Eu havia me esquecido o quanto uma soneca em uma viagem de ônibus pode clarear os pensamentos. Há que se observar a duração certa da viagem, é claro. Nos meus tempos de namoro à distância, quando voltava destruída para São Paulo sem saber quando encontraria meu namorado novamente, as seis horas que separam o Rio de São Paulo quase me aniquilavam. É verdade que o choro ia amansando, as lágrimas secas iam endurecendo as bochecas e aos poucos o sono amortecia um pouco a percepção das distâncias. Mas a cada despertar, a consciência de estar a meio caminho entre ele e a minha vida era igualmente dolorosa.
De São Paulo a Campinas se vai em uma hora e meia de ônibus. Sai um carro da rodoviária a cada vinte minutos; não há ansiedade na compra da passagem. Pegando o ônibus das 11h35, aproveito o interminável sono da manhã para chegar mais rápido. Nem abro a revista. É um sono pesado, de vez em quando perturbado pelo incômodo no pescoço que não se ajeita no encosto da poltrona, mas de cochilo em cochilo se vai ao longe. E o despertar após a primeira perda de consciência já me traz a cabeça clareada, as idéias renovadas.
Porque afinal não cheguei a te conhecer. Então me despeço não de você, mas de uma idéia de você. Essa dor que eu sinto não é por alguém real, por alguém que verdadeiramente me conheceu, me amou e não me quis mais. Eu já vivi essa dor e essa, sim, pode destruir uma pessoa. Mas não a dor de perder a idéia de alguém. Essa é dor passageira, incômoda, mas inofensiva. É uma decepção pela perda de um ideal, mas não de alguém de carne e osso.
E porque, afinal, você também não chegou a me conhecer. O que você recusa é uma idéia de mim, mas não eu. E se você não quis me conhecer, paciência. Sei que vai haver alguém que queira. Em algum lugar, em algum dia, mais cedo ou mais tarde.
E assim tudo fica mais fácil. Porque não dói tanto deixar partir a idéia de alguém, e nem dói tanto que alguém rejeite uma idéia sobre mim (mas não a minha essência).
Entre uma viagem e outra, um dia e uma noite na companhia da família. Tempo para conversas, boa comida, reencontros, carinha doce da Yasmin, filme gostoso com a prima, descanso. E na volta, outro sono restaurador, que me traz de volta para São Paulo mais perto do meu centro a duras penas conquistado.
O metrô de São Paulo não tem o mesmo glamour em uma segunda-feira de manhã. As pessoas parecem mais cansadas, resignadas. Mais sofridas, mal-ajambradas. Ainda assim, a vida continua, porque tem que continuar.
De São Paulo a Campinas se vai em uma hora e meia de ônibus. Sai um carro da rodoviária a cada vinte minutos; não há ansiedade na compra da passagem. Pegando o ônibus das 11h35, aproveito o interminável sono da manhã para chegar mais rápido. Nem abro a revista. É um sono pesado, de vez em quando perturbado pelo incômodo no pescoço que não se ajeita no encosto da poltrona, mas de cochilo em cochilo se vai ao longe. E o despertar após a primeira perda de consciência já me traz a cabeça clareada, as idéias renovadas.
Porque afinal não cheguei a te conhecer. Então me despeço não de você, mas de uma idéia de você. Essa dor que eu sinto não é por alguém real, por alguém que verdadeiramente me conheceu, me amou e não me quis mais. Eu já vivi essa dor e essa, sim, pode destruir uma pessoa. Mas não a dor de perder a idéia de alguém. Essa é dor passageira, incômoda, mas inofensiva. É uma decepção pela perda de um ideal, mas não de alguém de carne e osso.
E porque, afinal, você também não chegou a me conhecer. O que você recusa é uma idéia de mim, mas não eu. E se você não quis me conhecer, paciência. Sei que vai haver alguém que queira. Em algum lugar, em algum dia, mais cedo ou mais tarde.
E assim tudo fica mais fácil. Porque não dói tanto deixar partir a idéia de alguém, e nem dói tanto que alguém rejeite uma idéia sobre mim (mas não a minha essência).
Entre uma viagem e outra, um dia e uma noite na companhia da família. Tempo para conversas, boa comida, reencontros, carinha doce da Yasmin, filme gostoso com a prima, descanso. E na volta, outro sono restaurador, que me traz de volta para São Paulo mais perto do meu centro a duras penas conquistado.
O metrô de São Paulo não tem o mesmo glamour em uma segunda-feira de manhã. As pessoas parecem mais cansadas, resignadas. Mais sofridas, mal-ajambradas. Ainda assim, a vida continua, porque tem que continuar.
14 comentários:
Eu sempre arrumei meus casos por aqui mesmo. Chorar e dirigir é uma merda.
Bom dia! Nem vou entrar no mérito de ser esse texto uma prosa fictícia ou um relato pessoal (pareceu-me mais o segundo). Isso não vem ao caso. O importante é que o texto está muito bem escrito, dotado de impressionantes dramaticidade e poética urbanas. Adorei. Por enquanto, em face do tempo escasso, li apenas este de hoje. Mas vou linkar seu blog ao meu, para não perder de vista e poder vir aqui, ler mais vezes. Grande abraço!
eu adoro pensar no ônibus.
já perdi o ponto pq estava distraída nos meus pensamentos.
e adoro essa palavra, "devaneio".
melhoras cris!
beijão!
Amiga,
faz tempo que não pego um ônibus. (deve ser por isso que não tenho pensado com clareza sobre muitas coisas que andam acontecendo na minha vida) =p
O post ficou tão bonito. Um dos meus favitos até agora.
Beijo
Onibus é tristeza! LITERALMENTE!
Gasta,
sábia decisão, meu amigo... eu também tô vacinada (acho). Namorar à distância aos 18 anos é casca.
André L. Soares: bem-vindo! Quando você vier com mais tempo talvez leia um post em que eu confesso que sou como o Woody Allen: só consigo escrever sobre mim mesma. Fiquei feliz com os seus elogios. Obrigada e volte sempre.
Drika querida,
faz tempo que não pego ônibus, mas no carro eu também divago horrores. E também vivo perdendo o caminho por isso (e pela minha falta de bússola interna).
Meu dodói já tá melhorando... (o do pé e o do coração :)
Amiga,
acho que qualquer pausa é benéfica para assentar os pensamentos. Sei que pausa é uma palavra fora do seu dicionário de mãe, né?
Que bom que o post entrou para a lista dos seus favoritos. Foi escrito de forma totalmente despretensiosa... :)
Urbenauta: ônibus bom era aquele dos acampamentos ou viagens da escola. Zorra total! Muito dos meus talentos dramáticos foi desenvolvido nessas ocasiões... ;)
Amiga,
meu cérebro não tinha feito a ligação até agora (rs) ... o ônibus de ontem é o metrô de hoje. E nele, como divago. Acabei de deixar a Má no aeroporto e peguei 3 trens no total, tudo para evitar taxi e trânsito e enjôo.
Estela e eu compartilhamos momentos de bastante devaneio. =D
Beijos
Ai, acho que tb tô precisando pegar um onibus pra ter uma epifânia...
parabéns! o texto tá lindo!
Esse texto me fez reviver um momento em que eu tambem entrava em um onibus pra rever uma paixao... Apesar de 2horas nos separarem, nao era tao comum encontrarmo-nos... Uma série de motivos impediam...Enfim... Cochilos?!... Nem pensar... A ansiedade nunca permitiu. Talvez fosse melhor eu falar de coração acelerado...A volta... essa sim... trazia junto a saudade, o medo de demorar a refazer o percurso, o medo de nao fazer mais... Mas... como sabiamente lembrou: a vida continua, porque tem q continuar. A proposito... adorei seu blog, me identifiquei com muitas coisas. To de volta a solteirisse, apos 11 anos de parceria!
Amiga,
eu bem imagino os devaneios teus e da Estelinha no metrô... :))))
Glends,
uma boa pausa para uns bons insights. Obrigada pelo elogio!
Bia,
acho que na ida eu também me contorcia de ansiedade, mas na volta ficava meio anestesiada mesmo... ainda bem que já faz uns oito anos que não namoro ninguém à distância.
Putz, de volta à solteirice depois de ONZE anos??? Caraca... espero que seja para o melhor! :)
Ai Cri!
Que texto bonito, delicado.
Cheia de aberturas para inferências... Adorei.
Beijos!
Também chorei muito na Dutra... Depois, a grana melhorou e chorava na ponte aérea mesmo...
Mas chorar mesmo, só quando descobri que o que eu amava, como vc disse, não era ele... mas a idéia que eu quis fazer dele... Que eu quis....
Namoro à distância e choradeira na madrugad, é não! Mas, uma viagem de volta da casa de parentes ou amigos queridos tem o seu valor, e os pensamentos e sonhos da madrugada também...
Fanta,
que bom que você gostou! E bom saber que é cheio de abertura para inferências, porque eu fico achando que entreguei todo o jogo de bandeira...:)
Tati,
essa dor é pior ainda, né? Cabeça de mulher é lugar perigoso...
Fabiana,
é isso mesmo... e mesmo as viagens em plena manhã, aproveitando aquele sono interminável (o meu pelo menos é assim), ajudam a clarear as idéias... eu comprovei! :)
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