domingo, 8 de julho de 2007

Conhecer alguém

Eu achei que a vida tinha me endurecido. No fundo eu sabia que não estava fechada para voltar a sentir amor, para viver um grande amor, para me atirar, mergulhar, afundar, chafurdar. Só que achei que isso seria muito mais difícil.

Na verdade, ainda pode ser que seja. Mas já caíram por terra as minhas dúvidas sobre a minha capacidade de voltar a me apaixonar ou, talvez em uma expressão mais precisa, me “pré-apaixonar”, viver aquele encantamento, aquela sensação de estar diante de alguém especial, alguém que viu algo em você que só você sabe que tem, e que ninguém mais viu, e de também ter visto algo que só você poderia ter visto.

Aquele papo todo de “sou mais eu”, “tô descolada”, “eu faço e aconteço”, “comigo não” e “abaixo as expectativas”? Pura balela. Era tudo uma questão de conhecer a pessoa certa. Até então, os zé-manés que eu havia encontrado por aí, e que tinham se dignado a me dar bola, não haviam conseguido chegar perto de realmente me tocar.

Mas bastou chegar a pessoa certa e “pluft!” – todas as barreiras foram abaixo. Noites sem dormir; investigações clandestinas no google; investigações anônimas no orkut; varredura do fotolog; fantasias sobre um futuro próximo, brilhante, apaixonado, feliz...

Tudo isso, vejam bem, com apenas algumas míseras horas passadas ao lado deste ser. Quantas palavras teríamos dito um ao outro? Não sou boa nesse tipo de cálculo, mas sei que falamos o suficiente. Falamos não apenas por palavras. Ele veio como uma onda que simplesmente me carregou, me pegou inteira de uma força só, do pé à cabeça, e me carregou com toda a força. Me descabelou. E eu amei.

O problema é que, nos dias seguintes, como de praxe, aguarda-se o parecer do imponderável (créditos devidos a Marina T., amiga querida). Explico. A lógica da atração entre duas pessoas não segue qualquer outro tipo de lógica que se encontre na natureza. É uma ciência inexata, assimétrica e quase sempre cruel. Você pode ter sentido todo o seu corpo tremer, de uma ponta a outra; pode ter imaginado como seriam os seus filhos; pode ter vibrado com cada bobagem que o outro disse, sonhado em ouvi-las para o resto da vida. Às vezes, para o outro, você foi apenas uma boa companhia para uma noite.

E simplesmente não há como prever a reciprocidade. E isso gera, da parte de quem se pré-apaixona, a maior ansiedade do mundo. Aos poucos a foto do casal e de seus filhos vai ficando menos nítida, borrada, manchada, até se partir em mil pedacinhos, assim como o “coração de quem sonhou, sonhou demais”. Cada dia que passa, a esperança morre um pouco.

E então vem a fúria do pensamento cartesiano, aquele que quer a lógica em tudo, que quer preencher as lacunas, que quer fazer sentido. Mas por quê? Mas e a maneira como ele me segurava, me cheirava, pegava na minha cintura? E as risadas que deu dos meus comentários espirituosos? E a maneira como nossos narizes se encostavam, lentamente e com carinho, antes do próximo beijo sôfrego? E a tranqüilidade que senti nos braços dele, na companhia dele, na cama dele?

Eis o parecer do imponderável: não foi dessa vez. E não queira entender por quê. Simplesmente não aconteceu. Diga adeus ao futuro glorioso, junte os pedaços do seu coração, respire fundo e toque a sua vida, porque ainda há de vir aquele que vai olhar para você e efetivamente ver o seu tesouro escondido, aquele que você guardou só para ele e para mais ninguém.

20 comentários:

Isabella Kantek disse...

É amiga ... "Às vezes, para o outro, você foi apenas uma boa companhia para uma noite."
Essa é a mais pura verdade (pelo menos para mim) e muitas vezes levamos tempo para aceitá-la.

Agora pensando mais para frente, eu diria que é um eterno conhecer. Porque a vida é esse processo louco e nós não nascemos prontos.
Ah, o que a Carol não ia achar desse meu comment cheio de clichês? =D

Beijo querida!

P.S.: acredita que ontem procurei por algum blog do tipo mulher-casada? (rss) Fiquei carente de escutar o outro lado, a vida adiante e "as tar das experiença, ara sô"

Anônimo disse...

Mulher, estou apaixonada pelo seu blog! É realmente prolixo, quanta escrita em tão poucos dias! Estou lendo desde sexta... rs. Não é uma crítica, estou adorando! É muito bem escrito. Acho que pode virar um livro. Exercício auto-erótico, era esse o termo? enfim, adorei. Dei muita risada com o post "Eu tentei". Estou me perguntando quem é o cavalheiro de fina estampa, eu não me lembro, vou pedir detalhes depois para ver se acesso... Ah, e essa história das correspondências... é uma loucura. Se eu senti tanto como vc não sentiu? Pois é. Às vezes é tão difícil aceitar. Parece até que a gente precisa mostrar pro pessôo que a gente tem tuuuuuudo a ver, que fomos feitos um pro outro, sei lá, parece até que ele precisa de ajuda por não enxergar "a realidade"... rs. Mas às vezes estamos na situação oposta, tem alguém apaixonado por nós e a gente se pergunta: mas que raios, o que esse cara quer? Pois é, não é brinquedo não.
Sou sua admiradora.
Bjs querida.

Anônimo disse...

Amiga Isa,
você realmente está alguns passos à minha frente no "jogo da vida", pelo menos na "catiguria" relacionamentos amorosos e filhos. Acredito em você, deve ser mesmo um eterno conhecer... e às vezes não reconhecer também, né?

Bom, quer dizer que o Mundo está aguardando o início do blog "Mulher Casada"? Sei... alguém se habilita, amiga? ;)

Quanto aos clichês, não se preocupe com a Carol... ela provavelmente vai achar o post muito grande e não vai chegar nem nos comentários... HAHAHAHAHHA! ;)

Silenciosa,
UAU! Que codinome mais sedutor... só reconheci você pelos sapatinhos. Bem-vinda!!!
Depois eu te conto, sim, do Cavallero de Fina Estampa. Você vai dar risada SE conseguir lembrar dele. As nossas paixões adolescentes às vezes são um tanto quanto inusitadas.
O seu comentário me fez lembrar que eu esqueci de escrever uma parte desse texto que falaria exatamente sobre a situação inversa: quando algum pessôo fica pegando no nosso pé. Eu ia comentar o quanto esses interesses não-correspondidos afetam o nosso ego, pois quando o interessado somos nós, queremos sacodir o pessôo e dizer: "você não vê que temos TUDO em comum???"; já quando somos nós os perseguidos, só pensamos: "meu, esse cara não se enxerga??? ele realmente acha que eu me interessaria por ele???"

Que horror... hihihihih!!!

Beijos, volte sempre!

Isabella Kantek disse...

Sabe quando você escreve uma coisa pensando em outra? Pois é, eu queria ter falado do não reconhecer!
Ah, só você amiga Cris!

Mas eu ainda não me habilito ao mulher-casada... no momento a preguiça e o medo reinam. ;)

Anônimo disse...

Amiga,

tá vendo? Seu coração fala diretamente ao meu! ;)

Quanto ao "Mulher Casada"... tudo a seu tempo! Felizmente o mundo já pode contar com o Desmemorium (www.isabellakantek.blogspot.com)

Beijão e já respondi seu e-mail! ;)

Marko Concá disse...

Há algum tempo atrás cheguei a pensar em monastério,logo que iniciei minhas práticas meditativas,mas logo voltei atrás e tratei de acertar a barba,limpar as lentes dos meus óculos e investir em saídas noturnas-flex(quero dizer que vale álcool ou thc).
O problema é que o fígado não aguenta uma sequência de buscas seguidas num período de extrema carência e ansiedade desse tipo.
O negócio é inspirar e botar pra fora todos os medos pra não virar câncer.Usar a criatividade de qualquer maneira: cantando,dançando,plantando bananeira ou o que lhe ocorrer.
O processo é longo,mas a vida é agora.A superação faz parte dessa doidera que buscamos dentro e fora de nós mesmos.
faz sentido pra alguém o que digo?
fazer o q?
marko concá.

Anônimo disse...

Mestre dos Markos,

será que o que você disse faz sentido para alguém??? :)))

E por que não citar também a grande contribuição dos amigos nesse processo de busca, seja em conversas no portão de casa, companhia para os programas flex, grupos de canto criativo...

Aliás, à sua frase "usar a criatividade de qualquer maneira: cantando, dançando, plantando bananeira [...]" eu acrescentaria: escrevendo blogs...

Tamos na luta, meu irmão!

Adorei a sua visita.

Um beijão,

Cris.

MH disse...

Ei Cris,
tá bem em traduzir em palavras (muitas) o que nós todas sentimos, tememos e vibramos (muito e frequentemente) na busca por esse cara especial... me vi na descrição, nos sentimentos, na dúvida, até na busca por explicações lógicas do inexplicável...
só nunca tinha conseguido organizar e exprimir assim, tão bem, os pensamentos!
adorando!

café?
beijos

MH disse...

by the way, te linkei, mas tbem me empolguei e escrevi um mini-post pra te indicar... porque estou mesmo adorando isso aqui!

Isabella Kantek disse...

Obrigada, amiga Cris! E fala sim!
Valeu pela propaganda, não precisava.

Adorei o comentário do Marko, fez muito sentido para mim. Eu sei bem o que é isso "O negócio é inspirar e botar pra fora todos os medos pra não virar câncer".

Beijos! Esse blog hein Cris, sua danada!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
30 anos 200 palavras por minuto disse...

Continuo adorando o blog.
E estou com toda paciência para ler cada linhazinha...Hehe

Isa (posso usar aqui para mandar recadinhos amiga fanta? já usei), pode deixar que depois que acabarem minhas peripécias como "noiva", juro que faço o da mulher casada. rs... Embora vc tem bem mais experiência do que eu nesse quesito não?

E adorei a frase a la minha vó: "ainda há de vir aquele que vai olhar para você e efetivamente ver o seu tesouro escondido, aquele que você guardou só para ele e para mais ninguém."

Ai, adoro românticos sem um pingo de culpa.

Aliás, essa de tesouro escondido me lembrou a laranja lima... Rs...

Beijocas!

Anônimo disse...

Amiga Fanta,

que bom que você tem paciência para ler todas as minhas linhazinhas! :)

Fique à vontade para dialogar com os demais leitores, a casa é vossa! (tô falando que eu tô com mania de grandeza, hehehehehe)

Quanto à frase a la sua avó, eu acho meio pedante ficar deslindando os mecanismos de construção poética, mas vamos lá: você reparou que esse final encerra uma certa ironia? Afinal, se a cada mocinho que aparece você acha que é o homem da sua vida, o tal "tesouro que você guardou só pra ele" é uma tremenda balela... ele é que foi o único que se dignou a reivindicar o seu tesouro, hahahahahaha!!!

Laranja lima rules! E realmente, sou romântica sem medo de ser feliz!!!

Beijão! ;)

Isabella Kantek disse...

Cris, eu estou começando a ficar com vergonha... não divulga não. O meu lado bicho do mato não sabe lidar com essas coisas. E depois vai parecer que fico mendigando leitores, além do pai da minha mãe e de você. Hahahahahaha.

O seu blog está virando multitarefas, amiga! (rs)
Rafa, quer fazer o mulher casada comigo? Eu como co-autora, o que acha? =p

Cris de novo. Amiga, não te conto que ando tendo sonhos de adolescente depois que passei a ler o mulher-solteira. (rss)
Sonho que estou namorando o Antonio... =)))
Altas revelações!

Beijos!

Mulher Solteira disse...

Amiga Isa,

seu desejo é uma ordem. Mas, quando estiver a fim de divulgação, é só falar... você sabe que não estou dizendo da boca pra fora. Amo o que você escreve. :)

E simplesmente A-DO-REI saber que o Mulher Solteira está evocando sonhos e lembranças dos seus tempos de namoro com o Antonio... essa é quente, hein?

Gente, testado e comprovado: Mulher Solteira pode ajudar a recuperar aquele temperinho que você queria no seu casamento! Experimentem! ;)

Hahahahahahahaha! Beijão!

Ana Téjo disse...

Comentário de (ex) mulher casada, atualmente envolvida até o pescoço no tal "relacionamento longo": nõa é fácil, minha querida. Ainda mais depois que você passa dez ou onze anos casada, tem filhos... é uma doideira voltar "ao mercado". Não sei. Acho que sou "mulher casada" por temperamento. Afff!

Anônimo disse...

Ana,

pois é... eu nem cheguei a tanto, mas foi difícil mesmo assim. As minhas "filhas" são duas cachorras (uma delas eu comprei junto com o ex, morava na casa dele, mas depois que o namoro terminou ele "não pôde" ficar com ela e eu assumi a bichinha) e com as vacinas, banhos, doenças, remédios, comida, passeios, brinquedos, carinhos, escovações, afff!!! Passei a dar muito mais valor às mães solteiras e separadas!

Em tempo: a segunda bichinha veio para fazer companhia pra primeira... eu, que tenho alma de mulher casada, não ia deixar a pobrezinha sem um(a) companheirinho(a), né?

Mulher Solteira disse...

Ei, MH!

Folgo em saber que as minhas supostas maluquices encontram ressonância em outras mulheres... às vezes eu acho que sou a única criatura louca capaz de me pré-apaixonar em quatro horas! :)

Quanto ao comentário no seu post, estou absolutamente lisonjeada com a sua tietagem! E assim que eu der um passo em direção ao nível intermediário de blogueira (porque eu sou uma usuária absolutamente mirim) também vou linkar os meus blogs queridos.

Me manda o seu telefone por e-mail pra gente combinar esse café. Beijão!

Amiga Kantek,

não precisa agradecer pela propaganda! Eu faço questão de convidar a todos para conhecer o blog da minha querida amiga Isabella Kantek, o Desmemorium, no endereço www.isabellakantek.blogspot.com (hehehehehehe já tô me achando A famosa, né, pra ditar tendências no meu blog). Textos profundos, sensíveis e de altíssimo teor literário!

Eu também adorei o comentário do Marko e sabia que ele teria importantes contrbuições a fazer com a "visão masculina" sobre a vida dos solteiros.

Hahahahaha, Danada é ocê, sua danada! ;)

Beijoca.

Fabiana Gatti de Menezes disse...

Adorei esse texto! Simplesmente FANTÁSTICO!!!
Têm situações que vivemos que realmente parecem ser as derradeiras, e ficamos justamente nos questionando o por quê de tudo, coisas que simplesmente não têm uma explicação...Queremos respostas para essa angústia que é "encontrar o alguém"..Mas, tbém, sinceramente, esse papo de "o que vc aprendeu com essa situação?"...Ninguém merece isso,né? Porque não aceitamos que simplesmente existem pessoas que "não querem saber de nada" e pessoas que "querem estar com vc de verdade". Ainda não encontrei essa segunda opção..rs..
Abraços a todos!

Anônimo disse...

Olá 'mulher solteira'! Realmente essa nossa vida de solteira, apesar de alguns bons momentos, cansa nossa beleza! No meu caso, estou novamente solteira desde que me divorciei (há cerca de 5 anos). Menina do céu, me casei muito cedo e por ser muito ingênua, pensei que essa tarefa de encontrar o homem 'certo', fosse a coisa mais simples do mundo... Ledo engano!rs
Muitas vezes, somos nós que não nos imaginamos passando a vida inteira ouvindo a voz, o cheiro do moço ou qualquer outra coisa. Parece que, com o passar dos anos, por ironia do destino, ficamos mais carentes, mas também, mais exigentes.
Amiga, encontrei seu blog por acaso e foi amor à primeira vista... Parabéns pelas ótimas sacadas e pela autenticidade!
By Silvana Bagatin