quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Encontros e ex-encontros

Vinte e vários anos, um blog e nenhuma certeza. Uma ou duas quebradas da vida e aprendeu a não esperar mais pelo certo. Encontros que a vida proporciona, certos e errados.

Assim se conheceram. Força de expressão. Acharam-se. Ele a leu, diz curtiu o romantismo, já a conhecia há muito tempo? Intrigado, resolveu dar as caras.

Ela respondeu animada. Valei-me, Nossa Senhora da Interatividade. De brinde um presente musical e a dica de que ele prestava atenção.

Palavras escritas às duas da manhã, laptop apoiado em caixas de papelão. Pensamento ainda sem forma que começa a ocupar boa parte do dia.

Pergunta pouco, fala muito, descobre mais ainda. Tantas semelhanças com o ex que até se assusta. Mas não esquece a lição: viver o encontro...

Cento e quarenta páginas. Setenta per capita. Menos de um mês. Começa a assustar. Mas a conversa é boa...

Quer ser safa, mas tem coração de moça. É romântica, mas cabeça é de mulher. Não sabe se fica ou se vai, se vai ou se fica. Entra na toca, mas espalha farelos de pão (que os passarinhos não comeram) indicando o caminho do esconderijo.

Ele espera, espreita. Responde em código morse: sabe quem ela é, e ela também. Está tudo certo.

Daí pros esse-eme-esses um pulinho. Dois, três, quatro por dia. Loucura, baby, loucura. Quem é? Que cara tem? O último, lá pelos idos do século passado, não tinha um dos dentes da frente. Ela educada demais para fugir pela janela do banheiro. Achou-se vacinada. Qual!

Quando do desencontro, sem saber direito a cara de um, o focinho de outro (com dente? Sem dente?), ela decide passar da rede à vida. Vai no susto, pega desprevenido, ele em bicas, ela em frouxos de riso.

Só a música salva. Ela mezzo-mussarela, mezzo-calabresa: o descompasso era inevitável – mas, afinal, ele era ele!

Ele queria ouvi-la cantar ainda por um bom tempo...

Coração de moça e cabeça de mulher solteira andam cada um para um lado. Escolha é renúncia... O sim é maior que o não? Ele tão menino...

Reciprocidade assusta. Mais: a certeza do outro aumenta a dúvida do um. Ele vem com energia... Vem menino, manso, mas afirmativo. Escreve, torpedeia, convida, pergunta, conta, fica perto. Ela responde, retorna, não vai, vai, embarca, hesita, fica perto.

E o medo? Ele sabe dela. “Minha vida é um livro aberto”. Ela, não obstante, teme. Ele não veio de passagem. E ela é auto-declaradamente “definitivamente a mulher certa”, mas queria errar! Só não à custa dele.

Incertezas conduzem a desfechos precoces. Ao som de “Eduardo e Mônica”, um dia ela racha, ele diz vem, ela vai, uma coisa leva à outra, a outra leva a outra ainda e essa ainda leva a uma terceira, mas depois essa última não leva a lugar nenhum. E diante disso, ela segue recomendações médicas e sorri um sorriso amarelo.

O que fazer quando se chegou perto demais? O impostor só fala sobre o tempo – persona ou self.

Ela tenta ser bad, bold, wiser, hard, tough, stronger, cool, calm, mas não calça 36. Entre o que se deve ser ou o que se é, fica com a segunda opção, torcendo pela múltipla escolha. Suas entranhas numa bandeja.

Altruísmo ou inconsciência, ele tenta, desajeitado, mas não nasceu equipado para tal (Ah, o curioso hiato existente entre o discurso e a ação!).

Por fim, jorra: “não quero!”.

Primeiro o alívio (mulheres amam palavras!), depois a mansidão e, por fim, o vazio. Vida irônica. Disse uma sábia: “cada um de nós assume um risco ao entrar em relação com o outro. Cuide do seu que ele cuida do dele”.

Palavras não quebram ossos. Silêncio de lado a lado. Quantos equívocos...

Resta um blog. Ela tem internet discada, mas desconfia que nem uma banda larga teria dado conta de tantos desejos velados.

11 comentários:

UrbAnna disse...

Texto maravilhoso!
Adorei! Parabéns!

Anônimo disse...

Wow! Vou soar repetitiva, fazer o quê? O texto ficou lindo (leve e descontraído em alguns momentos como se você tivesse se "libertado" ou superado alguns obstáculos - estou viajando?). Okay, essa é a minha terceira tentativa de comment, agora preciso encontrar o colar da Estela.
Amo você.

Anônimo disse...

Maninha,
adorei. Sempre penso, nessas situações: ok, vai virar texto. É "bloggable" :-)
beijos

Anônimo disse...

O coração tem disso, né?!?
Quando algumas pessoas notam, a felicidade escapou pelos dedos, que nem areia.
Um pena...

Anônimo disse...

O coração tem disso, né?!?
Quando algumas pessoas notam, a felicidade escapou pelos dedos, que nem areia.
Um pena...

Renatinha disse...

Muito lindo.... parabéns pelo texto.
bjs Re

Anônimo disse...

Namoro ou amizade, não importa. Lavou a alma lindamente, como sempre. Belo texto. Como diz o poeta, "enloucresça".
beijos, Flavia Rea

Anônimo disse...

Querida: tenho descoberto que "viver cada dia como se ele fosse único" é das melhores conquistas da maturidade. Lá no fundinho, td o que eu quero é que não seja único... Mas vamo que vamo...
Êta programinhas desencontrados! Tentaremos nesta semana. Bjinhos

Anônimo disse...

Anna,
que bom que você gostou! Obrigada!

Mãe da Estela,
quando eu te falo sobre o poder terapêutico da escrita, você não acredita... é sim, a escrita ajuda a apertar alguns parafusinhos e nos "libertar". Achou o colar da Estela? Tatu também te ama.

Maninha,
no limite, qualquer fato da vida é bloggable, não? Tudo depende de acionar o olhar curioso e interessado...

R. Paschoal,
será que escapou e escorreu? Ou será apenas que algumas felicidades estão fadadas a serem efêmeras?...

Rê,
obrigada! Fico feliz que você tenha gostado.

Flavia Rea,
que bom que você continua comparecendo, minha amiga querida... enloucresçamos ;)

Bjinhos,
tamos ficando velhas e sábias, não? Huahuahuahua :))) Carma que uma hora a gente se reencontra...

Anônimo disse...

amei o texto!

beijo.

Anônimo disse...

Drika: legal! Amei sua visita. :)
Beijos!