repente, com 3 cachorros, administrando a casa, trabalho, estágio, amor, solidão, vinho sozinha.... e os encontros um dia virão e espero ser eu mesma, sem a carga da dor..... bjs e continue assim.... adorei ler este texto. bjs Re
Inventei uma placa hj.:
Procura-se homem bundão para que meu joelho diga: deu no saco
beijos, Manelson
Rê,
o difícil é achar o equilíbrio do "ser eu mesmo", né? Acho que no fundo a gente não vai aprender nunca... mas não pode nunca desistir de continuar tentando também... boa sorte!
Manélson: engraçadinha... :)
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