Conversando com uma amiga ao telefone, me dei conta de algo que vinha percebendo há alguns dias, mas a que ainda não havia conseguido dar forma.
Enquanto me contava como tem sido difícil chegar a um diagnóstico a respeito de um problema de saúde com o qual convive há anos, minha amiga comentou o quanto tem sentido que as coisas e as pessoas são previsíveis. Não apenas os médicos ou terapeutas – cujas falas monótonas ela quase consegue antecipar – mas até mesmo filmes, amigos, livros.
Então contei a ela que comigo tem acontecido exatamente o contrário. Seja por um motivo ou por outro, ou por uma conjunção de fatores, não me lembro de haver me sentido tão surpreendida e deslumbrada com a vida e as pessoas como agora.
Odeio drogas sobre todas as coisas, nunca pus um cigarro na boca e conto nos dedos das duas mãos as vezes em que bebi na vida (ainda estou devendo um post sobre minha relação com o álcool). Mas se tivesse o mau-gosto de querer relacionar o meu temperamento ao efeito de uma droga, diria que ele está muito mais próximo à viagem da maconha. Sempre fui tranqüila, calma, paciente, levemente melancólica e um pouco pendente para um comportamento depressivo. Sempre brinquei que, de todas as perebas psiquiátricas que eu poderia vir a ter, jamais me enquadraria num quadro de TOC e provavelmente de nenhum outro transtorno de ansiedade.
Ultimamente, no entanto, me sinto num momento “with or without you” (com a diferença de que, nesse caso, eu definitivamente poderia viver com isso para sempre). Isso, é claro, eu só diria se tivesse o mau-gosto de usar os efeitos das drogas como metáfora para alguma coisa. (O melhor de tudo é pensar que isso está acontecendo sob o mais genuíno efeito da caretice.) Fato é que o mundo nunca me pareceu tão colorido, sonoro, vibrante, excitante.
As pessoas, particularmente, me parecem fascinantes. Desejo conhecer a história de vida de cada uma delas. A cada dia me surpreendo encontrando afinidades com alguém, fazendo um novo amigo, redescobrindo um antigo. É uma incrível sensação de conexão com as pessoas.
Meus problemas com o trabalho – e até mesmo com a minha profissão – me parecem perfeitamente administráveis. Não tenho medo do futuro, nem me sinto ansiosa para que ele chegue rapidamente. Simplesmente vivo um dia de cada vez extraindo deles todas as pequenas alegrias que podem me proporcionar, e também as grandes lições.
Essa percepção é tão exacerbada que ouço minha mãe contando algo sobre o seu projeto de pesquisa e penso: “que mulher brilhante!”. Assisto à nona temporada de Friends e a cada risada penso: “que cena genial! Como alguém é capaz de escrever algo tão espirituoso?”. Minha analista me analisa como faz há anos e eu me pego matutando: “Bingo! Como é que ela consegue?” Minha cachorra aciona acidentalmente o alarme do meu carro para rastreamento via satélite e eu simplesmente penso: “Que danada! Ela é mesmo incrível...”.
Contando à minha analista sobre o meu episódio de insônia de sexta para sábado – e como isso reverteu em uma inacreditavelmente egotrípica entrevista ao Jô Soares –, tentei enumerar rapidamente alguns motivos que poderiam estar contribuindo para esse momento de euforia: criei um blog, fechei um novo apartamento para morar, estou gostando de um mocinho (platonicamente, e mesmo assim me sinto feliz)...
Realmente todas essas coisas têm me tirado o sono e demandado algumas horas diárias (e noturnas) de elucubração. Mas tendo a achar (e desejo acreditar) que é mais do que isso – embora nada disso seja pouco.
Quando fui terminada do meu último namoro, depois de algumas semanas mandei um e-mail a um amigo pedindo que me jogasse um botinho salva-vidas. Ele havia passado havia cerca de um ano por uma situação muito parecida (talvez um pouco pior), se separando de uma namorada com quem estivera junto por cinco anos e inclusive morado junto. Perguntei a ele, do fundo das minhas cobertas: “existe vida após o fim do namoro?”
A resposta me pareceu alentadora na época, mas só alguns meses depois fui realmente entender o significado daquelas palavras. Mais de uma vez tive de escrever a ele para dizer: “você não faz idéia de como tudo aquilo que me disse faz sentido... é EXATAMENTE isto”.
Seguem aqui os melhores momentos daquelas inspiradas mensagens:
“Existe sim, e como, e é uma vida melhor, sem dúvida.
O luto vai durar meses, infelizmente.
A tristeza e a saudade se diluem mas não vão embora.
Desculpe falar assim tão cruamente.Parece loucura o que vou dizer mas você ganhou uma oportunidade de se transformar.O momento que você está vivendo exije isso de você e você escolhe qual vai ser a transformação.
Eu senti muita raiva da pessoa que me disse isso na época e ri da cara dela.
Pode ficar com raiva mas a primeira frase do email é fato: existe vida e é muito melhor. A sua vida nova vai ser mais verdadeira, mais sua e mais próxima do que você sonha pra você.
Sem dúvida as minhas palavras soam abstratas e sem dúvida a sensação é de que as coisas fogem do controle. Senti muito isso.É muito difícil explicar por que a vida vai ser melhor mas você vai vivenciar isso, eu aposto.
É um tipo de experiência que forja o caráter, sabe?
Sabe aço temperado? Quando ele está incandescente o ferreiro põe na água gelada e ele fica mais resistente (que não significa duro).Acho importante você olhar muito pra você e para o que você quer pra você. Momento só ‘eu’.
Quando você se permitir sentir muita raiva (não sei se já é o caso) você vai ter um combustível precioso para realizar o que estiver desejando.”
Ao amigo, peço desculpas pela reprodução das suas palavras sem a prévia e devida autorização. Mas agradeço, mais uma vez, profundamente, pela sabedoria.
Felizmente ou não, nunca passei efetivamente pela parte de sentir “muita raiva”. Talvez eu simplesmente não tenha vindo ao mundo equipada para isso. Mas todo o resto está acontecendo e o que posso dizer é que é muito, muito bom.
Vejam como a vida é incrível. Eu gostei de levar um fora? Não. Superei totalmente o ex? Não. Deixei de sentir falta? Não. Deixei de amá-lo? Tendo a achar que não (e digo isso confessionalmente apenas para vocês – não contem a mim mesma). E, ainda assim...
Ah... A vida é bela!
Enquanto me contava como tem sido difícil chegar a um diagnóstico a respeito de um problema de saúde com o qual convive há anos, minha amiga comentou o quanto tem sentido que as coisas e as pessoas são previsíveis. Não apenas os médicos ou terapeutas – cujas falas monótonas ela quase consegue antecipar – mas até mesmo filmes, amigos, livros.
Então contei a ela que comigo tem acontecido exatamente o contrário. Seja por um motivo ou por outro, ou por uma conjunção de fatores, não me lembro de haver me sentido tão surpreendida e deslumbrada com a vida e as pessoas como agora.
Odeio drogas sobre todas as coisas, nunca pus um cigarro na boca e conto nos dedos das duas mãos as vezes em que bebi na vida (ainda estou devendo um post sobre minha relação com o álcool). Mas se tivesse o mau-gosto de querer relacionar o meu temperamento ao efeito de uma droga, diria que ele está muito mais próximo à viagem da maconha. Sempre fui tranqüila, calma, paciente, levemente melancólica e um pouco pendente para um comportamento depressivo. Sempre brinquei que, de todas as perebas psiquiátricas que eu poderia vir a ter, jamais me enquadraria num quadro de TOC e provavelmente de nenhum outro transtorno de ansiedade.
Ultimamente, no entanto, me sinto num momento “with or without you” (com a diferença de que, nesse caso, eu definitivamente poderia viver com isso para sempre). Isso, é claro, eu só diria se tivesse o mau-gosto de usar os efeitos das drogas como metáfora para alguma coisa. (O melhor de tudo é pensar que isso está acontecendo sob o mais genuíno efeito da caretice.) Fato é que o mundo nunca me pareceu tão colorido, sonoro, vibrante, excitante.
As pessoas, particularmente, me parecem fascinantes. Desejo conhecer a história de vida de cada uma delas. A cada dia me surpreendo encontrando afinidades com alguém, fazendo um novo amigo, redescobrindo um antigo. É uma incrível sensação de conexão com as pessoas.
Meus problemas com o trabalho – e até mesmo com a minha profissão – me parecem perfeitamente administráveis. Não tenho medo do futuro, nem me sinto ansiosa para que ele chegue rapidamente. Simplesmente vivo um dia de cada vez extraindo deles todas as pequenas alegrias que podem me proporcionar, e também as grandes lições.
Essa percepção é tão exacerbada que ouço minha mãe contando algo sobre o seu projeto de pesquisa e penso: “que mulher brilhante!”. Assisto à nona temporada de Friends e a cada risada penso: “que cena genial! Como alguém é capaz de escrever algo tão espirituoso?”. Minha analista me analisa como faz há anos e eu me pego matutando: “Bingo! Como é que ela consegue?” Minha cachorra aciona acidentalmente o alarme do meu carro para rastreamento via satélite e eu simplesmente penso: “Que danada! Ela é mesmo incrível...”.
Contando à minha analista sobre o meu episódio de insônia de sexta para sábado – e como isso reverteu em uma inacreditavelmente egotrípica entrevista ao Jô Soares –, tentei enumerar rapidamente alguns motivos que poderiam estar contribuindo para esse momento de euforia: criei um blog, fechei um novo apartamento para morar, estou gostando de um mocinho (platonicamente, e mesmo assim me sinto feliz)...
Realmente todas essas coisas têm me tirado o sono e demandado algumas horas diárias (e noturnas) de elucubração. Mas tendo a achar (e desejo acreditar) que é mais do que isso – embora nada disso seja pouco.
Quando fui terminada do meu último namoro, depois de algumas semanas mandei um e-mail a um amigo pedindo que me jogasse um botinho salva-vidas. Ele havia passado havia cerca de um ano por uma situação muito parecida (talvez um pouco pior), se separando de uma namorada com quem estivera junto por cinco anos e inclusive morado junto. Perguntei a ele, do fundo das minhas cobertas: “existe vida após o fim do namoro?”
A resposta me pareceu alentadora na época, mas só alguns meses depois fui realmente entender o significado daquelas palavras. Mais de uma vez tive de escrever a ele para dizer: “você não faz idéia de como tudo aquilo que me disse faz sentido... é EXATAMENTE isto”.
Seguem aqui os melhores momentos daquelas inspiradas mensagens:
“Existe sim, e como, e é uma vida melhor, sem dúvida.
O luto vai durar meses, infelizmente.
A tristeza e a saudade se diluem mas não vão embora.
Desculpe falar assim tão cruamente.Parece loucura o que vou dizer mas você ganhou uma oportunidade de se transformar.O momento que você está vivendo exije isso de você e você escolhe qual vai ser a transformação.
Eu senti muita raiva da pessoa que me disse isso na época e ri da cara dela.
Pode ficar com raiva mas a primeira frase do email é fato: existe vida e é muito melhor. A sua vida nova vai ser mais verdadeira, mais sua e mais próxima do que você sonha pra você.
Sem dúvida as minhas palavras soam abstratas e sem dúvida a sensação é de que as coisas fogem do controle. Senti muito isso.É muito difícil explicar por que a vida vai ser melhor mas você vai vivenciar isso, eu aposto.
É um tipo de experiência que forja o caráter, sabe?
Sabe aço temperado? Quando ele está incandescente o ferreiro põe na água gelada e ele fica mais resistente (que não significa duro).Acho importante você olhar muito pra você e para o que você quer pra você. Momento só ‘eu’.
Quando você se permitir sentir muita raiva (não sei se já é o caso) você vai ter um combustível precioso para realizar o que estiver desejando.”
Ao amigo, peço desculpas pela reprodução das suas palavras sem a prévia e devida autorização. Mas agradeço, mais uma vez, profundamente, pela sabedoria.
Felizmente ou não, nunca passei efetivamente pela parte de sentir “muita raiva”. Talvez eu simplesmente não tenha vindo ao mundo equipada para isso. Mas todo o resto está acontecendo e o que posso dizer é que é muito, muito bom.
Vejam como a vida é incrível. Eu gostei de levar um fora? Não. Superei totalmente o ex? Não. Deixei de sentir falta? Não. Deixei de amá-lo? Tendo a achar que não (e digo isso confessionalmente apenas para vocês – não contem a mim mesma). E, ainda assim...
Ah... A vida é bela!
7 comentários:
Olá!!
Estou passando por aqui para dar meus parabéns
pela sua indicação, ao prêmio blog 5 estrelas!
Seu blog é muito original, parabéns 2x!
rsrs..
boa semana.
=]
Deixa eu dizer, sem querer ser puxa-saco...
O seu blog é o máximo!
Se o mundo fosse mais povoado com mulheres como você e menos Brigets Jones, as coisas seriam mais fáceis e mais otimistas.
Seu amigo acertou na mosca, hein? raiva também não faz muito parte da minha natureza, mas as fases e o luto e a chance de se reinventar, ter uma vida mais "você" é real. E a vida pós-término fica mesmo muito, muito boa. Você se descobre e redescobre o mundo. E um dia supera tudo de vez!
beijo
Alter ego.
O texto é seu, mas eu me senti nele em cada palavra.
Ontem mesmo pensava no como nada me parece previsível, o quanto o cotidiano tem me surpreendido na sua totalidade. Uma percepção que sempre andou comigo e que me faz querer viver.
[OK, volta Isabella] Preciso pensar no jantar.
Bisou-tantan
Olá Elza,
obrigada! Tenho dúvidas quanto à originalidade, mas certamente o que não falta por aqui é autenticidade... boa semana pra você também!
Érica,
puxa, obrigada! Um elogio desses é melhor do que ser convidada para o Programa do Jô.
Acho que o segredo, em boa parte das coisas da vida, é a gente aprender a rir de si mesmo. Nesse ponto a Bridget Jones é uma especialista - e eu, confesso, sou fã dela, hihi!
MH,
que bom que de vez em quando a gente topa com uma figura inspirada que diz pra gente exatamente aquilo que precisamos ouvir (tem que estar aberto pra isso também, né?)...
Amiga,
que bom que você também está nessa. Os momentos de crise têm essa função: ajudam a gente a se reinventar.
Espero que as nossas recriações sejam ainda mais inspiradas. (e adoro as suas reflexões entremeadas por vigias do feijão, planejamento do jantar ou passeios com a Estela).
Bisou-froufrou!
é tudo, tudo isso mesmo que o seu amigo disse, exatinho, também passei pela mesma coisa e também acho que é tudo muito coerente.
E que a vida existe sim depois do fim do relacionamento e que pode ser bem melhor do que imaginávamos!
beijo
Claudia,
e não é? Sempre me admiro desses profetas do cotidiano... :)
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