domingo, 22 de julho de 2007

Sinal do meu amor e da minha fidelidade

Eu não sei se é um mero caso de controle de estímulos (a versão comportamental para o bom e velho ditado que ensina que “quando se tem um martelo na mão, qualquer coisa vira prego” – cerrrto, Manélson?), mas nunca vi tanta “xente xófen” usando aliança como nos últimos tempos. Alianças douradas, prateadas, na mão direita, na mão esquerda, anéis de compromisso ou mesmo a boa e velha aliança de casamento.

Já cheguei a pensar se o fenômeno não está saltando aos meus olhos, além das razões óbvias, pelo fato de as pessoas que hoje eu vejo como “xente xófen” corresponderem àquelas que, há dez ou quinze anos, eu considerava “xente grande”, e que usavam alianças sem que isso chamasse minha atenção.

Mas tendo a achar que não. Realmente me parece que há um fenômeno de retorno às tradições, aos rituais, aos símbolos, a uma tentativa de resgate de um formato de relacionamento mais “careta” (no bom sentido).

Eu não tenho uma opinião formada sobre alianças. Não faria questão de usar se o meu parceiro amoroso não estivesse a fim; não me importaria de usar se isso fosse importante para ele. Dentre as minhas várias amigas casadas e comprometidas, também não há consenso. Há aquelas casadas de papel passado e que não usam aliança; as juntadas que usam; as que namoram há milianos e não têm anel de compromisso; as que têm um namoro relativamente jovem e aderiram ao adereço; e todas as combinações possíveis das alternativas apresentadas até então (preguiça de esgotar a análise combinatória). Entre as que não usam, rola desde um discurso feminista pós-moderno de que “aliança é brega” ou “isso é coisa de gente insegura, não significa nada” até aquelas que confessam, sorrateiramente, que não conseguiram convencer o namorado / marido a aderir à causa. Entre as que usam, há aquelas que assumem corajosamente que tomaram a iniciativa junto ao namorado / marido e que gostam do símbolo, e aquelas que aceitaram usar para agradar ao parceiro, mais romântico do que as próprias.

Perceber tanta gente usando alianças e anéis de compromisso à minha volta às vezes me dá uma sensação triste (e absolutamente irracional) de ter perdido o bonde da História. É como se todo mundo tivesse chegado em um ponto da vida em que encontrou a sua cara-metade e eu sobrei com a vassoura no fim do bailinho. Pior, tiraram o meu par e me deixaram com a vassoura no minuto em que tocava a última música e as luzes da festa começavam a ser acesas. É bom, em momentos de irracionalidade explícita como esses, ouvir de uma pessoa em sã consciência como a MH que “o amor pode acontecer a qualquer hora, não tem idade”. É lógico que o relógio biológico das mulheres tem um despertador que começa a tocar quando vai se aproximando do final da terceira década, mas a vida é tão imprevisível e os caminhos para ser feliz são tão diversos e por vezes tão surpreendentes que não há real motivo para cortar os pulsos ouvindo um tango argentino.

Mas eu, particularmente, peguei um certo trauma de aliança de compromisso no meu passado recente. Depois de levar um pé do meu namorado de quatro anos (sem piadinhas de duplo sentido, por favor) que simplesmente morria de medo de compromisso, me enrolou durante meses antes de me assumir como namorada, que vivia imerso em dúvidas existenciais sobre realmente levar adiante um namoro sério ou ir viver outras experiências, descubro, depois de três meses, que ele terminou comigo porque estava prestes a engatar um relacionamento com uma outra mulher (e não teve coragem de me contar). Vou até a casa dele para uma conversa terminal, os últimos acertos e pingos nos iis. Ouço coisas que definitivamente não me fazem bem, desde aquelas que trazem um alívio momentâneo para o seu coração estraçalhado, mas só te amarram mais ainda a um passado que você precisa enterrar, até outras que não te espantam num primeiro momento porque você está amortecida pela dor, mas depois te fazem duvidar de que você realmente conhecesse aquele ser com quem dividiu tantos e tão importantes momentos da sua vida. Na hora de ir embora, já na porta do elevador, me dou conta de que desde o começo da conversa há um anel no “seu vizinho” da mão esquerda que não pára de me encarar. Percebo que de alguma forma isso me incomodou por não ter nenhuma lembrança de anéis nos dedos do ex durante os quatro anos de convivência (só alguns enferrujados na gaveta, de onde nunca saíram). Ainda entre surpresa e já levemente ofendida, crio coragem e pergunto:

- Isso aí na sua mão... é um anel de compromisso?

A resposta vem no rosto e depois nas palavras titubeadas:

- ... (longa pausa)... Desculpa, Trita...

Caraca. Em um mês e meio de namoro a menina conseguiu o que eu não tive em quatro anos. Não estou falando da aliança em si, que nunca foi pauta de conversa (até porque, com a fobia do ex a respeito de compromisso, não convinha colocar pressão desnecessariamente), mas do gesto de assumir, perante o universo, um compromisso com alguém.

Voltei pra casa levemente catatônica e vivi insone a pior noite da minha vida. Com todas as coisas tão duras e difíceis que eu havia ouvido e vivido mais cedo, a única que não saía da minha cabeça, que me martelava minuto-a-minuto numa repetição interminável, era a maldita aliança de compromisso no dedo anelar da mão esquerda. Ainda por cima na mão esquerda, meu Deus! Ninguém explicou pra esse casal que a mão esquerda só recebe aliança depois do casamento???

A explicação para a mudança drástica de cenário em tão pouco tempo não me compete, nem me diz respeito e muito menos me faz bem. Assim, depois de alguns dias ou semanas de pensamento obsessivo sobre o assunto, consegui finalmente abandonar o grande dilema da aliança de compromisso.

Mas desde então, confesso, me tornei mais sensível a esse objeto, o que talvez explique o “martelo” na minha mão e o “prego” na mão dos outros. E tendo vivido com tanta freqüência a situação de me interessar por um homem e, dois segundos depois, escorregar os olhos para a mão do moço e dar de cara com a tal aliança, comecei a refletir um pouco sobre o tal significado do significante.

Nos casamentos tradicionais o padre diz e os noivos repetem: “Fulano(a), receba esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade”. É certo que aliança no dedo não garante nem amor nem fidelidade para ninguém, a menos que as pessoas efetivamente se decidam a utilizar esse símbolo porque ele é uma extensão daquilo em que acreditam e que pretendem praticar ao longo da vida.

Porém, hoje em dia me parece que a aliança é mesmo um símbolo com uma função mais “externa” à relação do que interna. É como uma espécie de sinal de alerta: “atenção, não ultrapasse”. E quer saber? Acho que tem a sua utilidade. Apesar da sensação assustadora de que todos os homens interessantes do mundo estão comprometidos ou são gays, uma aliança evita um gasto inútil de esforços, permitindo que você faça nova varredura do ambiente em busca de outro alvo mais promissor, ou mesmo te impedindo de entrar em uma bela roubada, já que alguns homens comprometidos “se esquecem” de mencionar isso quando conhecem uma mulher, e depois são capazes de simular um cafajeste espanto com a sua ira, já que você não se deu ao trabalho de perguntar a ele o seu estado civil antes dele tomar a iniciativa de te beijar. Eu, pelo menos, não tenho a menor vocação para ser “a outra” de ninguém.

É. Com uma saturação tão grande no mercado dos solteiros e uma demanda aparentemente muito maior do que a oferta, acho que o negócio vai ser voltar esperanças e energias para outro segmento do setor (pelamor, sem querer jogar ziquizira em ninguém): os homens separados.

11 comentários:

MH disse...

quando comecei a namorar de novo, não um moleque mas um homem de 34 anos, ouvi uma pergunta "engraçada" do meu amigo/professor/guru profissional... "e como ele chegou aos 34?" (querendo dizer: solteiro, divorciado, saído de relacionamento longo, moleque...)

E fiquei pensando... chegamos numa época da vida em que os homens alguns míseros aninhos mais velhos tendem a ter mais bagagem do que os homens do nosso passado (se terminamos um namoro de 3, 4 anos, quando estávamos solteiras da última vez eles tbem eram mais novos, não?). Alguns são mesmo gays, ou casados, mas realmente se abre um leque de possibilidades entre os separados. Com ou sem filhos. Novas experiências.
Ah, o meu saiu de relacionamento longo, mas sem ter casado, sem filhos, e sem complicações excessivas, graças a deus.

Quanto as alianças, ando aqui pensando... quem sabe rende um post... mas sempre achei rituais e símbolos importantes!

sodade, mulher! Café na chuva?
beijo

Gastón disse...

Bom Cris, eu tenho lá meu respeito pelas tradições e símbolos. Eu gostaria que minha mulher portasse uma aliança. E gostaria de usar uma também. Eu que já coloquei uma aliança na mão (direita) de alguém e arremeti do vôo poucos meses depois, entendi mais ainda o seu significado. Receber uma aliança de volta é foda.

Anônimo disse...

Meus queridos e fiéis comentáristas:

MH, gostei muito do que você escreveu. Eu também já fiz esse raciocínio... o meu ex tinha 25 quando começamos a namorar. Esses anos fazem uma diferença, não?

Que venham os homens de 34, hehehehehehhe (de onde estiverem escondidos)

Já já o café vai rolar... meu pé tá quaaase bom!

Gastón,

adorei o seu depoimento de homem romântico. Também respeito tradições e símbolos, desde que elas efetivamente façam sentido para quem decide segui-las, e não sejam abraçadas com automatismo ou comodismo.

E imagino também como deve ser foda receber uma aliança de volta... devolver também não deve ser nada fácil... cruzes...

Beijos pros dois!

Isabella Kantek disse...

Assim como o Gastón, eu também respeito as tradições e os símbolos (e também os significantes e os significados). ;)

Eu sempre soube que o Antonio não usaria aliança. "OK", pensei, já que estava vivendo um momento de transgressão, de ser do contra. É claro que no fundo pensava nos outros, nos meus pais. Nos "e se"... eu era muito nova, lembra?

Com o tempo acolhemos os desejos dos nossos pais, abrindo mão da nossa vontade inicial de um amor sem amarras sociais e nos casamos no civil e religioso com alianças que praticamente nunca foram usadas. Eu tentei, mas sempre a deixava no chuveiro de casa ou da casa de algum parente. Eu nunca fui de usar anel, os que tenho estão todos guardados.

Acredito que o mais importante é procurar fazer aquilo que te traz felicidade, que esteja de acordo com as suas crenças e valores, como você bem disse. O mundo agradece.

Drika disse...

olá!
eu usei uma de noivado q não deu certo qdo tinha 19 anos, e prometi usar somente qdo eu tivesse certeza absoluta de q o futuro seria o altar.
meu ex sofreu com essa minha decisão, o q no fim das contas colaborou p o término. sei lá. continuo com o mesmo pensamento.

qto a sua procura, acho q vc deve relaxar mais e procurar menos. curtir a solterice, se descobrir.
qdo vc se casa consigo mesma, pode reconhecer seu erros e melhorá-los.
beijão, boa semana!

Anônimo disse...

Cris, vc sabe, eu uso e o Fábio não. Na minha família, coincidentemente, as mulheres usam e seus respectivos não. Por mim, tudo "ok". Eu que queria usar mesmo.
O Fábio usa a dele no chaveiro e diz que não sabe sair de casa sem a aliança dele... no chaveiro! E leva isso a sério!!!
Confesso que no início eu achei estranho. Mas, me acostumei e hj acho engraçado.
No fim da gravidez, tive que tirar a aliança pq estava inchada demais. Foi bom ficar sem. Se bem que a barriga acabava com qqr possibilidade de me passar por solteira. Pior! Corria o risco de passar por mãe solteira!! hahahhaha
Um mês após o parto, me lembrei que estava sem ela e senti uma saudadezinha. Fui lá na gaveta e resgatei minha aliança. Me senti feliz de novo, como se começasse a usá-la naquele dia pela primeira vez.
Bjs

Anônimo disse...

Oi Drika,

você voltou! Que bom :)

Olha, com esse papo de Mulher Solteira pra lá e pra cá pode parecer que eu tô desesperada mesmo... mas não tô :)

Nos últimos meses eu curti, sim, muito a minha solterice e tenho muita história boa pra contar. Daqui a pouco vou publicar uns posts menos filosóficos para contar algumas das minhas aventuras...

Beijão!

Anônimo disse...

Mãe do Gabriel,

achei o seu comentário a coisa mais linda...

Sabe que eu te citei no post como uma das amigas que "usam aliança por iniciativa do marido, mais romântico do que as próprias"? Gozado, eu sempre achei que a iniciativa da aliança tinha sido do Fábio porque você sempre disse que ele era muito mais romântico do que você.

Gostei de saber dessa sua faceta "mulherzinha"... afinal, de médico, louco, macho e mulherzinha todo mundo tem um pouco, né?

Beijão...

Anônimo disse...

Amiga Kanteka,

também acho que é bacana recorrer às tradições, rituais e símbolos, desde que, como disse ao Gastón, eles façam sentido para você...

É bonita a história de você e do Antonio querendo de alguma forma trazer felicidade para os seus pais, embora tendo, no coração de vocês, as suas próprias crenças...

Eu não sei se conseguiria fazer o mesmo, mas admiro o desprendimento.

São tantos os caminhos que levam à felicidade, não?

Beijo, amiga...

Nana disse...

Recentemente encontrei um desses que se esquecem de mencionar que são comprometidos. Até escrevi um post sobre ele: http://naoautorizada.blogspot.com/2007/05/respirao-boca-boca.html

Anônimo disse...

Oi Nana!

Fui no blog e conferi o post... mas o que me impressionou mesmo foi a mulherada dando força pra você continuar saindo com o bofe! Nessas horas eu me sinto um ET.

O seu comprometido foi tão insistente quanto o meu, mas quando eu perguntei (por e-mail) se ele tinha namorada, ele respondeu que sim e não ofereceu nenhuma informação adicional.

E como eu já havia me aborrecido com ele por outros motivos, lavei a égua de uma vez. Aí o moçoilo respondeu: "não entendi por que você ficou tão incomodada de saber que eu tenho namorada, já que não me perguntou nada quando nos conhecemos..."

Pelamor, né?