sábado, 14 de julho de 2007

Um sábado na cidade

Parte 2 - Odisséia

A Cá me explica que o samba na Praça Roosevelt começa no início da tarde, mas diz para a gente chegar às cinco, porque senão vamos ter que pagar para ficar na rua (nota: boa parte do samba fica do lado de fora do bar, ao ar livre. Apenas uma espécie de cerca separa os “pagantes” dos transeuntes”. A Cá acha uma roubada pagar “dérreal” para ficar do lado de dentro da cerca, já que do lado de fora se ouve a mesmíssima coisa. Ela tem lá sua razão!). Convém também não chegar muito depois disso, pois o samba lá acaba cedo, lá pelas nove.

Pergunto se o caminho que ela vai fazer passa pela minha casa. Ela explica que vai direto pelo Centro, não passa perto daqui. Como faço para chegar à Praça Roosevelt? - pergunto. Ela me diz que é muito perto da minha casa e muito fácil de chegar de carro. Se eu sei onde fica o Espaço dos Satyrus? Sei sim, mas daí a saber chegar lá... se eu sei onde fica o Mackenzie na Consolação? Bem, teoricamente sim... mas na prática sei tanto quanto localizar as Ilhas Maldivas no Mapa Mundi (recentemente descobri que a minha incapacidade geográfica se manifesta em qualquer escala – da local à mundial).

Derrotada, pergunto se é possível chegar lá de metrô. Ela explica que a praça fica bem perto da estação República, mas adverte: é tão perto da minha casa que realmente vale a pena ir de carro! Explico para ela que, para pessoas que nasceram sem bússola interna (e não apenas para navegar na Selva dos Solteiros), o “muito perto” quase sempre vira um “muito longe”, somando-se as ruas perdidas, as referências não vistas, os retornos não encontrados e a total falta de senso de direção. Ela ainda insiste dizendo que já foi à Praça Roosevelt de ônibus mas se arrependeu. De carro se leva um terço do tempo! Ainda assim, confirmo que usar o transporte coletivo é mais garantido.

O metrô é a melhor invenção do mundo para pessoas que nasceram sem bússola interna. É quase uma mistura de xadrez e jogo de damas para crianças: você está aqui e quer chegar aqui. Pra que lados você pode andar, onde tem que mudar de sentido? Com quantos lances você consegue chegar até o seu destino? Pode levar três vezes mais tempo, mas é a garantia de que você vai chegar aonde quer chegar. Adoro o metrô.

Isto posto, nos despedimos, ela se comprometendo a mandar um torpedo para avisar o horário em que vai chegar lá.

Às seis da tarde saio da minha casa e caminho ao longo das três quadras que me separam da estação Vila Madalena. Às seis e vinte me acomodo no assento do metrô. Começo a traçar a minha rota conferindo o mapa das linhas do metrô. Só então me dou conta do tamanho da volta que estou dando: da Vila Madalena até o Paraíso são seis estações; do Paraíso à Sé mais quatro; da Sé à República mais duas. Nem sei ainda quanto tempo vou caminhar da República até a Praça Roosevelt. Até mesmo o mapa com as linhas do metrô me mostra que a República é do lado da minha casa, mas vou primeiro para baixo, depois para cima e depois para a esquerda para chegar até ela. Paciência: aproveito para olhar a paisagem e pensar sobre a vida.

2 comentários:

MH disse...

Metrô é legal, mas o Guia de Ruas 4 Rodas salva!
é tãããããããão pertinho...

Anônimo disse...

MH, MH...

você não tem noção de como funciona a cabeça de um ser sem bússola interna. É a capacidade de pegar todas as ruas que são contra-mão, ter que dar a volta no quarteirão e sem querer começar a andar na direção contrária... é não saber interpretar um viaduto em um mapa...

Tá certo, o 4 rodas já me ajudou várias vezes... mas eu sou o tipo de pessoa que quando dizem que um caminho "não tem erro!", eu encontro sete!

Beijoca!