Inspirada pela mensagem de uma leitora, pela leitura de O Passado e uma esbarrada em antigos e-mails na minha caixa postal, voltei para casa mais uma vez pensando no fim do amor, enquanto dirigia no silêncio da madrugada.
Aconteceu de mais de uma amiga que não me via há algum tempo perguntar, recentemente: e então, você superou o R.?
Que pergunta complexa. Que palavra abrangente, “superar”. Durante as férias, enquanto caminhava sozinha pela praia, ou nos longos banhos de mar durante o pôr-do-sol, invadida por um bem-estar e uma sensação de semi-plenitude, senti que finalmente estava pronta para deixar o passado para trás. Se até algum tempo me perguntassem o mais íntimo dos meus desejos, confessaria que era voltar a viver aquele amor. Agora, porém, consigo desejar viver outros amores, experimentar, renovar, acreditar que há ainda muito amor dentro e fora de mim que precisa circular, acontecer.
Mas superar no sentido de esquecer, de apagar, de deixar de sentir falta, doer? Hum, difícil. E era sobre isso que eu pensava, lembrando das palavras da minha interlocutora enquanto narrava o seu lento processo de recuperação pós-separação.
Confessar a impossibilidade de superação completa de um término, quase um ano e meio depois que ele aconteceu, não me parece algo patológico, problemático ou passível de pena. No fundo, a equação é simples. Não acredito que seja exagero nenhum afirmar que o fim de um amor equivale a uma morte. Especialmente quando unilateral, mas mesmo quando se acaba lentamente, aparentemente sem causar maiores danos, como era o caso de Sofia e Rimini.
Uma separação amigável, bem-resolvida, consensual. Mas ainda assim uma morte, com a qual cada um tentava lidar à sua maneira. Rimini estacionou na fase da negação. Pensava no passado como um bloco, assim era mais fácil simplesmente deixá-lo para trás. Separar as fotos do casal, dividir aquela história ao meio, desmembrar as duas vidas lhe era impossível. Sofia, por sua vez, não podia abrir mão de continuar fazendo parte da vida de Rimini, de lhe ser especial, de ter privilégios, de continuar usufruindo da intimidade e do prestígio que o amor lhe conferira. Como diz a contracapa do livro, ela é a enterrada viva na cova desse amor. Não é à toa que o editor da Trip recomendava fugir das leitoras de O Passado. Ele dói do começo ao fim, é a anatomia da incompetência humana em lidar com o luto do amor.
Voltando, portanto, à questão da superação. Se a separação equivale a uma morte, será que a palavra “superar” dá conta de exprimir a real possibilidade de deixar o passado repousar e prosseguir com a vida, apesar da perda? Alguém “supera” a morte de um pai, de uma mãe, de um filho?
Esbarrar em uma mensagem escrita cerca de um mês antes do fim: “Doce, como você está, meu amor? Está melhor? Te amo. Beijos, R.”. Como duvidar da presença, da realidade, da corporeidade, da legitimidade desse amor? Como “superar” essa perda?
A única diferença a nos redimir no luto amoroso é que, diferentemente de um pai, uma mãe, um irmão ou um filho, que são únicos e insubstituíveis, aos humanos foi concedida a inestimável capacidade de amar mais de um parceiro amoroso durante a vida. A quem se apropria verdadeiramente da sua capacidade de amor, muitas são as chances, as oportunidades e os encontros que a vida proporciona.
Donde se conclui, então, que se nos é impossível verdadeiramente nos desapegarmos do que vivemos e de quem amamos de maneira espontânea, a possibilidade de redenção perante a morte não reside em outra coisa senão em amar, seguir amando, mergulhar sem reservas no fluxo do amor até que o passado possa dar lugar ao novo, ao vibrante, ao possível, ao inesperado, enfim, à vida.
Aconteceu de mais de uma amiga que não me via há algum tempo perguntar, recentemente: e então, você superou o R.?
Que pergunta complexa. Que palavra abrangente, “superar”. Durante as férias, enquanto caminhava sozinha pela praia, ou nos longos banhos de mar durante o pôr-do-sol, invadida por um bem-estar e uma sensação de semi-plenitude, senti que finalmente estava pronta para deixar o passado para trás. Se até algum tempo me perguntassem o mais íntimo dos meus desejos, confessaria que era voltar a viver aquele amor. Agora, porém, consigo desejar viver outros amores, experimentar, renovar, acreditar que há ainda muito amor dentro e fora de mim que precisa circular, acontecer.
Mas superar no sentido de esquecer, de apagar, de deixar de sentir falta, doer? Hum, difícil. E era sobre isso que eu pensava, lembrando das palavras da minha interlocutora enquanto narrava o seu lento processo de recuperação pós-separação.
Confessar a impossibilidade de superação completa de um término, quase um ano e meio depois que ele aconteceu, não me parece algo patológico, problemático ou passível de pena. No fundo, a equação é simples. Não acredito que seja exagero nenhum afirmar que o fim de um amor equivale a uma morte. Especialmente quando unilateral, mas mesmo quando se acaba lentamente, aparentemente sem causar maiores danos, como era o caso de Sofia e Rimini.
Uma separação amigável, bem-resolvida, consensual. Mas ainda assim uma morte, com a qual cada um tentava lidar à sua maneira. Rimini estacionou na fase da negação. Pensava no passado como um bloco, assim era mais fácil simplesmente deixá-lo para trás. Separar as fotos do casal, dividir aquela história ao meio, desmembrar as duas vidas lhe era impossível. Sofia, por sua vez, não podia abrir mão de continuar fazendo parte da vida de Rimini, de lhe ser especial, de ter privilégios, de continuar usufruindo da intimidade e do prestígio que o amor lhe conferira. Como diz a contracapa do livro, ela é a enterrada viva na cova desse amor. Não é à toa que o editor da Trip recomendava fugir das leitoras de O Passado. Ele dói do começo ao fim, é a anatomia da incompetência humana em lidar com o luto do amor.
Voltando, portanto, à questão da superação. Se a separação equivale a uma morte, será que a palavra “superar” dá conta de exprimir a real possibilidade de deixar o passado repousar e prosseguir com a vida, apesar da perda? Alguém “supera” a morte de um pai, de uma mãe, de um filho?
Esbarrar em uma mensagem escrita cerca de um mês antes do fim: “Doce, como você está, meu amor? Está melhor? Te amo. Beijos, R.”. Como duvidar da presença, da realidade, da corporeidade, da legitimidade desse amor? Como “superar” essa perda?
A única diferença a nos redimir no luto amoroso é que, diferentemente de um pai, uma mãe, um irmão ou um filho, que são únicos e insubstituíveis, aos humanos foi concedida a inestimável capacidade de amar mais de um parceiro amoroso durante a vida. A quem se apropria verdadeiramente da sua capacidade de amor, muitas são as chances, as oportunidades e os encontros que a vida proporciona.
Donde se conclui, então, que se nos é impossível verdadeiramente nos desapegarmos do que vivemos e de quem amamos de maneira espontânea, a possibilidade de redenção perante a morte não reside em outra coisa senão em amar, seguir amando, mergulhar sem reservas no fluxo do amor até que o passado possa dar lugar ao novo, ao vibrante, ao possível, ao inesperado, enfim, à vida.
12 comentários:
Nossa, fiz um comentário gigante, então resolvi te mandar um email. Espero sua resposta.
Mas tenho um comentário a fazer aqui. No caso d'O Passado, acho que o Rimini também estava preso ao tempo passado, ele não podou em nenhum momento o comportamento da Sofia, pelo contrário, ele sustenta, dá trela.
Superar um fim de uma relação é sempre algo difícil, essa semelhança com a morte e perda foi uma abordagem muito boa. Gosto muito de como você escreve.
Tenho um desafio pra você lá no blog, divirta-se.
Beijos
Para variar, lindo, prima (:
Estou lendo o passado... e amando....
tão verdadeiro.....
quando eu terminar de ler dou uma opinião mais definida....
bjs
Re
Érica,
já mandei a sua resposta por e-mail. :) E o que disse lá repito aqui: concordo com você, negar o passado ou aferrar-se a ele de forma a não viver o presente são duas faces de uma mesma moeda. Escreva sempre que quiser, vai ser um prazer continuar essa conversa!
Wolverine,
que bom que você gosta do que lê aqui. Fico mais do que feliz. :)
Ainda estou estudando o desafio lançado...
Ei, prima, obrigada! E feliz aniversário! :)
Rê, minha confissão: esqueci o livro na praia! Só Freud explica, né? Ainda faltam algumas páginas para eu terminar...
Passei por uma separação triste e muito, muito dolorosa. Levei um tempão para me recuperar, e houve momentos em que eu pensei que jamais o sol brilharia na minha vida novamente.
Sobre isso, bem disse a Nicole Kidman, quando se separou do Tom Cruise:
"O divórcio é uma pequena morte. A morte dos seus sonhos, dos seus projetos, dos seus desejos. Não importa se é a melhor solução para o que se apresenta. Fica para sempre a sensação de fracasso, de perda, de impotência."
Cláudia,
é muito duro mesmo, não? Mas um aprendizado para toda a vida...
Que bom que você voltou a ficar bem.
gente, ler vcs me fez bem. estou me separando e sofrendo feito um camelo... mas as outras experiências nos dão força para seguir adiante. um beijo e muita luz a todos!
Tenho 28 anos e já fazem tres anos que passei por essa dor de "morte" que é uma separação. Hoje o desespero passou, mas ainda acho que sentirei por muito tempo essa angustia. Que onda é essa que pega a gente e nos arrasa? Eu tenho esperança em um futuro com alguém especial, mas esperar esse futuro tb é muito doloroso.
Espero que todas achem um caminho feliz para a felicidade novamente.
Um beijo
Excelente abordagem sobre esse triste luto que é o final de um amor. Sensibilidade sem pieguimos e muita perspicacia qdo da obervação da realidade. Parabéns!
Trata-se de um luto extramente específico, pq não é só o outro que tem de "morrer": precisamos morrer para nós mesmos. A dor reside em porque precisamos estar vivos. Morte em vida = fim de um amor
Engraçado como os anos passam e as histórias são iguais, mudando apenas os personagens.
Bom hoje eu sou uma nova personagem, minha separação foi e esta sendo marcada por brigas, agressões, mas q infelizmente existe amor, pq nos amamos, mais sei q as pessoas não mudam e com ele não será diferente.
Sabe qdo o amor fala, mas o coração e a mente diz q não dá certo, que os probelmas sempre vão aparecer e q poderão ser pior.
A dor é inevitavel, mas superar é o mais dificil.
DEsabafar é bom, mas nem sempre é o suficiente.
Realmente,as histórias são muito parecidas...Estou há 9 meses separada e tentando seguir em frente;mas,nem preciso confessar que não tá sendo fácil.Depois de 16 anos,ele me traiu com uma ex namorada e estão juntos...Não sei quando essa dor vai passar,e se é que vai passar.O que me salva é enfiar a cara no trabalho e não me dar tempo pra pensar na "criatura"-recomeçar aos 42 anos é muito dificil.Não acredito que possa me envolver com outra pessoa de novo...Ainda choro muito...Mas,vamos ver se passa.
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